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Sidrolandia

No Dia de Finados, viúvas de patrão e empregado se encontram para referenciar memória dos ex-maridos

Acaso fez com que 2 viúvas cujas histórias de vida por alguns anos se entrelaçaram, fossem no mesmo horário levar flores, rezar e reverenciar a memória dos ex-companheiros.

Flávio Paes - Região News

03 de Novembro de 2017 - 14:14

Nesta quinta-feira, Dia de Finados, quando milhares de pessoas passaram pelo Cemitério São Sebastião, por volta das 9 da manhã, o acaso fez com que duas viúvas cujas histórias de vida por alguns anos se entrelaçaram, fossem no mesmo horário levar flores, rezar e principalmente reverenciar a memória dos ex-companheiros que partiram para o plano espiritual.

Dona Angelina Comparim, de 87 anos, é viúva do senhor Waldomiro João Comparim, grande produtor rural, que emprestou o nome ao Parque de Exposição, num justo reconhecimento por ele ter doado a área do parque.

Dona Isabel Cividini, 71 anos, viúva do pequeno produtor Valentin Cividini, que por muitos anos foi funcionário do senhor Waldomiro. Ambos eram gaúchos de Antônio Prado, que vieram para Mato Grosso do Sul desbravar o cerrado, plantando soja, onde antes só havia pastagem ou vegetação fechada.

Este encontro fortuito entre as ex-mulheres de dois homens de diferentes classes sociais, um patrão e outro empregado, testemunhado pela reportagem do Região News, atesta com exatidão uma verdade inescapável lembrada pelo frei Nereu Todescato durante preleção aos fieis que assistiram a missa rezada por ele em memória dos que já partiram: o cemitério é o destino final de todos, independente de raça, sexo, posição política ou classe social.

Foto: Marcos Tomé/Região News

No Dia de Finados, viúvas de patrão e empregado se encontram para referenciar memória dos ex-maridos

Seja o proprietário de uma imensidão de hectares ou um sem-terra, o espaço que lhe caberá neste latifúndio, parodiando os versos de João Cabrão de Mello, em “Morte e Vida Severina”, musicado por Chico Buarque. Daí porque, conforme lembra o religioso, a inutilidade de sentimentos mesquinhos, como a ambição desmentida, a avareza, o rancor e o ódio.  

Dona Angelina, no pleno vigor de quase 9 décadas de vida, foi casada por 44 anos com o senhor Waldomiro, que faleceu (vítima de câncer de próstata) em 8 de fevereiro de 1996, quando tinha 65 anos. Desta união, resultaram 6 filhos, criando uma descendência de 10 netos e 7 bisnetos.

No Dia de Finados, viúvas de patrão e empregado se encontram para referenciar memória dos ex-maridosO exemplo que ele deixou, segundo ela, foi de um homem trabalhador, generoso, engajado em ações filantrópicas e apaixonado pela cultura tradicionalista gaúcha. Ela conta que se emocionou com o presente que recebeu do filho mais velho (hoje com 65 anos), um quadro com a fotografia em que o casal dançava ainda moços.

Já dona Isabel é viúva desde 20 de setembro de 2000, quando o marido, a 9 dias de completar 58 anos, faleceu, não resistindo a um câncer na cabeça. A doença chegou sorrateira, sob a forma de desmaios, que os médicos demoraram em identificar a causa. Foram 33 anos de casamento, boa parte deste tempo, o casal viveu em Sidrolândia, onde a cidade era só um vilarejo. Hoje ela mora numa pequena propriedade na saída para Campo Grande, proximidades da base operacional da Policia Rodoviária Federal.

Foto: Marcos Tomé/Região News

No Dia de Finados, viúvas de patrão e empregado se encontram para referenciar memória dos ex-maridos

Dona Isabel é viúva do pequeno produtor Valentin Cividini.

Movimentação

O Dia de Finados, como é tradição, atraiu vendedores, como dona Edilza Aguillera Ventura, que há 14 anos, cumpre a rotina de a partir do dia 1º de novembro, vender nas redondezas do cemitério, arranjos, coroas e velas. Outra vendedora, ainda mais experiente, é a senhora Nerides Francesquina, que há 24 anos passa este feriado vendendo flores.