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Esporte

João Leite elogia o "frio" Victor e vê Galo perto de ser "um time mundial"

Ex-goleiro do Atlético-MG relembra sufoco contra o Olimpia na conquista da Conmebol de 92 e pede que torcida carregue seu "sucessor" nos ombros

Globo Esporte.com

15 de Julho de 2013 - 16:28

Dois assuntos têm dominado a preferência dos atleticanos e até não atleticanos nos últimos dias às vésperas da grande decisão que pode conduzir o Galo ao título mais importante de sua história. O primeiro é como vencer o grande adversário, o Olimpia, clube paraguaio mais do que copeiro na Libertadores - faturou três taças sul-americanas.

O segundo são os feitos da muralha chamada Victor. O goleiro é o grande herói dos melhores momentos da equipe mineira na competição. E se há um ídolo que entende de Olimpia e de goleiros, esse é o ex-goleiro João Leite, venerado nos anos 1970, 1980 e 1990, o dono da meta nos tempos do melhor Atlético Mineiro da história, que tinha Reinaldo, Palhinha, Cerezo, Éder e Luizinho.

Hoje deputado estadual, João Leite entende também como poucos da história do clube. Afinal, faz parte dela de forma marcante. Foi o jogador que mais vestiu a camisa do Galo (684 partidas) e mais títulos conquistou (foram 11 estaduais e uma Copa Conmebol). Ao falar da campanha na Libertadores, lembrou o bom retrospecto contra o Olimpia - em quatro oportunidades, por dois torneios diferentes, levou a melhor quase sempre, faturando inclusive a final da Conmebol de 92. E com relação a Victor, não escondeu nem um pouco ser fã do atual goleiro. A ponto de sugerir placa com o nome do goleiro e homenagem idêntica à feita com outro ídolo histórico, atacante dos anos 1930.

- A torcida do Atlético-MG deveria fazer com Victor o mesmo que fazia com Ubaldo Miranda. Após as vitórias no Independência, a torcida colocava Ubaldo nas costas e o levava até a sede do clube, no bairro de Lourdes. Ele merece isso, por tudo que tem feito pelo Atlético-MG - disse João Leite.

Depois de tratar de assuntos na Secretaria de Saúde de Minas Gerais, em reunião com Heleno, também ex-jogador do Atlético Mineiro e atual vereador da capital mineira, João Leite recebeu a reportagem do GLOBOESPORTE.COM para um bate-papo. Ao encerrá-lo, mostrou esperança de que "o Atlético-MG passe a ser um time mundial”.

Por ter dominado a função, ele tem observado, ao longo da história, minuciosamente, os goleiros do Atlético-MG. E, para ele, Victor, atual camisa 83 do Galo, já se tornou um dos maiores ícones do gol alvinegro.

GLOBOESPORTE.COM: O Galo vai enfrentar o Olimpia na final da Taça Libertadores. Adversário mais do que conhecido do clube e seu. Recorda-se dos confrontos pela Libertadores de 1981 e pela Conmebol de 1992?

João Leite: Jogamos contra o Olimpia em 1981, pelo Grupo 3 da Libertadores. O grupo era Atlético-MG, Flamengo, Cerro Porteño e Olimpia. Empatamos, lá no Defensores Del Chaco, em 0 a 0, e vencemos por 1 a 0 no Mineirão. O jogo contra o Olimpia foi dificílimo. Eles tinham grandes jogadores em 1981. Depois, enfrentamos o Olimpia na final da Copa Conmebol de 1992. Sofremos muita pressão lá, depois de ganharmos por 2 a 0 no Mineirão. Graças a Deus, conseguimos conquistar o primeiro título daquela competição (veja o vídeo acima).

O Atlético-MG fará o primeiro jogo em Assunção. O senhor sabe bem como é a pressão no Paraguai. O que viveu nos jogos contra eles na capital paraguaia, principalmente no Defensores del Chaco, local do jogo de quarta-feira?

Guardo os jornais até hoje, desde 1981. As manchetes diziam: “O Mineiro veio com um monte de jogadores da Seleção, mas ficou só na defesa.” Eles jogavam muito com bolas aéreas. Foi uma pressão muito grande, e o Atlético-MG tinha um time muito forte. Nosso sistema defensivo saiu-se muito bem. A zaga era formada por Osmar Guarnelli e Luizinho, o volante era o Chicão. O gramado era muito ruim, e sofremos muito com isso. Foi um jogo duríssimo contra eles. Ficou 0 a 0, e saímos no lucro, porque eles nos pressionaram do início ao fim.

A final da Copa Conmebol de 1992 não foi disputada no Defensores del Chaco, e sim no Manuel Ferreira, estádio onde o Olimpia mandava alguns jogos. O que vocês sofreram para levantar o caneco daquela competição?

