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Esporte

Mário afasta Celso do comando do futebol do Fluminense e garante Marcão até o final do Brasileiro

Mandatário afirma que vice não fará mais parte do dia a dia do departamento até o fim do ano.

Globo Esporte

21 de Novembro de 2019 - 14:07

O presidente Mário Bittencourt anunciou, nesta quinta-feira, o afastamento do vice-geral Celso Barros do comando do departamento de futebol do Fluminense e que o técnico Marcão está garantido no cargo. As duas decisões, divulgadas em entrevista coletiva concedida à imprensa no CT Carlos Castilho, valem até o final do Campeonato Brasileiro.

O pronunciamento de Mário ocorreu em um momento de crise política e dificuldade dentro do campo. Desde o dia 4 de novembro, quando Celso revelou ao GloboEsporte.com ter defendido a demissão de Marcão, o presidente adotou o silêncio. Foram 17 dias nos quais as divergências entre os dois se tornaram públicas justamente no período que o time luta contra o rebaixamento.

- O que eu informei é que até o final do campeonato esse afastamento seguirá. No final do ano, a gente conversa. Ele é vice-presidente eleito, isso é indiscutível. Dei as atribuições de vice de futebol, mas a partir de hoje estou assumindo. Serei também vice de futebol nessas últimas cinco rodadas. No final do ano, teremos uma conversa para saber como vai ser - disse Mário.

Mário também garantiu que Marcão não corre risco de demissão. Atualmente, o Tricolor é o 17º colocado. Tem 35 pontos, um a menos do que o Cruzeiro, a primeira equipe fora do Z-4.

- A gente escolher um cristo, seja o Marcão ou outro, seria uma injustiça. É um conjunto de fatores. O resultado se traduz por esse conjunto de fatores. Ele é o nosso técnico e será até o final do campeonato - acrescentou o presidente.

A entrevista também abordou outros temas. Além de fazer uma contextualização das divergências com Celso, citando a avaliação do trabalho de Fernando Diniz, Mário respondeu sobre o planejamento da temporada 2020, a venda de Pedro, as dificuldades financeiras e o projeto de clube-empresa.

Demais respostas de Mário Bittencourt

Mário fala sobre escolha por Marcão

Optamos pelo Marcão porque vimos que ele estava aqui desde o início do trabalho. Trabalhou como auxiliar em gestões passadas. Estava aqui em 2014, 2015, 2016... Tem muitos anos de clube, se qualificou. Foi uma decisão do diretor executivo (Paulo Angioni). Nos primeiros jogos, teve um aproveitamento muito alto. Mas, como todos os clubes que passam por dificuldades, entramos em uma taxa de aproveitamento média do restante do campeonato. Mas, ainda é muito maior do que era. O Diniz, por exemplo, tinha um desempenho ótimo, mas não tinha resultado. O Marcão conseguiu recuperar algo do desempenho do Diniz, mas com mais resultados. O aproveitamento, agora, é de quem está em nono ou 10º na tabela. aproveitamento subiu e está sendo melhor do que os concorrentes na linha do rebaixamento. Estou afirmando para vocês que ele vai até o final. Já disse para ele. E o motivo é a avaliação criteriosa que fazemos dentro do departamento. O resto é querer tumultuar o ambiente, que treinador foi oferecido, procuramos... Eu não trabalho para fora, trabalho para dentro. Não podemos politizar a nossa gestão. A política é até a data que termina a eleição. Depois, é gestão, para reconstruir um clube.

A venda do Pedro era a vida ou a morte do Fluminense. Teríamos mais meses de salários atrasados, não pagaríamos o profut, o 13º continuaria atrasado. E vocês criticaram, com razão. Na época, eu não vendi o Pedro para o Flamengo, porque seria uma dor grande para o torcedor. Resisti naquele momento. Depois, com a venda, eu salvei o ano financeiro do Fluminense. Se não vende, não paga água, luz, plano de saúde... Não vou reconstruir o Fluminense jogando para fora, e sim para dentro. Se não a gente não vende, não teria nenhuma outra fonte de receita. Eu não tenho um real para receber de televisão. As fontes de receita são patrocinadores, ingressos, sócio futebol... E a venda de jogadores. Não tem outro caminho. Senão, deixo o clube com sete meses de atraso salarial.

