Com dificuldade de acesso à crédito, assentados de Sidrolândia só ficam com 0,90% do custeio do Pronaf

Embora exiba a condição de município com o maior número de assentados do País, são 4 mil famílias, que receberam aproximadamente 70 mil hectares da reforma agrária, Sidrolândia ano passado teve uma participação irrisória no acesso ao crédito do custeio e investimento para atividade agrícola.

Conforme levantamento do Banco Central, em 2019 foram firmados em Mato Grosso do Sul 14.402 contatos de custeio, financiamento do plantio de 40.537,39 hectares, gerando um desembolso de R$ 77.459.581,21.

Deste montante só 0,80% vieram para a Sidrolândia, referentes a 20 contratos de financiamento, no montante de R$ 682,7 mil para o custeio de 401,70 hectares com o cultivo de soja e milho. Em relação a 2018, houve um incremento de 53% na participação do município nos financiamentos no conjunto dos 79 municípios de Mato Grosso do Sul. No ano retrasado, houve o financiamento de 274,37 hectares com injeção de R$ 395,5 mil.

Além de ter pouco acesso ao financiamento de custeio, o assentado praticamente não recorre ao Pronaf para fazer investimento produtivo na sua propriedade, seja a correção do solo, a compra de um equipamento. Ano passado o volume de crédito contratado somou R$ 135.300,92, referente a 9 financiamentos. Menos que os R$ 159,7 mil do ano anterior.

Na avaliação do vereador Itamar de Souza, que na infância morou com os pais em acampamento e cujo pai é do Assentamento Santa Terezinha, boa parte dos assentados não consegue acesso aos financiamentos porque não conseguiram regularizar a posse dos lotes, que compraram dos beneficiários originais. “Eles não têm garantia a oferecer e os recursos da agricultura familiar só é acessível para quem tem DAP e mesmo aqueles regulares, não conseguem renovar o CCU (Contrato de concessão de Uso que precisa ser revalidado a cada 3 anos)", comenta.

Um caso emblemático é do assentado Rodrigo Gabriel, do Assentamento Barra Nova, que há 5 anos comprou a posse e se estabeleceu no lote. Já investiu R$ 50 mil no lote de 11 hectares, desistiu da horticultura por dificuldade para comercializar em Campo Grande, há 130 quilômetros de distância e abandonou a produção leiteira. "Por seis meses tentei, mas não conseguiu espaço no Ceasa na Capital porque não tinha DAP (Declaração de Aptidão do Produtor)”, afirma.

Terá de investir R$ 14 mil para recuperar a pastagem porque sua intenção é se dedicar a criação de carneiro. Sua renda hoje, provém dos serviços que faz nas fazendas da região e o salário da esposa, que é professora na escola do assentamento.

Há situações ainda piores como o da assentada que será chamada de Sandra (a pedido dela sua identidade real foi preservada). Com a separação do marido, não conseguiu tocar o lote no Assentamento São Pedro. Se mudou para cidade onde paga R$ 500,00 de aluguel e sua única renda é o arrendamento do sítio. Tentou sem sucesso uma vaga no acampamento Jatobá na antiga esplanada, mas não aceitou pagar R$ 1.500,00 a para ter direito a um barraco.