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Sidrolandia

Com a crise, dispara a quantidade de brasileiros que desistem de viver no Brasil

Número de registros de saída definitiva do país cresceu 165% em um período de sete anos; auge da debandada se deu no meio da recessão, de 2015 para 2016.

G1

17 de Dezembro de 2017 - 18:42

A quantidade de pessoas que decidiram deixar o Brasil para viver em outro país cresceu 165% em um período de sete anos. Em 2011, 8,1 mil declarações de saída definitiva foram entregues à Receita Federal; em 2017, contudo, esse número mais que dobrou, e 21,7 mil brasileiros deixaram o país até 13 de dezembro (dados mais recentes).

O salto mais expressivo na debandada coincide com o auge da crise econômica no Brasil, de 2015 para 2016, quando o número de declarações entregues subiu mais de 40%. No ano anterior, o aumento tinha sido de 19% e, de 2013 para 2014, de 24%. Os números englobam tanto as saídas de brasileiros quanto de estrangeiros que residiam no país (veja gráfico completo abaixo).

"Havia a expectativa de que a economia ia começar a melhorar e também um movimento xenófobo [no mundo], que poderia desacelerar esse processo [de saída do Brasil]. Mas as perspectivas para a política no ano que vem desanimam", afirma Jorge Botrel, sócio da JBJ Partners, empresa especializada em empreendedorismo e expatriação para os Estados Unidos, lembrando que 2018 é ano de eleições no Brasil.

No escritório de Botrel, a demanda por assessoria para deixar o Brasil está aquecida. Em 2016, ele atendeu cerca de 60 clientes, dos quais 15 já foram embora do país. Em 2017, continua ele, já foram 120 atendimentos, e 25 desses clientes já embarcaram.

"Estamos falando de pessoas qualificadas. O perfil do imigrante não é mais aquele que vem com uma mão na frente e outra atrás. São altos executivos, que estão abandonando suas carreiras para abrir um negócio, pessoas com PhD. É um movimento triste, porque o Brasil está perdendo recursos", destaca.

Botrel afirma que aqueles que procuram seus serviços são, normalmente, pessoas na faixa dos 30 aos 55 anos de idade, que se mudam com a família. "São casais com filhos pequenos que querem dar um futuro melhor para eles, muitos empresários", conta.

Esse é exatamente o perfil do paraquedista Ronaldo Tkotz, de 36 anos. Depois de muito ir e vir, ele fincou o pé nos Estados Unidos em maio. E levou a esposa e os dois filhos: um menino de 4 anos e uma menina de 2 anos.

"Foi uma decisão muito ligada à nossa insatisfação com o Brasil, não só por conta do quadro econômico, mas porque é um país muito injusto com quem trabalha, quem empreende", diz Tkotz.

Outra brasileira que ganhou um empurrãozinho da crise para dar adeus definitivo ao país foi a executiva de vendas Bruna Lousada, de 30 anos.

Ela trabalhava em uma empresa que vendia equipamentos farmacêuticos importados no Brasil e sofreu pesado com a oscilação do dólar nos últimos anos. Diante desse cenário (e do término de um longo relacionamento), resolveu colocar em prática um plano antigo: procurar emprego no exterior, na sua área.

Bruna se mudou para a Inglaterra em julho de 2015 e, hoje, mora na cidade de Cambridge. Cidadã portuguesa, ela não precisou de visto – mas o investimento para conseguir a dupla nacionalidade foi de cerca de R$ 8 mil.

"Agora que eu conheci as oportunidades que um país de primeiro mundo pode dar, não volto mais", diz Bruna.

"No Brasil, trabalhei cinco anos na mesma empresa, sendo três deles na mesma função. Aqui, em um ano e meio já fui promovida três vezes", emenda.

Imóveis no exterior

Os investimentos de brasileiros em imóveis no exterior quase dobraram de 2011 para 2016: de US$ 3,6 bilhões para US$ 6,1 bilhões, segundo dados do Banco Central.

Os Estados Unidos são o país preferido, onde foram aportados US$ 2,3 bilhões em imóveis no ano passado. Portugal vem em segundo lugar, com US$ 725 milhões, seguido de França, com US$ 589 milhões, e Itália, com US$ 290 milhões.

Matias Alem, fundador da Beyond Realty Group (BRG), que comercializa imóveis de luxo em Miami, no estado da Flórida (EUA), diz que a procura de brasileiros por apartamentos no tradicional destino de compras aumentou nos últimos dois anos.

"A gente mostra muito apartamento para brasileiros e vê profissionais qualificados se mudando para cá. Quem tem negócio grande no Brasil e não pode deixar o país também compra como segunda residência", diz.

Os imóveis que ele vende custam, em média, US$ 5 milhões (cerca de R$ 16,5 milhões).

Tkotz ainda não tem casa própria nos EUA, mas está trabalhando no relacionamento com os bancos para conseguir crédito.

O engenheiro de formação, por outro lado, já aplicou uma boa quantia em um negócio próprio no país. O dinheiro que ganhou com a venda da empresa de autopeças da sua família, em 2014, foi usado para abrir uma escola de paraquedismo na cidade de Hollister, no estado da Califórnia. Segundo ele, a nova vida é difícil, mas recompensadora.

Os investimentos na empresa foram de US$ 450 mil, e cerca de US$ 100 mil foram usados para conseguir os vistos (grande parte dos vistos que dão direito a permanecer nos EUA exige aportes significativos para movimentar a economia do país).

Todo o processo para se mudar, facilitado porque Tkotz tem passaporte alemão, levou cerca de um ano.

"Cheguei a fazer sete planos de negócios para coisas diferentes no Brasil [de táxi aéreo a franquia de fast food], mas não tive coragem de investir. Aqui, me sinto como em uma pista de patinação: é só você dar um impulso que vai longe. Lá, me sentia com lama até a cintura, é uma dificuldade enorme para se mover de um lugar para outro. Não penso em voltar de forma alguma. Se tiver que sair daqui um dia, vou para a Europa", afirma.

Bruna Lousada, formada em turismo e com MBA em marketing, diz que está juntando dinheiro para também montar seu próprio negócio.

Noiva de um português, ela pretende deixar a Inglaterra para abrir uma pousada com foco em atividades voltadas para qualidade de vida em Portugal, em 2019. Voltar para o Brasil não está nos seus planos. Pelo contrário: ela quer levar toda a família para viver na Europa – o irmão já foi, agora falta convencer os pais.