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Petrobras perde R$ 137 bilhões em 11 dias
Em um dia, a empresa perdeu R$ 40,4 bilhões em valor de mercado.
FOLHAPRESS
02 de Junho de 2018 - 08:03
As ações da Petrobras despencaram quase 15% na Bolsa nesta sexta-feira (1º) com o pedido de demissão de Pedro Parente da presidência da estatal.
Os papéis preferenciais (mais negociados) recuaram 14,86%, cotados a R$ 16,16. Os ordinários (com direito a voto) caíram 14,92%, para R$ 18,88. As ADRs (recibos de ações negociadas nos Estados Unidos) perderam 14,59%, a US$ 10,13.
Em um dia, a empresa perdeu R$ 40,4 bilhões em valor de mercado -quase o equivalente ao valor da companhia brasileira de papel e celulose Fibria (R$ 39,3 bilhões)-, aponta Einar Rivero, da empresa de informações financeiras Economática.
Desde que teve início a paralisação de caminhoneiros, em 21 de maio, a Petrobras perdeu cerca de R$ 137 bilhões. Agora, a petroleira vale R$ 231 bilhões.
"Para se ter uma ideia de grandeza, o valor de mercado do banco Santander no Brasil é de aproximadamente R$ 133 bilhões", disse Rivero.
Com a queda desta sexta, a Petrobras passa a ser a quarta maior empresa do Brasil -em 10 de maio, havia retomado a liderança em valor de mercado entre as companhias da América Latina.
Apesar de a Petrobras ter um peso de cerca de 12% do Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas da Bolsa, o indicador conseguiu subir 0,63% nesta sexta, para 77.239 pontos, segurado pelo bom humor no exterior.
No dia, o Ibovespa ganhou R$ 14,5 bilhões, segundo Rivero –sem a Petrobras, porém, o valor seria R$ 54,9 bilhões.
"A Bolsa poderia ter subido mais se a Petrobras não puxasse para baixo", disse Vinicius Freitas, economista da Ativa Investimentos.
As ações da Petrobras abriram em alta na casa de 2%. Por volta de 11h20, o mercado foi comunicado da renúncia de Parente, e os papéis entraram em leilão –as negociações ficam suspensas por atingirem oscilações máximas.
Quando voltaram a ser negociados, os papéis da estatal reabriram caindo 14%, e chegaram a perder 20%.
"O mercado via com bons olhos a gestão de Pedro Parente, com um histórico de melhor governança e bons resultados operacionais e financeiros", disse Freitas.
A B3, dona da Bolsa, explica que o procedimento de leilão é previsto pela regulação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) quando um comunicado de empresa de capital aberto é publicado com o mercado em funcionamento.
Os analistas estranharam, no entanto, o anúncio da demissão com o pregão aberto: "A gestão dele [Parente] foi marcada por colocar ordem na empresa e caprichar na comunicação com o mercado. Se a Bolsa fechasse às 18h, às 18h10 saía o balanço, quando era época de divulgação de resultados. Agora ele sai numa sexta-feira, emenda de feriado, com a Bolsa aberta?", reclamou um gestor de recursos.
Ele disse que o susto com o pregão aberto também ajudou a alimentar as perdas, já que na semana passada os papéis saíram da casa do R$ 26 para ao redor de R$ 19, com a expectativa de mudança na política de preços da empresa e a saída de Parente, o que acabou se confirmando.
Desde o início da paralisação dos caminhoneiros, há rumores no mercado de que Parente poderia renunciar, apesar dos esforços do governo e do próprio comando da estatal para garantir que não haveria interferência política nas decisões da empresa.
Em teleconferência em inglês com investidores no dia 24, após anunciar que a Petrobras cortaria o preço do diesel em 10% por 15 dias, Parente afirmou que, se o governo voltasse a controlar a política de preços da estatal, teria de encontrar "outra diretoria alinhada a essa decisão".
"Foi um golpe muito forte, mas de certa forma não foi uma surpresa. Mas a saída dele é uma sinalização muito forte para o mercado de que talvez a Petrobras não consiga permanecer com sua política de preços atual", disse Bruno Foresti, gerente de câmbio do banco Ourinvest.
Os analistas destacaram a frase "não serei empecilho para que alternativas sejam discutidas" na carta de demissão de Parente.
"As ações da Petrobras agora vão voltar a ser o que eram na época do governo do PT", afirmou um gestor, referindo-se aos tempos em que a empresa era usada para compor interesses do governo.