Sidrolandia
Corumbá é assim mesmo
O calor corumbaense recepcionou o 7º Festival América do Sul, chamado carinhosamente de FAS (S puxado, como o carioca faz). Os tapetes vermelhos foram estendidos nas ladeiras de Corumbá.
Redação de noticia
05 de Maio de 2010 - 16:31
O palco mais bonito do FAS, com toda certeza foi o Palco Pantanal, que tinha o próprio Pantanal Sul-Mato-Grossense como pano de fundo. Por falar em fundo, as águas do Rio Paraguai seguiam os ritmos de outra água, uma tsunami chamado Paula Águas dançava os questionamentos do ritmo que o povo insistia em indagar. As ondas de Paula também passaram pela Casa Vasquez. Lá, crianças, jovens e adultos viram danças de fadas serem narradas pelo conto do corpo.
Ainda às margens do Paraguai, no Centro de Convenções do Pantanal, Inácio de Loyola levou às lágrimas aqueles que acompanharam suas lições que servirão para toda uma vida. Continuando o passeio pela orla pantaneira, passa-se pelo Muphan, onde um ilustre pantaneiro, retrata a bovinocultura em óleo sobre tela, e revela o porquê de sua merecida homenagem.
Sem perceber a distância, chega-se no Moinho Cultural, local onde aconteceu o Quebratorto. Quebrou mesmo, virou almoço, de tão alongada que foi a programação, mas acreditem não estou reclamando. Todos ficaram tortos com as palestras de um homem de nome e de fato, carinhosamente chamado de Zuza, que mais parecia um batepapo de tão agradável que foi. Buarque, aquele chamado de Chico, certamente ficou satisfeito de ver sua obra ser acompanhada pelos acordes de um berrante. Cora Coralina mandou que sua filha avisasse que não tinham muito material para mostrar, mas mostrou muito. En-can-tou.
Despedindo-se do rio e subindo a ladeira, chega-se a praça mais generosa de Corumbá, a Ponce, hospitaleira recebeu os artesãos hermanos, os artistas de ruas e as mais variadas verdades musicais. No pavilhão de los países nossos hermanos mostraram habilidade e cordialidade com as crianças que tinham como propósito sugar todas as informações que eles pudessem dar. Deram muito mais, deram um show de simpatia e delicadeza. As mesmas características dos argentinos Los Ojedas que num espanholês arrastado, arrastou a multidão no palco Brasil com um batidão brasileiro que saia da gaita argentina.
Uma roda de mais de duas mil pessoas viram os chapéus dos brothers de rua passar e encantar. Se o seu mar tem peixes, algum mar tem zê. Teve até Pateta na parada. Tirou a carta certa. Teve sorte. E no ritmo do Hip Hop eles se despediram cantando. Brother eu te amo/ amizade e irmandade se faz assim/ nas ruas ou nos guetos/ por onde nos convidar/ Muito obrigado MS/ Valeu Corumbá/ Nós somos brothers por isso cantamos de coração/ Brother eu te amo. Ar-re-pi-ou.
Nesta mesma praça um bloco gigantesco, insistentemente chamado de Mono, cativava o público, coisa que Roberta Sá não fez. Frejat agradeceu pelos instrumentos emprestados pela galera Sul-Mato-Grossense, lembrada de última hora para compor uma falha de programação em Ladário.
A cidade onde nasce o sol pantaneiro viu apresentações improvisadas de artistas locais, mas que merecem sempre destaque por sua prontidão em atender ao pedido do público.
Caminhando pelas ruas de Corumbá ouvi um burburinho: Ontem o carinha do Filho dos Livres tocou em Ladário, hoje tem Aldeia Black. Tá bem melhor que as apresentações daqui. Outro comentou: Tem um tiozinho vendendo CD naquele corredor, mas não tinha mais nenhum do Bando nem dos Bêbados. P**** acabou cedo de novo.
O bar não oficial do festival foi feito por aqueles que fazem o festival: A equipe de produção deu um espetáculo do Skinão mais comentado de Corumbá. O local virou uma concentração de amizade e de calor humano.
Ouvi alguém dizer certa noite, aliás, certa madrugada: Deus é tão justo conosco que o sol nasce em Ládario e morre em Corumbá. Paguei pra ver, e do alto de um prédio acompanhado de mais dois amigos vimos o sol surgindo em Ladário para aquecer o povo pantaneiro, enquanto a lua cheia se despedia de mais uma linda noite e repousava no berço esplendido de Corumbá.