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Sidrolandia

Sarkozy é obrigado a falar de suposto financiamento político

Um cenário que lhe obriga, de novo, a modificar os planos de uma mudança de Governo.

EFE

06 de Julho de 2010 - 15:15

A acusação de financiamento político a favor de Nicolas Sarkozy pela herdeira da L'Oréal, Liliane Bettencourt, que o presidente francês tachou nesta terça-feira de "calúnia", obriga Sarkozy a preparar uma resposta o mais rápido possível devido à pressão de uma remodelação governamental anunciada para outubro.

Sarkozy não quis modificar sua agenda, apesar das revelações do site Médiapart a respeito da antiga contadora de Bettencourt, Claire Thibout. Após ser interrogada pela polícia, ela disse que a herdeira da L'Oréal entregou 150 mil euros para a campanha que resultou na eleição do atual presidente em março de 2007 o que, se for confirmado, é ilegal.

Thibout destacou que ela mesma foi retirar os 50 mil euros do banco, aos quais foram acrescentados outros 100 mil de contas suíças de Bettencourt, entregues no dia 27 de março de 2007 - a dois meses das eleições presidenciais - ao tesoureiro do partido de Sarkozy (UMP), o atual ministro do Trabalho, Eric Woerth.

A mulher mais rica da França, segundo o Médiapart, entregava envelopes com dinheiro a diversos políticos de direita, entre eles Sarkozy quando o presidente ainda era prefeito de Neuilly, vizinha a Paris, nos anos 90. É na cidade que está o palacete em que a multimilionária reside.

Durante uma visita a um centro de saúde da região de Paris e após resistir às insistentes perguntas dos jornalistas sobre a declaração da contabilista, Sarkozy se limitou a fazer um comentário alusivo à polêmica.

"Eu gostaria que o país se apaixonasse pelos grandes problemas, pela organização da saúde, a previdência, por como criar crescimento econômico" mais que crer "na primeira calúnia", disse.

No Palácio do Eliseu nem os membros do Governo entraram no mérito das acusações, à espera que o chefe do Estado decida a forma e o momento - segundo os meios de comunicação locais nos próximos dias -, e se limitaram a negar categoricamente tudo e a denunciar que a oposição aproveita o momento para desacreditar o Executivo.

O ministro francês do Orçamento, François Baroin, foi mais longe nas acusações ao grupo socialista, e exigiu explicações na Assembleia Nacional pela de alimentação da extrema direita ao "lançar acusações sem provas", o que fez com que os deputados da oposição abandonassem o plenário.

Momentos antes, a titular francesa de Justiça, Michèle Alliot-Marie, tinha tachado de "lamentável" que os socialistas tivessem esquecido que "a inocência se presume e a culpabilidade se demonstra" e assegurou que "a justiça está investigando" e o faz "de forma totalmente independente".

A porta voz da oposição socialista, Benoît Hamon, por sua vez, pediu a renúncia de Woerth por uma "confusão entre os interesses públicos e privados", em alusão às suspeitas de que, como responsável da política fiscal entre 2007 e 2010, ele deu um tratamento de graça a Bettencourt, para quem sua esposa trabalhava como assessora na gestão de sua fortuna.

Até agora o presidente francês se esforçou em defender Woerth, que descartou renunciar porque, na sua opinião, isso serviria para "dar a razão" aos que há três semanas participaram de uma "campanha" contra ele e assegurou que seu partido "não recebeu 1 euro ilegal".

O certo é que dentro da maioria presidencial alguns pesos pesados, como o presidente dos deputados da UMP, Jean-François Copé, e o ex-primeiro-ministro e senador Jean-Pierre Raffarin, pediram publicamente a Sarkozy que se dirija aos franceses para esclarecer as coisas.

Um cenário que lhe obriga, de novo, a modificar os planos de uma mudança de Governo. Semana passada ele tinha dito que queria realizá-la em outubro, mas que teve que começar a antecipar no domingo passado com a renúncia de dois secretários de Estado que estavam na corda bamba por terem abusado do dinheiro público.