Quando a gente optou pela saída do Fernando Diniz, o vice-geral me comunicou que queria tirar o treinador. Eu não concordava. Não era a minha intenção e nem a do diretor, mas era a do vice-presidente. Acabei, diante de uma grande conversa, me convencendo de que teria que fazer a mudança. Quando houve uma nova conversa e o vice-presidente se posicionou de tirar o treinador atual, disse que era contrário e não acataria essa decisão. O Celso buscou o caminho das redes sociais, expondo um debate interno, dando entrevistas... Não concordo com esse tipo de atitude. Diante disso, optei por afastar. A partir do momento em que o vice vai a redes sociais e à imprensa para passar a ideia de uma decisão autoritária, me senti exposto. Depois, outras postagens aconteceram, incluindo um grupo que o apoia. Postagens me atacando pessoalmente, com várias inverdades sobre a gestão.

Caso Clayton, jogador do Vasco com possível inscrição irregular

O procurador está esperando que os clubes se manifestem, sendo que o responsável pela denúncia é ele. Se o procurador sabe que existe uma notícia de possível infração, ele é o titular da infração. Como foi em 2013. Ele tem a prerrogativa de dizer que sim ou que não. Se qualquer outro clube fizer a notícia de infração, ele tem o poder de arquivar. Esses casos de inscrição de atleta são muito diferentes de escalação irregular, por exemplo. O STJD tem rejeitado esses casos, porque há muita confusão na hora da inscrição. Mas, não são os clubes que têm que se manifestar. Porque a inscrição é feita na CBF, e quem pede informações é o tribunal. Essa pergunta tem que ser feita ao procurador e ao juiz. Pelo que entendi da situação, é no mínimo controverso, mas caminha para que o Vasco esteja correto.

Não estamos buscando mudar o treinador no meio do caminho. Não foram feitos contatos, mas algumas pessoas ofereceram nesse período. Se a gente está na zona de rebaixamento, isso implica em várias questões para a gente se planejar. Esse é o primeiro ano em que o rebaixamento gera queda no dinheiro de televisão. Temos que esperar para discutir certas coisas.

Dívidas pagas

Nos primeiros cinco meses, pagamos R$ 24 milhões em dívidas. Temos um montante de R$ 700 milhões, dos quais R$ 200 milhões não estão parcelados. Estamos conseguindo avançar, e faço um agradecimento ao meu vice-presidente jurídico. O Fluminense precisa disso nesse momento. A única maneira de salvar o clube é fazer essa gestão no dia a dia.

Como acabar com as penhoras?

A gente faz uma gestão diária. Fizemos alguns acordos para que os pagamentos sejam feitos em muitas parcelas com valores pequenos. Mesmo assim, há dificuldade de pagar algumas vezes. Quando isso acontece, a gente liga para o credor e pede um pouco mais de paciência. Isso tem tido um resultado de 100%. Todos os nossos acordos estão sendo cumpridos desde que eu cheguei. Porque há essa comunicação com o credor. Assim, a gente vai se acertando. A gente ainda vai passar por muita dificuldade nesse sentido, por uns bons anos. Porque o volume de receitas é maior que o despesa operacional. O clube, inteiro, se paga. O futebol fatura mais do que ele gasta. Mas, o que come o nosso dinheiro é a dívida. Só da venda do Pedro, foram mais de R$ 7 milhões. Isso são duas folhas do futebol. Se não acontece isso, estaríamos com salário em dia.

Participei de toda a discussão. A gente não pode confundir a palavra empresa com gestão. Transformar em empresa não é salvação de ninguém. Porque empresa sem gestão também quebra. E existem clubes do Brasil que não são empresas e são bem geridos. Em que pese o faturamento muito maior do nosso rival, o presidente anterior fez um grande trabalho. Agora, os frutos estão sendo colhidos. Não dá para jogar fora todo o trabalho que o Bandeira de Mello fez lá atrás. Posso apostar que eles não vão se transformar em empresa. Porque esse projeto prevê uma possibilidade de abertura para capital estrangeiro. Ou seja, uma possibilidade de vender o clube para alguém. Só que aumenta a carga tributária de maneira proporcional. Vai aumentar de 5% para 15%. Mas eu já não consigo pagar todas as minhas dívidas. Se o Fluminense se transformar em empresa, morre no dia seguinte. Acho que os clubes de menor porte, que não têm torcida, vão se transformar rapidamente. Se não tiver dívida... São os clubes que mudam de nome, essas coisas. Os grandes, de grande torcida, 70% ou 80% deles não têm condições de se transformar em empresa.

