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Esporte

Imagina na Copa: europeus sofrem com calor, e Mundial promete ser pior

Espanhóis e italianos reclamam da temperatura em sedes do Nordeste. Daqui a um ano, Recife, Salvador, Fortaleza e Natal terão jogos às 13h

Globo Esporte.com

26 de Junho de 2013 - 15:45

Se a Copa das Confederações é mesmo um teste para a Copa do Mundo, já se sabe o que não deu certo: as condições climáticas são, até aqui, um dos grandes percalços na trajetória especialmente dos europeus. No ano que vem, as reclamações de Espanha e Itália serão potencializadas por outras 11 seleções do continente que virão ao Brasil.

O forte calor e alto nível de umidade em algumas cidades-sede do Mundial prometem exigi-los ao máximo após as habituais e exaustivas temporadas por seus clubes. Com o agravante de que alguns jogos no Nordeste serão disputados às 13h (no horário local), três horas a menos do que as habituais 16h de 2013. E aí não há São Pedro que dê jeito.

Para se ter noção da dimensão do problema basta voltar até o último domingo. Debaixo de um sol escaldante, Espanha e Nigéria fizeram o último jogo da fase de grupos no Castelão, em Fortaleza. Os termômetros apontavam oficialmente 29ºC, mas a sensação dentro do estádio era de que os dois disputavam uma partida dentro de uma sauna seca. A analogia foi feita inclusive pelo zagueiro Piqué, no contato com a imprensa na zona mista após a partida. O lateral-esquerdo Jordi Alba, autor de dois gols, contou que seus pés pareciam estar queimados.

Na opinião do técnico Vicente del Bosque, o clima foi um adversário tão árduo quanto a Nigéria. Se a Espanha não jogou como costuma e cedeu espaços aos africanos, o treinador acha que a explicação passa pelo calor.

É impossível jogar com intensidade todo o jogo em condições como essa"

Del Bosque, técnico da Espanha

- É impossível jogar com intensidade todo o jogo em condições como essa. Tivemos dois grandes rivais, a Nigéria e um enorme ar sufocante. Jogar nesse ritmo por 90 minutos é impossível – argumentou.

Já o zagueiro Sergio Ramos talvez não soubesse que em 2014 terá de ir a campo mais cedo se o sorteio não for amigo dos espanhóis. Muito provavelmente será obrigado a abandonar a tradição de atuar com mangas longas, tal qual Piqué. Ainda assim, manteve uma postura digna em seu discurso.

- Foi muito duro o jogo contra a Nigéria e talvez tenha sido o mais complicado pelo rival e pelo calor, mas é o mesmo para todos. O Mundial será aqui e não somos crianças mimadas nem reclamonas. Não viemos para cá pela festa, e sim para tratar de ganhar a competição.

Necessidade de atletas, e não apenas jogadores

Sergio Ramos e a Espanha terão novo teste contra o calor nesta quinta-feira. Novamente às 16h (de Brasília) e no Castelão, em Fortaleza, os campeões do mundo enfrentarão a Itália. A previsão é de uma temperatura próxima a 30ºC no horário da partida, no Castelão, além de 68% de umidade relativa do ar. O estádio receberá no ano que vem um jogo de oitavas de final às 13h.

Vamos precisar de 23 atletas e não de 23 jogadores"

Prandelli, treinador da Itália

- Essa situação serve para a Copa do Mundo. Vamos precisar de 23 atletas e não de 23 jogadores. Teremos de preparar o time para superar essa umidade – avisou o técnico Cesare Prandelli.

O treinador da Azzurra foi acompanhado pelo meia Claudio Marchisio. Ele também reclamou das distâncias entre cidades do Sudeste e Nordeste. Na Europa Ocidental, três horas de voo são suficientes para ir praticamente de uma ponta a outra.

- É um clima muito adverso do Rio para Fortaleza. Isso precisa ser mais bem trabalhado. Precisamos levar o calor em conta para a Copa do Mundo também. Além do calor, há também o problema com as distâncias. É como se jogássemos a Copa das Confederações por toda a Europa.

 ‘Caldeirão’, Manaus terá jogos às 15h

A Fifa garante ter levado todos os fatores possíveis em consideração para a realização de jogos às 13h na Copa do Mundo. Em comunicado, a entidade máxima do futebol reforçou a preocupação com a saúde dos jogadores e afirmou que a definição dos horários e sedes foi um longo processo que levou quase dois anos.

- Um aspecto central na definição dos horários foi a análise muito cuidadosa do clima histórico em todas as sedes. As sedes com maior média de temperatura como Manaus, Cuiabá e Fortaleza não têm jogos às 13h durante a fase de grupos. Neste contexto, é importante notar que os principais critérios para a equipe médica são baseados na Wet Bulb Glob Temperature (WBGT) e não apenas a temperatura média geral. O WBGT é um mecanismo usado para estimar o efeito da temperatura, umidade, velocidade do vento e radiação solar – disse Delia Fischer, diretora-adjunta de Comunicação da Fifa.

Dentre as sedes, Manaus é a cidade que registra a maior média máxima de temperatura no mês de junho, quando toda a primeira fase é disputada. A capital do Amazonas sofre com um calor que chega a 33,5ºC e receberá duas partidas às 15h (hora local) e uma às 16h. Cuiabá vem em seguida, com média máxima de 31ºC e um jogo às 16h. A diferença de fuso em relação a Brasília para ambas é de uma hora.

Cabeças de chave torcem, desde já, para não serem sorteados no Grupo C e E, chaves com jogos à tarde em Cuiabá e Manaus (o sorteio será em 6 de dezembro, na Costa do Sauípe). Assim, evitariam outro adversário severo, além da distância - motivo de reclamações por parte de Marchisio e outros atletas ao longo das Confederações.

Com Fortaleza, Natal, Recife e Salvador, porém, não houve jeito. As quatro cidades do Nordeste terão ao menos uma partida às 13h num inverno que só se faz presente no nome. A posição da Fifa é de que não havia nada melhor a ser feito.

- A equipe médica da Fifa está sempre monitorando cuidadosamente todos as sedes durante qualquer competição da entidade para proteger a saúde dos jogadores. Também deve ser notado que três jogos no mesmo dia são necessários para uma competição como a Copa do Mundo. E desde a primeira edição, em 1930, as primeiras partidas do dia são jogadas na hora do almoço – encerrou Delia Fischer, lembrando que o Mundial de 1994 também foi marcado pelo forte calor nos Estados Unidos, como o frio tomou conta da África do Sul em 2010.