Economia
Inflação empurra 71 milhões de pessoas à pobreza, diz ONU
Pnud pediu uma ação sob medida, e está buscando doações diretas para países vulneráveis.
G1
07 de Julho de 2022 - 10:44
A crise do custo de vida global está empurrando mais 71 milhões de pessoas para a pobreza nos países em desenvolvimento, alertou nesta quinta-feira (7) novo relatório publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
Achim Steiner, administrador do Pnud, disse que uma análise de 159 países em desenvolvimento mostrou que o aumento dos preços das principais commodities este ano já afetando partes da África Subsaariana, os Bálcãs, a Ásia e em outros lugares, de acordo com a Reuters.
O Pnud pediu uma ação sob medida, e está buscando doações diretas em dinheiro para os países mais vulneráveis. Ele quer que as nações mais ricas ampliem a Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI) que criaram para ajudar os países pobres durante a pandemia da Covid-19.
"Altas de preços sem precedentes significam que, para muitas pessoas ao redor do mundo, a comida que eles podiam comprar ontem não está mais ao alcance hoje. Esta crise do custo de vida está levando milhões de pessoas à pobreza e até mesmo à fome a uma velocidade de tirar o fôlego", disse Steiner. "Com isso, a ameaça de aumento da agitação social cresce a cada dia".
Ações dos países
Segundo o relatório, os países têm tentando reduzir os piores impactos da crise recente usando restrições ao comércio, redução de impostos, subsídios aos gastos com energia e transferências diretas de renda.
Para o autor do relatório, no entanto, os subsídios à energia podem ajudar no curto prazo mas, no longo prazo, incentivam a desigualdade. "Eles oferecem algum alívio como um 'band-aid' imediato, mas podem causar dano pior ao longo do tempo", diz George Gray Molina.
Esse tipo de subsídio beneficia desproporcionalmente a população mais abastada, com mais de metade dos benefícios favorecendo os 20% mais ricos. Em contraste, transferências de renda são dirigidas, em geral, aos 40% mais pobres, segundo o documento.
"Dinheiro nas mãos das pessoas que estão sofrendo mais com as astronômicas altas de preços dos alimentos e combustíveis terão um amplo impacto positivo", diz Molina.
Alta de preços
A Pnud aponta que, nos 12 meses até maio, os preços globais das principais commodities energéticas e de alimentos tiveram altas acentuadas.
Veja as variações apontadas no relatório:
- Gás natural: 166,8%
- Petróleo WTI: 73,5%
- Petróleo Brent: 66,8%
- Gasolina: 82,5%
- Trigo: 63,9%
- Óleo de girassol: 42,4%
- Milho: 14,3%
Fome no Brasil
Na quarta-feira, relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) apontou que mais de 60 milhões de brasileiros já sofrem com insegurança alimentar.
O documento mostra que o número de pessoas que lidaram com algum tipo de insegurança alimentar foi de 61,3 milhões – praticamente três em cada dez habitantes do Brasil, que tem uma população estimada em 213,3 milhões. Desse total, 15,4 milhões enfrentaram uma insegurança alimentar grave.
Os dados da FAO para o Brasil englobam o período de 2019 a 2021. Os últimos números da instituição revelam uma piora alarmante da fome no Brasil. Entre 2014 e 2016, a insegurança alimentar atingiu 37,5 milhões de pessoas - 3,9 milhões estavam na condição grave.