Se cair, como fica o dinheiro adiantado da cota de televisão?

Revitalização de Laranjeiras

Temos uma reunião no dia 27 ou 28. Agora, eles vão apresentar de fato o projeto. Qual seria o tamanho, os custos... A próxima reunião é para avançar, discutir coisas técnicas. Por exemplo, há debate sobre demolição ou aproveitamento das arquibancadas. Dizem que as arquibancadas de cima estão condenadas, mas não há laudo que prove isso. Essas reuniões servem para isso também. Aproveita? Não aproveita? Dependendo da decisão, se mexe no projeto. Pelo que vi do projeto, prevê a demolição e a reconstrução das arquibancadas. Mas, temos que ver se de fato é necessário.

Tudo no Fluminense é politizado. Meu pai é um engenheiro civil de 70 anos. Mora em João Pessoa, mas disse que, quando eu fosse presidente, gostaria de ajudar o clube de alguma maneira. Nomeei nessa comissão, porque é algo que ele domina. Ele já participou da revitalização de alguns estádios do Brasil e, no final da carreira, se especializou em reconstrução de patrimônio histórico. Trabalhou no Teatro Municipal, no Museu da Quinta, no Palácio de Cristal, em Petrópolis... Não recebe um centavo, assim como outros colaboradores dessa gestão. Não vi polêmica, mas não duvido que houve comentários mal intencionados. Ele não tem nem cargo, é só uma comissão que qualquer um pode fazer parte, desde que tenha conhecimento para passar.

Renovação com Yony

Ele é um jogador de um profissionalismo muito legal. Tem o contrato encerrando, há especulações, mas continua com muito profissionalismo. É de poucas palavras, é mais fechado, mas muito sério. Joga pelo amor à profissão. Se dedica muito, como todos. E é muito transparente. Houve uma manifestação do Benfica, que nos mandou uma carta, mesmo não precisando, para dizer que iniciou uma conversa. Eu mostrei a carta a ele e ele confirmou que está conversando, mas não assinou. Ele não me falou da proposta, mas disse que está aberto para conversar. Não há 100% de definição.

Allan, Caio Henrique, Nino e Daniel

Allan e Caio são situações semelhantes. Emprestados por clubes de fora e sem opção de compra. Há conversas com representantes de atletas. Em São Paulo, por exemplo, conversei com o representante do Allan sobre possibilidade de outro empréstimo. O meu sentimento é que, se não chegar nenhuma proposta de compra, eles ficam conosco. Ambos manifestaram o desejo de permanecer. Gostam daqui, se sentem gratos ao clube, porque recuperaram o seu futebol aqui. É a mesma situação do Nino, que também quer ficar. Temos uma opção de compra por um valor significativo. Vamos iniciar a negociação". O Daniel, foi feita uma proposta. Ele, inicialmente, achou interessante, mas ainda não nos deu uma posição definitiva.

Eles nos informaram sobre uma possível dívida e pedi para olhar os formulários, mas eles se negaram. Entraram com procedimento contra nós e vamos ver se temos de fato uma dívida a pagar. Só que já temos custos, porque temos que recorrer lá no tribunal internacional.

Treino aberto em Laranjeiras

Fizemos treinos e eventos ali, para exibir jogos no telão. Toda vez que fizemos isso, castigamos o campo. Além de que custou dinheiro. Nas outras vezes em que pensamos em treinar lá, o campo estava muito castigado. Ficamos preocupados de perder um jogador na véspera de um jogo importante. Cogitamos voltar a treinar lá antes de um dos jogos, mas temos que avaliar isso. Temos uma logística complicada, o que também dificulta. Além disso, tivemos que tirar toda a estrutura daqui para depois voltar.

Patrocínios

Tivemos conversas com duas empresas, mas as verbas de marketing são definidos sempre no ano anterior. Por isso, tivemos essa dificuldade. O patrocínio é uma verba importante, mas antes de tudo é um posicionamento de marca. Por isso, não posso vender por um valor muito abaixo do que o uniforme vale. Não posso reduzir essa pedida, porque os outros patrocinadores vão se sentir prejudicados. A empresa que conversou conosco em junho deixou aberta a possibilidade de negociar de novo no final do ano.