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Incêndios podem significar US$ 360 milhões perdidos em carbono

Correio do Estado

24 de Setembro de 2024 - 10:39

Incêndios podem significar US$ 360 milhões perdidos em carbono
Brigadistas lutam contra incêndios florestais no Pantanal de MS. Foto:Viviane Amorim/MMA

O fogo intenso no Pantanal neste ano vem causando não só danos ambientais, problemas de saúde principalmente respiratórios, como também atingiu o recorde em emissão de gases de efeito estufa, que pode significar uma perda milionária em créditos de carbono que poderiam ter sido calculados e comercializados.

Monitoramento que vem sendo feito ao logo de mais de duas décadas identificou que em 2024 os incêndios emitiram 15 milhões de toneladas de gases poluentes só no Mato Grosso do Sul. Caso todo esse volume fosse mantido na natureza, no mercado de serviços ecossistêmicos o valor poderia chegar a US$ 360 milhões (em torno de R$ 1,99 bilhão).

A mensuração ocorreu por meio do Serviço de Monitoramento Atmosférico Copernicus (Cams), da União Europeia, e divulgado nesta segunda-feira (23). Já o valor monetário foi calculado com cruzamento de dados de pesquisa desenvolvida na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). 
Há acompanhamento das emissões de gases de efeito estufa pelo Cams desde 2002.

“A ocorrência destes incêndios florestais pode ser considerada fora do comum, mesmo considerando que julho-setembro é o período em que normalmente ocorrem incêndios florestais na região”, apontou o Cams, em nota.

“As temperaturas extremamente altas que a América do Sul tem experimentado nos últimos meses, a seca prolongada indicada pela baixa umidade do solo e outros fatores climatológicos provavelmente contribuíram para o grande aumento da escala das emissões de incêndios, fumaça e impactos na qualidade do ar”, segue a nota.

O chamado sequestro e estoque de carbono é considerado um serviço ecossistêmico, ou seja, pode ser monetizado quando há metodologia de trabalho que monitora a conservação de um território. Como o Pantanal é um ecossistema singular, ele tem potencial para fornecer uma série dos chamados serviços ecossistêmicos.

Quando ocorre o manejo sustentável dos recursos naturais no território, é possível haver um monitoramento científico que atendendo a uma série de metodologias pode permitir que haja a venda de créditos de carbono, por exemplo. Trata-se do pagamento por serviços ambientais (PSA).

“Os serviços ecossistêmicos têm sua origem atribuída à ecologia e à biologia da conservação, e depois à economia. São os benefícios diretos e indiretos obtidos pelo homem a partir do funcionamento dos ecossistemas. O sequestro de carbono é definido como o processo de remoção de dióxido de carbono da atmosfera pelas plantas, com o armazenamento subsequente como matéria orgânica no solo. Esse fenômeno ocorre predominantemente durante o crescimento das árvores e da floresta, quando funcionam como sumidouros”, explicou a pesquisadora Larissa do Carmo Pires.

À medida que atingem o clímax de desenvolvimento, as espécies perdem essa capacidade, embora ainda mantenham a função de armazenar o carbono previamente absorvido na forma de madeira”, completou a pesquisadora, que publicou pesquisa em 2024 sobre sobre os serviços ecossistêmicos de estoque e sequestro de carbono para o Pantanal.

Ainda é possível haver o sequestro de carbono pelo solo por meio de três processos principais: humificação, agregação e sedimentação. Já as emissões ocorrem quando é registrada erosão, decomposição, volatização e lixiviação.

“As áreas úmidas abrangem aproximadamente de 6% a 9% da superfície terrestre do planeta, no entanto, elas retêm cerca de 35% do carbono presente no solo global”, afirmou a pesquisadora, mestre em Geografia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) campus de Aquidauana.
Pesquisa mais recente publicada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul indicou que existe o Custo Social do Carbono (CSC). Esse valor varia no mercado de venda/compra de créditos de carbono. Para o Pantanal de Aquidauana, onde houve incêndios neste ano, um valor sugerido estaria em US$ 24 por tonelada de dióxido de carbono para o Brasil.

No Pantanal de Mato Grosso do Sul, a única certificação de créditos de carbono já emitida está na região da Serra do Amolar. Nesse território, houve incêndios florestais em algumas áreas, porém o fogo foi com menos intensidade do que em outras partes do bioma. 
Outras certificações no Pantanal dependem de processos que proprietários rurais precisam submeter a certificadores internacionais, como a Verra, após pesquisa científica voltada para a conservação.

R$ 1,99 bilhão

Em 2024 os incêndios emitiram 15 milhões de toneladas de gases poluentes em Mato Grosso do Sul. Caso esse volume fosse mantido na natureza, poderia resultar em R$ 1,99 bilhão no mercado de serviços ecossistêmicos.