Logomarca

Um jornal a serviço do MS. Desde 2007 | Quinta, 21 de Novembro de 2024

Economia

Produção global sobe, e milho do Brasil perde espaço no mercado Internacional

Página 1 News

23 de Outubro de 2024 - 11:00

Produção global sobe, e milho do Brasil perde espaço no mercado Internacional
Exportações brasileiras do cereal bateram recorde em 2023. Foto: Divulgação

Depois de o volume das exportações brasileiras de milho ter batido recorde no ano passado, o país encontra dificuldades para colocar seu produto no mercado externo em 2024. A recuperação da oferta em importantes produtores e a queda do apetite chinês devem aumentar as reservas nacionais do cereal, exercendo ainda mais pressão de baixa sobre as cotações no mercado interno.

No ano passado, o Brasil exportou 56 milhões de toneladas de milho, segundo dados da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). Já neste ano, o país deverá perder o protagonismo que teve em 2023, quando foi o maior exportador global do grão. A entidade estima que o volume dos embarques de milho em 2024 deverá ser de 41 milhões de toneladas.

Entre agentes de mercado, há previsões ainda mais pessimistas. Nos cálculos da consultoria Royal Rural, o Brasil deverá negociar 39 milhões de toneladas com o exterior em 2024, já que muitos concorrentes, como a Argentina, tiveram recuperação na oferta.

“No ano passado, o Brasil não teve a competição da Argentina. Após sofrerem com a seca, eles [os argentinos] retomaram a capacidade de produção, e de janeiro a agosto deste ano, exportaram 24,5 milhões de toneladas de milho. São 7 milhões de toneladas a mais do que no ano passado”, destaca Ronaldo Fernandez, analista da Royal Rural.

E não foi só a Argentina que ampliou sua oferta neste ano. O mesmo aconteceu em outros grandes produtores de milho do mundo, como Estados Unidos, Europa e Ucrânia. Esse quadro deixou os compradores internacionais mais confortáveis para buscar outras fontes de oferta do cereal.

Entre os importadores que preteriram o milho brasileiro, o destaque é a China. Após ser o principal cliente do Brasil nas vendas de milho no ano passado, com a importação 17,4 milhões de toneladas das pouco mais de 56 milhões de toneladas que o Brasil negociou com importadores, o envio de milho brasileiro à China não chegou a 2 milhões de toneladas neste ano, de acordo com Fernandes.

“Há tempos a China tem planos para ser autossuficiente na produção de milho, para tentar controlar o preço da carne em seu mercado interno. Eles conseguiram algum êxito nesse objetivo, com recuperação de áreas que foram perdidas pelas enchentes”, afirma o analista.

Segundo ele, um indicativo de que o gigante asiático está reduzindo sua dependência do milho importado está nas projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para importação. De agosto a outubro, o órgão reduziu em 4 milhões de toneladas sua estimativa de compras internacionais chinesas, projetando agora 19 milhões de toneladas. O analista da Royal Rural acredita que o USDA fará novos cortes até o fim do ano.

Com a forte concorrência internacional no fornecimento de milho, Fernandes acrescenta que o estoque final de milho no Brasil poderá chegar a 10 milhões de toneladas, o maior volume desde 2018. Caso confirmada, essa projeção causaria uma enxurrada de oferta no mercado interno, colocando pressão sobre os preços e escancarando velhos problemas de infraestrutura no país.

“Esse excedente de produção vai estressar nossa capacidade estática de armazenamento. Vamos imaginar que, se chover adequadamente, a soja vai ter boa produção. Com esse tamanho de estoque final, onde vamos colocar tanto milho e tanta soja?”, questiona o analista.

Os EUA também devem abocanhar boa parte do mercado mundial de milho em 2023/24. Com a maior safra de sua história (389,67 milhões de toneladas) e exportações de 58,23 milhões de toneladas, segundo o Departamento de Agricultura do país, o país deve dominar as vendas externas para destinos como México e União Europeia.

“Nesse momento, os grandes compradores vão priorizar as aquisições de milho dos EUA, que por ora é a origem mais barata. Assim, o Brasil deve ficar sem dar tração às suas exportações”, avalia Leonardo Martini, consultor em gerenciamento de risco da StoneX.