Já no reconhecimento do gramado, o estádio Manuel Ferreira estava lotado. A torcida fez pressão já no treino. Lembro-me bem. Fomos hostilizados e escolhemos um gol, onde não havia torcida perto, para conseguir treinar. No outro dia, quando chegamos para o jogo, o estádio estava lotado e tomamos uma pressão danada. Joguei a partida com a perna queimada por um rojão que soltaram no primeiro tempo. Joguei o jogo todo com dores na perna.

Acredita que o Galo sofrerá uma pressão igual à que o time sofreu no Paraguai em 1981 e em 1992?

Acho que não. O futebol hoje é diferente. Naquele tempo, em 1981, não existia exame antidoping. E muito se falava da raça dos paraguaios. Era muita raça, raça até demais (brinca). Estava acostumado a receber mexericas nas costas, quando jogava no interior de Minas Gerais. No Paraguai, eles mandavam era maçã, pedradas. Doía muito.

Quando acabou a final da Conmebol de 1992, a torcida paraguaia invadiu o campo. Como vocês conseguiram erguer a taça depois?

Fomos para o jogo final, em Assunção, em uma pressão danada. Encerrado o jogo, a torcida invadiu, e alguns de nós fomos agredidos. Foi um tumulto. Sofremos de tudo. Tivemos que nos refugiar no vestiário por um tempo, até voltar para o campo.  O Paulo Roberto Prestes recebeu a taça das mãos do Nicolaz Leóz, presidente da Conmebol, na tribuna, onde não tinha jeito de o torcedor paraguaio chegar perto. Foi complicado, mas valeu a pena.

E como foi a recepção da torcida em Belo Horizonte, quando vocês chegaram, no dia seguinte à conquista?

A torcida nos recebeu no aeroporto, fomos para a sede e desfilamos no carro do Corpo de Bombeiros. Foi uma festa muito bonita. Foi uma alegria poder dar esse titulo à torcida do Atlético-MG. Agora, espero que esse time possa dar essa alegria maior, que é conquistar a Libertadores, algo que não conseguimos.

O senhor ficou marcado como um grande pegador de pênaltis no Galo e se diz um grande conhecedor de goleiros do Atlético-MG. Como tem visto o heroísmo atual de Victor, que salvou o time nas quartas de final, contra o Tijuana, e agora, contra o Newell’s Old Boys?

É muito legal ver Victor jogar. Sempre fui fã dos goleiros do Atlético-MG. O primeiro que vi jogar era Fábio. Um grande goleiro. Depois, foi o Marcial, extremamente técnico, que também jogou no Flamengo e no Corinthians. Depois, veio Mussula, Renato. Teve o Mazurkiewsky, o maior do mundo na época. Teve o Taffarel, um grande goleiro campeão. E agora o Victor, goleiro frio, que não faz defesas exageradas. Ele nos trouxe uma alegria muito grande. Naquele pênalti contra o Tijuana, pedi uma placa no Independência. Agora, peço outra, pelo pênalti contra o Newell’s. A torcida do Atlético-MG deveria fazer com Victor o mesmo que fazia com Ubaldo Miranda. Após as vitórias no Independência, a torcida colocava Ubaldo nas costas e o levava até a sede do clube, no bairro de Lourdes. Ele merece isso, por tudo que tem feito pelo Atlético-MG.

Antes das cobranças de pênaltis contra o Newell’s, o preparador de goleiros do Atlético-MG, Chiquinho, passou informações para Victor sobre os batedores argentinos. Na sua época, existia esse trabalho?

Isso é profissionalismo. Na minha época, estudava os cobradores dos times adversários, mas hoje é mais criterioso, existem mais vídeos, informações. O Chiquinho é um excelente treinador de goleiros, que foi de seleção brasileira. Tenho um filho goleiro, o Helton, que passou por todas as categorias de base no Grêmio. E o Chiquinho já o chamou para treinar no profissional. Tenho um carinho enorme com o Victor, que já recebeu meu filho em casa, junto com jogadores do Grêmio, nessas confraternizações.

Como vê essa caminhada do Atlético-MG para conquistar a Libertadores de 2013?

Estou muito feliz. Não só eu, como todos os atleticanos. Belo Horizonte está com um ar diferente. São alguns anos de muitos traumas. Quando chegava o fim do jogo contra o Newell’s, passou um filme na cabeça. Me lembrei de março de 1978, quando decidimos o Brasileiro de 1977. Empatamos na prorrogação e perdemos nas penalidades. O Galo estava invicto, com a melhor campanha e o artilheiro.

Acredita que o Atlético-MG possa quebrar o jejum de títulos com a conquista da Libertadores?

Claro que acredito. O Atlético-MG esteve próximo de se tornar um time mundial em anos anteriores, como em 1981. Não conseguimos, mas esse time atual tem conseguido. Tem uma zaga muito boa, um grande goleiro, um jogador mundial, que é o Ronaldinho, que tem essa imagem de craque mundo afora, uma revelação muito boa da base, que é o Bernard. O Atlético-MG está pronto para fazer essa transição para time mundial. Espero que eles consigam fazer isso, coisa que eu não consegui, mas estou muito feliz por poder ver a história ser escrita.