Sidrolandia
Número de mortes por câncer de colo do útero pode ser o dobro do registro oficial
Na média, os números subiram 103,4%. Para chegar a esses números foram usados fatores de correção
INCA - Ministério da Saúde
22 de Setembro de 2010 - 09:11
A mortalidade por câncer do colo do útero pode ser duas vezes o número registrado pelo Sistema de Informações de Mortalidade, do Ministério da Saúde.
De acordo com o trabalho Correção da magnitude da mortalidade por câncer do colo do útero no Brasil, 1996-2005, da pesquisadora Carmen Justina Gamarra, do Instituto de Medicina Social, da UERJ, a variação vai de 35% nas capitais da região Sul, até 339%, no interior do Nordeste.
Na média, os números subiram 103,4%. Para chegar a esses números foram usados fatores de correção.
Os cálculos estimam os casos que teriam sido omitidos por três fatores principais: sub-registro do número de mortes; registros de morte por câncer de útero, sem especificar se a parte atingida era o colo ou o corpo do órgão; e morte por causa mal definida.
Aproximadamente 50% do aumento deve-se à redistribuição dos casos de mortes registrados como por câncer de útero, sem especificação, esclarece a pesquisadora, que apresentou os principais pontos do seu trabalho no Clube da Revista, no INCA, na semana passada, a convite da Divisão de Apoio à Rede de Atenção Ocológica (Darao).
Para fazer a correção do sub-registro, Carmen usou os fatores de expansão gerados pelo Projeto Carga Global de Doença no Brasil - 1998.
Para correção das categorias de diagnósticos desconhecidos, incompletos ou mal definidos de óbitos, foi aplicada a redistribuição proporcional.
As correções foram feitas estado a estado, dividindo-os em capital, região metropolitana e interior.
Nas capitais não foi necessário fazer a correção do sub-registro, uma vez que estima-se que o registro nessas localidades seja muito próximo do número real.
Os estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul também não precisaram de correção do sub-registro, pelo mesmo motivo, ou seja, foi considerado que a cobertura dos óbitos também era próxima de 100% no interior.
As maiores diferenças foram observadas no interior dos estados com menor desenvolvimento socioeconômico, por concentrarem as mais baixas coberturas de óbitos e pior qualidade de informação nos registros de mortalidade.
De acordo com Carmen, as maiores responsáveis pelas diferenças observadas seriam a dificuldade de acesso e a baixa resolutividade dos serviços, que ainda são uma realidade, principalmente, no interior do país.
"O fato de os médicos precisarem de treinamento para preencher os atestados de óbito é evidente e não deve ser desprezado, mas se o serviço for melhor, consequentemente o preenchimento também será melhor", comenta a pesquisadora.