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Economia

Gasolina vai subir? Petrobras não reajusta preço há mais de 70 dias

Maior intervalo até então tinha sido de 58 dias, mostra levantamento.

G1

24 de Maio de 2022 - 07:38

Gasolina vai subir? Petrobras não reajusta preço há mais de 70 dias
Replan, a maior refinaria de petróleo da Petrobras, fica am Paulínia (SP) — Foto: Júlio César Costa/g1

O preço da gasolina segue nas alturas nos postos do país – e, no que depender do repasse da defasagem da paridade internacional, pode subir ainda mais. A Petrobras está há 73 dias sem reajustar o preço do combustível nas refinarias. Trata-se do maior intervalo sem reajustes em ao menos mais de 2 anos e meio.

Mesmo sem o reajuste da gasolina neste período, a elevação progressiva dos combustíveis causou a demissão de mais um presidente da empresa. Na noite desta segunda-feira (23), o Ministério de Minas e Energia anunciou a demissão de José Mauro Ferreira Coelho, após 40 dias no cargo. Para seu lugar, o governo decidiu indicar Caio Mário Paes de Andrade, auxiliar do ministro Paulo Guedes no Ministério da Economia.

Coelho foi o terceiro demitido da estatal no governo Jair Bolsonaro, depois de Roberto Castello Branco e Joaquim Silva e Luna. Pré-candidato à reeleição, Bolsonaro cobrou de todos eles que os preços fossem contidos. Mas a Petrobras está submetida ao critério de paridade internacional, que faz o preço dos combustíveis variar de acordo com a cotação do barril de petróleo no mercado internacional e das oscilações do dólar.

Levantamento do Observatório Social da Petrobras (OSP) mostra que o maior intervalo de dias sem reajuste na gasolina da Petrobras até então tinha sido o período encerrado em outubro de 2021, quando foram 58 dias sem mudança no preço às distribuidoras.

O levantamento considera os reajustes anunciados desde agosto de 2019, quando a Petrobras passou a divulgar os dados de preço médio por refinaria. O último aumento da gasolina foi feito no dia 11 de março, quando o preço médio subiu 18,8% ou R$ 0,61 por litro, após 57 dias sem aumento. Veja quadro abaixo:

O intervalo médio dos reajustes desde 2019 é de 16 dias. O levantamento mostra porém que, desde o final do ano, passado a Petrobras aumentou o espaço de tempo entre os aumentos ou reduções. No caso do diesel, o maior intervalo registrado pela série foi de 85 dias, encerrados em setembro de 2021.

"Quando ocorrem grandes aumentos nos preços e em momentos com maior pressão geralmente aumenta um pouco também a defasagem", afirma Eric Gil Dantas, economista do Observatório, que é uma entidade de pesquisa ligada à Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), ao Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps) e ao Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese).

Defasagem de preço é de 8%, diz associação

Dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) mostram que os preços praticados pelas refinarias da Petrobras estão com uma defasagem média de 8% na comparação com os valores de referência nos mercados internacionais desta segunda-feira (23).

Segundo a Abicom, para equiparar os preços com o mercado internacional, a Petrobras teria que elevar o preço médio do litro da gasolina em R$ 0,36. Já o preço do diesel, que foi reajustado pela Petrobras em 8,9% no dia 10 de março, está com uma defasagem média bem menor, de 1% ou de R$ 0,05 por litro.

"Na nossa visão, a Petrobras está segurando o preço. No caso da gasolina, no ano de 2022, foram poucos dias que o preço acompanhou a paridade. Está sempre muito abaixo da paridade", afirmou o presidente da associação, Sérgio Araújo, classificando o intervalo sem reajustes de "atípico" e destacando que na primeira quinzena de maio a defasagem chegou a 22%.

Desde 2016, a Petrobras adotou o chamado PPI (Preço de Paridade de Importação), após anos praticando preços controlados, sobretudo no governo Dilma Rousseff. Pela política de preços atual, os preços cobrados nas refinarias se orientam pelas flutuações do preço do barril de petróleo no mercado internacional e do câmbio.

Defasagem mesmo com queda do dólar

Felipe Sichel, sócio e economista-chefe do Modal, observa que a defasagem persiste mesmo com a recente queda do dólar frente ao real. Cálculo do banco, que utiliza uma metodologia diferente da Abicom, mostra que a defasagem chegou na última semana a R$ 0,94 por litro, contra R$ 1,42 na semana anterior.

"Isso significa que uma pressão muito grande por reajuste persiste, mas é menor neste momento", afirma o analista. "De fato o mercado está muito volátil, pode ser que a Petrobras esteja esperando um pouco mais, mas há argumento para um reajuste adicional".

Apesar das oscilações diárias, os preços do barril de petróleo permanecem em máximas de anos em meio à guerra na Ucrânia, com o barril do tipo Brent se mantendo acima de US$ 110.

Veja no gráfico abaixo:

Pressão política

Em comunicado divulgado no dia 18, quando anunciou o reajuste no diesel, a Petrobras admitiu que o reajuste aplicado na gasolina no dia 11 de março refletiu "somente parte da elevação dos patamares internacionais de preços de petróleo, que foram fortemente impactados pela oferta limitada frente a demanda mundial por energia".

Procurada pelo g1, a petroleira afirmou nesta segunda-feira que "não houve mudança na prática de preços de venda" para as distribuidoras e que "os reajustes seguem sendo realizados sem periodicidade definida, acompanhando as variações do valor do produto no mercado internacional, para cima e para baixo, mas evitando o repasse volatilidade externa e da taxa de câmbio causadas por eventos conjunturais".

A política de preços da Petrobras tem sido alvo constante de pressão política e de críticas do próprio presidente Jair Bolsonaro, que tem dito que não tem poder de interferir nas decisões da Petrobras – mas já realizou 3 trocas na presidência da empresa.

Reportagem do jornal "O Globo" afirma que o ministro da Economia, Paulo Guedes, defende que a Petrobras adote uma regra que aumente o intervalo de tempo entre os reajustes dos combustíveis, para 100 dias ou mais, para amortecer a alta volatilidade dos preços do petróleo no mercado internacional – o que empurraria o problema político para depois da eleição.

"À medida em que o efeito de uma gasolina mais cara se faz sentir no no bolso da população, principalmente em ano eleitoral, a pressão por respostas políticas aumenta também", diz Sichel. Na visão dos analistas, mesmo com as mudanças da diretoria da Petrobras e do Ministério de Minas e Energia, a política de preços da Petrobras não deve mudar. A avaliação, porém, é que, mesmo com eventuais reajustes nas refinarias, os preços tendem a ser mantidos com alguma defasagem em relação à paridade internacional.

"Uma coisa era fazer reajustes quando o preço estava menor. Agora estamos perto de patamares recorder, então isso dificulta e a Petrobras acaba segurando", diz o economista do Observatório, que tem se posicionado contra o Preço de Paridade de Importação (PPI).

"Não acredito que seja por conta das mudanças na empresa, até porque o Bolsonaro não colocou ninguém que seja contra a política de preços e maximização de dividendo. A Petrobras tem poder de absorver esses aumentos e mesmo assim ter um lucro muito elevado", completa.

A Abicom alerta que o Brasil depende da importação de combustíveis para atender o mercado doméstico e que a defasagem inviabiliza as operações de importação – aumentando a concentração no mercado de distribuição e riscos pontuais de desabastecimento.

"As demandas sociais são justas, mas quem tem que fazer política pública é o governo e não empresa de capital aberta. Uma empresa listada em bolsa tem que dar o melhor resultado possível aos seus acionistas. O preço artificial não remunera os acionistas", afirma Araújo.