Economia
Preço do frete cai até 35% no período de um mês em MS
Levantamento aponta a entressafra de grãos como principal fator de queda, mas preço do diesel ainda preocupa setor.
Correio do Estado
28 de Maio de 2022 - 09:58
Mato Grosso do Sul sofreu reduções entre março e abril deste ano, conforme o último boletim logístico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Algumas praças tiveram queda de até 35% nos valores praticados para transporte por tonelada de grãos.
Entre os principais motivos para a redução dos preços está a menor demanda em decorrência do período de entressafra. Apesar do recuo, especialistas apontam que a tendência é de que os valores se mantenham em alta por causa dos reajustes do diesel.
Profissionais do setor de transportes explicam ainda que os aumentos do diesel (de 24,9% em março, e 8,87% em maio) ainda não foram repassados totalmente.
Segundo o economista Marcio Coutinho, essa dinâmica é natural. “Pela quantidade demandada por serviços, o preço está assim. Nos meses anteriores, o volume de exportação de grãos foi extremamente alto. Com a retração do volume de exportação e consequentemente do volume de transporte, você tem pouca demanda por transporte e é normal que o frete fique mais barato”.
A principal queda foi notada em Naviraí. Para transportar carga até Maringá (PR), o preço médio do frete foi reduzido de R$ 111 para R$ 71,67 no período de um mês.
Já com destino para o porto de Paranaguá (também no Paraná), a redução média observada foi de 31%, saindo de R$ 194 para R$ 133 para cada tonelada transportada.
Principal destino do escoamento para exportação de grãos do Estado, com vazão de 45% da produção de MS, o porto de Paranaguá foi o destino que apresentou as maiores reduções no preço médio do frete, independentemente da cidade de origem.
Nos demais municípios, todas as reduções que têm o porto como destino final apresentaram queda porcentual na marca de dois dígitos. Partindo de Maracaju, a queda foi de 25%, de Dourados, a redução chegou a 21%, Chapadão do Sul (-23%) e São Gabriel do Oeste, retração de 12%.
SAFRA
Conforme o boletim da Conab, com dados levantados em abril e divulgados em maio, as reduções podem ser explicadas pelo encerramento gradativo da colheita da safra de soja em MS.
“A demanda por veículos para movimentação dos grãos recuou e, consequentemente, influenciou os preços dos fretes praticados. A redução constatada na maioria das praças pesquisadas ocorreu de modo gradativo ao longo de abril”, conjectura o documento.
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior, os volumes exportados de soja em abril atingiram 473.816 toneladas, quantidade inferior às 769.987 toneladas registradas em março/2022, fato que também contribuiu para a redução dos valores do transporte.
Corretor na Granos Corretora Leon Davalo comenta que o mercado esfriou nos últimos meses. “Está bem parado, [o agricultor] pode voltar a vender mais para frente, até porque o preço no mercado interno está bem baixo”.
Para ele, junho e julho serão os meses em que o vendedor terá uma ideia melhor da safra do milho e deve decidir a melhor estratégia de venda.
Apesar de o frete cair por uma situação de mercado, o diesel subiu no começo de maio. Na ocasião, a Petrobras aumentou em 8,87%, e em março a estatal já havia aumentado em 24,9% o combustível fóssil.
SETOR
Dono de uma empresa transportadora, Adriano Basso comenta que o reajuste no preço do frete não acompanhou a alta dos combustíveis. Segundo ele, o diesel quase duplicou de valor nos últimos seis meses.
“Quando começa a safra, sempre sobe um pouco por falta de caminhão. É a lei da demanda. O que tá subindo, não compensa o valor do combustível. Quando chegava no pico de safra, o frete praticamente dobrava de valor”.
“Este ano, foi um curto período de tempo. Na safra passada de soja não deu tanta diferença porque a safra foi muito ruim. Não encheu os armazéns e não precisou escoar o produto rápido, então o frete praticamente se manteve”.
Segundo o presidente do Sindicato dos Fiscais Tributários de Mato Grosso do Sul (Sindifiscal), Francisco Carlos de Assis, em reuniões com as entidades de logística do Estado, foi revelado que a alta do diesel impactou ainda mais as empresas do setor.
“Na planilha deles, o custo do combustível estava em 40% do preço do frete há um ano. Agora, em algumas situações, está até maior que o da gasolina, saltou para 60%”.
FUTURO
Para os próximos meses, são esperadas alterações no comportamento do mercado de fretes, com o início da colheita do milho segunda safra e a necessidade de remoção da soja – visando à abertura de espaço para armazenagem do milho –, pode refletir no aumento dos fretes praticados.
Marcio Coutinho explica que assim como o preço tende a arrefecer em meses de entressafra, o movimento inverso é sentido quando o escoamento de grãos retomar alta intensidade.
“[A queda] vai reverter e vai subir quando o mercado começar a aquecer. Com maior movimentação de grão e as colheitas de safra começarem em junho, deve começar uma nova demanda por esse serviço”.