Economia
Fed sobe juros dos EUA em 0,75 pontos percentuais, maior aumento desde 1994
Reajuste acima do que havia sido sinalizado pelo Fed na reunião anterior mostra que será intensificada apolítica monetária para combate à inflação americana.
G1
15 de Junho de 2022 - 15:54
O Federal Reserve, Banco Central dos Estados Unidos, subiu os juros do país para faixa de 1,5% a 1,75% – uma alta de 0,75 pontos percentuais desde a última decisão de juros, em maio. É o maior aumento de taxa desde 1994.
O reajuste acima do que havia sido sinalizado pelo Fed na reunião anterior mostra que será intensificada a política monetária para combate à inflação americana. Em maio, o índice de preços ao consumidor dos EUA voltou a pressionar e atingiu 8,6% no acumulado em 12 meses – a maior taxa desde dezembro de 1981 (quando ficou em 8,9%),
A inflação dos EUA também foi impulsionada no mês passado por preços mais altos para outros bens, como alimentos, que aumentaram na sequência da guerra na Ucrânia. A política de Covid-19 zero da China, que afetou as cadeias de abastecimento, também deve manter os preços pressionados para cima.
O Fed reconheceu que a atividade econômica americana voltou a se aquecer depois de uma queda no primeiro trimestre do ano. Além disso, o desemprego segue em níveis muito baixos e a inflação pressionada pelos desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia, junto com a demanda forte por energia. (leia a íntegra da carta no fim da reportagem)
"O Comitê busca alcançar o máximo de emprego e inflação à taxa de 2% no longo prazo. Em apoio a essas metas, o Comitê decidiu aumentar a faixa-alvo para a taxa dos fundos federais para 1,5% a 1,75% e prevê que os aumentos contínuos na faixa-alvo serão apropriados", diz o Fed.
O ritmo mais acelerado da subida de juros nos EUA foi monitorado nos últimos dias por investidores do mundo todo. Juros mais altos nos EUA tendem a derrubar o preço das ações em bolsa e valorizar o dólar, já que elevam a atratividade da dívida norte-americana, considerada a mais segura do mundo.
Em tese, a decisão do Fed de manter o ritmo de subida, inclusive, deveria causar nova avaliação dos ativos de risco. Nesta semana, o índice S&P 500 entrou em território de "bear market", quando são vistas quedas contínuas nas cotações e se instaura um clima de pessimismo no mercado.
Contudo, a reação imediata não foi ruim. Nos EUA, os índices de ações mantiveram-se em alta, assim como o brasileiro Ibovespa.
Para Fernando Fenolio, economista-chefe da WHG, a reação do mercado foi positiva porque se esperava que a sequência de altas mais intensas dos juros americanos perdurasse na próxima reunião, mas que Jerome Powell não se comprometeu a um aperto constante.
"O mercado mudou a partir da entrevista do Powell, em que ele indicou que poderia voltar aos 0,50 pontos na próxima reunião. Já estava precificada mais uma alta de 0,75 pontos para a reunião de julho. Mas ele reforçou que a alta de hoje não é um voo de cruzeiro. Não se comprometeu para o futuro", diz.
O Fed também afirma que continuará com seu programa de redução de participação nos títulos do Tesouro, mais uma medida para frear o avanço da economia e colocar analistas em alerta para os riscos de recessão no país.
"Além disso, o Comitê continuará reduzindo suas participações em títulos do Tesouro e dívida de agências e títulos lastreados em hipotecas de agências, conforme descrito nos Planos para Redução do Tamanho do Balanço do Federal Reserve, emitidos em maio", diz o comunicado.
BCE também promete agir
O Banco Central Europeu (BCE) teve uma reunião excepcional nesta quarta-feira (15), uma semana depois de anunciar uma política monetária mais rígida para combater a inflação da zona do euro, acompanhada por um aumento da margem dos custos de endividamento entre os países.
O objetivo era convencer os mercados de que o seu programa de aumento das taxas de juros é compatível com a luta contra uma diferença excessiva nos custos de endividamento entre os países do norte e do sul da zona do euro.
Após a reunião, o conselho de governo se comprometeu a adotar duas medidas: "aplicar uma certa flexibilidade no reinvestimento" dos títulos do seu programa de emergência lançado durante a pandemia (chamado PEPP) e desenhar um novo instrumento "antifragmentação" para combater a divergência das taxas de juro na zona do euro.
As taxas referenciais de juros da zona do euro continuam em -0,50%, 0,00%, e 0,25% para a taxa de depósito, de refinanciamento e de empréstimo, respectivamente.
Leia abaixo o comunicado na íntegra
Federal Reserve emite o comunicado do FOMC
A atividade econômica geral parece ter se recuperado após a queda no primeiro trimestre. Os ganhos de emprego foram robustos nos últimos meses e a taxa de desemprego permaneceu baixa. A inflação permanece elevada, refletindo desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia, preços mais altos de energia e pressões mais amplas sobre os preços.
A invasão da Ucrânia pela Rússia está causando enormes dificuldades humanas e econômicas. A invasão e os eventos relacionados estão criando uma pressão ascendente adicional sobre a inflação e estão pesando sobre a atividade econômica global. Além disso, os bloqueios relacionados ao COVID na China provavelmente exacerbarão as interrupções na cadeia de suprimentos. O Comitê está altamente atento aos riscos inflacionários.
O Comitê busca alcançar o máximo de emprego e inflação à taxa de 2% no longo prazo. Em apoio a essas metas, o Comitê decidiu aumentar a faixa-alvo para a taxa dos fundos federais para 1,5% a 1,75% e prevê que os aumentos contínuos na faixa-alvo serão apropriados. Além disso, o Comitê continuará reduzindo suas participações em títulos do Tesouro e dívida de agências e títulos lastreados em hipotecas de agências, conforme descrito nos Planos para Redução do Tamanho do Balanço do Federal Reserve, emitidos em maio. O Comitê está fortemente comprometido em devolver a inflação ao seu objetivo de 2%.
Ao avaliar a postura adequada da política monetária, o Comitê continuará monitorando as implicações das informações recebidas para as perspectivas econômicas. O Comitê estaria preparado para ajustar a orientação da política monetária conforme apropriado caso surjam riscos que possam impedir a consecução dos objetivos do Comitê. As avaliações do Comitê levarão em conta uma ampla gama de informações, incluindo leituras sobre saúde pública, condições do mercado de trabalho, pressões inflacionárias e expectativas de inflação e desenvolvimentos financeiros e internacionais.
Votaram pela ação de política monetária Jerome H. Powell, presidente; John C. Williams, vice-presidente; Michelle W. Bowman; Lael Brainard; James Bullard; Lisa D. Cook; Patrick Harker; Philip N. Jefferson; Loretta J. Mester; e Christopher J. Waller. Votando contra esta ação foi Esther L. George, que preferiu nesta reunião aumentar a faixa alvo para a taxa de fundos federais em 0,5 ponto percentual para 1,25% a 1,5%. Patrick Harker votou como membro suplente nesta reunião.