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Número de jovens que não estudam nem trabalham cresce 20% em 4 anos e chega a 25,8% em 2016, diz IBGE
Mulheres têm 1,7 vez mais chance de ficarem sem estudo e sem ocupação que os homens na faixa de 16 a 29 anos.
G1
15 de Dezembro de 2017 - 10:13
O número de jovens de 16 a 29 anos que não estudam nem trabalham subiu de 34,2 milhões em 2012 para 41,25 milhões em 2016 - o equivalente a 25,8% do total de jovens brasileiros nessa faixa etária. Em quatro anos, esse grupo, que ficou conhecido como "nem nem", aumentou 20,5%.
Isso é o que aponta a Síntese de Indicadores Sociais (SIS) divulgada nesta sexta-feira (15) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O que a gente constata é que esse aumento não é por conta da frequência escolar, mas pelo aumento da desocupação, enfatizou Luanda Bortelho, analista da Coordenação de Indicadores Sociais do IBGE.
De acordo com a pesquisa, nestes quatro anos:
- Número de jovens que apenas estudavam: aumentou 3,4 pontos percentuais
- Número de jovens que apenas trabalhavam: caiu 5 pontos percentuais
- Número de jovens que estudavam e trabalhavam: caiu 1,5 ponto percentual
O IBGE destacou, ainda, que entre 2012 e 2014 se manteve estável o percentual de jovens que não estudavam nem estavam ocupados. O salto desta população se deu, justamente, entre 2014 e 2016, período que corresponde à crise econômica no Brasil com consequente impacto no mercado de trabalho.
Desemprego entre os jovens
O crescimento dos "nem nem" está diretamente relacionado ao aumento do desemprego no Brasil, que afetou mais fortemente os jovens. Entre 2012 e 2016, saltou de 4 milhões para 6,3 milhões o número de jovens com idade entre 16 e 29 anos desempregados no país.
Isso representa um aumento de 57% do contingente de jovens desempregados e revela um dos principais efeitos da crise econômica pela qual passa o Brasil.
De acordo com o levantamento, no mesmo período, a população com mais de 16 anos cresceu apenas 6,5%, enquanto o contingente de desempregados aumentou 40,5%.
Isso nos mostra que são os jovens que mais sofreram com os efeitos da crise no mercado de trabalho, apontou a analista do IBGE, Cíntia Simões Agostinho.
Enquanto os jovens representam 28,2% da população com mais de 16 anos no país, eles respondem por 54,9% do total de desempregados. Ou seja, de cada dois desempregados, um é jovem, destacou a pesquisadora.
Segundo Cíntia, o desemprego mais frequente entre os jovens é um fenômeno mundial e histórico. São muitos os fatores que interferem nesta situação como, por exemplo, a dificuldade destes jovens em se inserir no primeiro trabalho, ou mesmo de conciliar os estudos com uma ocupação profissional.
Escolaridade e cor
Ao analisar o grupo de jovens que não estudam nem trabalham, o IBGE observou que algumas características deixam os jovens mais vulneráveis a esta condição. A maior incidência dos que não estudam nem estão ocupados ocorre entre os pretos e pardos e entre aqueles com menor nível de escolaridade, destacou Luanda. Segundo a pesquisa, do total de nem nem, 38,3% tinham ensino fundamental incompleto e 29,1% eram pretos ou pardos.
Todas as grandes regiões do país registraram aumento no número de jovens desocupados e sem estudar. O maior aumento foi observado no Nordeste (4,5 p.p.), e o menor no Sul (1,7 p.p.). Entre as 27 unidades da federação, o Amapá foi a única que registrou decréscimo desta população. Lá, houve aumento da frequência escolar, observou Luanda.
Gênero
A análise por gênero do grupo de jovens que não estudavam nem trabalhava revela, segundo o IBGE, que a desigualdade entre o percentual de homens e o de mulheres de 16 a 29 anos que não estudam nem estão ocupados persiste ao longo da série histórica.
De acordo com a pesquisa, dentre o total de jovens no país em 2016, 19% dos homens não estudavam nem estavam ocupados. Já entre as mulheres este percentual saltou para 32,7%.
Assim, a gente pode afirmar que as mulheres têm 1,7 vez mais chance de estar não estudantes e não ocupadas que os homens, afirmou Luanda Bortelho.
O IBGE ponderou que essa desigualdade de gênero não é exclusiva do caso brasileiro. Segundo o instituto, entre os países que fazem parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), as mulheres têm 1,4 vez mais chances de não estudar nem estar ocupadas que os homens. Na Turquia, as mulheres têm 3 vezes mais chances de estarem nesta condição que os homens, enquanto no México chega a 4 vezes mais.
Por outro lado, há uma série de países em que tal desigualdade não se verifica, como Suécia e Bélgica, o que indica que é um problema que pode ser enfrentado por meio de políticas públicas adequadas. Na Espanha, inclusive, as mulheres tinham menor chance que os homens de estarem não estudantes e não ocupadas, destacou o IBGE.
O IBGE ponderou, ainda, que entre o grupo dos nem nem há aqueles que fazem parte da força de trabalho e aqueles que estão fora dela. Com base nos conceitos estabelecidos pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), está fora da força de trabalho aquela pessoa que não procura por trabalho ou não tem disponibilidade para assumi-lo.
Afazeres domésticos e filhos prejudicam as mulheres
Os afazeres domésticos são a principal razão para que mulheres jovens deixem de trabalhar ou estudar, apontou a pesquisa do IBGE. Questionadas por que não tinham uma ocupação, 34,6% das mulheres disseram que tinham que cuidar de afazeres domésticos, de filhos ou de outros parentes.
Entre os homens, apenas 1,4% apontaram o mesmo motivo para estarem fora da força de trabalho. A grande maioria deles (44,4%) afirmou que não procuravam trabalho porque não havia oferta na localidade onde moram.
Em 2016 foi a primeira vez que o IBGE constatou a diminuição do percentual de homens fora da força de trabalho, o que significa que aumentou o número daqueles que desistiram de procurar alguma oportunidade no mercado.
Esta é uma resposta subjetiva. Ou seja, tem a ver com a percepção do entrevistado. Precisamos avançar em próximas pesquisas para saber se, de fato, não havia oferta de trabalho próximo de onde esse jovem morava. Da mesma forma, podemos buscar saber, entre as mulheres, o número de filhos que elas têm, ou a idade deles, por exemplo, ponderou a analista Cíntia Agostinho.