Esporte
Campo Grande sedia pela 1ª vez etapa nacional para atletas paraolímpicos
Para eles, a quadra de futsal foi adaptada com as dimensões do vôlei, porém com um gol de 9 metros de largura com 1,3 metros de altura
Campo Grande News
08 de Junho de 2013 - 11:33
Ao sair de casa, os primeiros obstáculos. Ruas esburacadas, transporte com pouca ou nenhuma acessibilidade e preconceito. Pessoas cegas ou com baixa visão que se superam a cada dia, aliando à deficiência com a paixão pelo esporte. De milhares em todo o Brasil, cem estão em Campo Grande na manhã deste sábado (8), participando do Campeonato Regional Centro Norte GoalBall, na escola Mace.
Para eles, a quadra de futsal foi adaptada com as dimensões do vôlei, porém com um gol de 9 metros de largura com 1,3 metros de altura. A sua frente, três jogadores que atacam e defendem. A bola é igual a do basquete, porém com peso de 1,250 kg e guizos (para produzir o som).
Nas arquibancadas, o silêncio é predominante. Os outros atletas sabem que precisam permanecer quietos para eles ouvirem o som e defenderem a bola. Mas, se o gol acontecer, a gritaria e a vibração é geral. Mais um dia de superação para os paraolímpicos de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Distrito Federal e o Pará.
Mesmo divididos em três categorias: B1 para aqueles que são totalmente cegos, B2 para os que possuem apenas 5% da visão e, por último, B3 aos atletas com 20% da visão, eles tem os olhos vendados para participarem em igualdade no jogo.
De uma centena presente, apenas três homens e duas mulheres serão escolhidos para participar da próxima etapa em São Paulo, em novembro deste ano e em seguida para a Copa Brasileira de Paraolimpíadas, em 2016. Anos atrás, o nosso país conseguiu a medalha de prata, ficando atrás somente da Finlândia.
Novas potências
Olheiro das futuras integrantes paraolímpicas, o técnico da seleção brasileira feminina, Paulo Sérgio de Miranda, fala das qualidades que chamam a atenção. Vejo a força no arremesso, a orientação da pessoa em quadra e qual é a leitura dela sobre o time que está do outro lado. Com isso e força de vontade, está pronta uma potência para ser convocada, afirma ao Midiamax o treinador Miranda.
Com mais de 20 anos de experiência na área, ele conta que o acaso o levou a trabalhar com pessoas com deficiência. Formei em Educação Física e em seguida comecei a fazer pós-graduação. Sem saber direito do que se tratava me inscrevi na disciplina Introdução à Educação Especial. E quando soube comecei a gostar muito e passei no concurso do Instituto Benjamin Constant, órgão federal no qual estes atletas treinam no Rio de Janeiro, comenta.
No centro de treinamento, localizado em Niterói (RJ), os atletas praticam 5h de aulas diárias, 3h durante a manhã e mais 2h à tarde. Eles fazem aula de musculação e com o preparador físico, corrida na praia, fisioterapia e treinos com o árbitro, explica o técnico.
Em Campo Grande, 35 atletas participam oficialmente das atividades, além do futsal, judô e goalball. É a primeira vez que estamos sediando um evento grande e sinto muito orgulho. Estamos mostrando para a sociedade que o desporto tem organização com excelência e estamos a caminho de uma etapa de grande superação, afirma a presidente do Ismac (Instituto Sul-mato-grossense para Cegos Floriano Vargas), Telma Nantes de Matos.
Superação
Vencedores no campeonato mundial em Londres e com a expectativa de estarem juntos novamente em 2016, os irmãos Leomon, Leandro e Leonardo Moreno, respectivamente de 19, 25 e 28 anos, estão muito contentes com os bons resultados. É uma realização muito grande ser convocado para a seleção. Nossa família está muito orgulhosa, dizem.
Os três nasceram com retinose (doença genética que causa a degeneração dos cones e bastonetes da retina). A tendência é ir perdendo a visão e por isso desenvolvemos bem a audição e a percepção de espaço. São qualidades essenciais para obter bons resultados no jogo, finaliza Leonardo.
O resultado provavelmente sairá no final da tarde deste sábado. A próxima etapa do campeonato ocorrerá em São Paulo, no mês de novembro.