Sidrolandia
Trabalho de pesquisador do ISI Biomassa é destaque em Congresso Nacional de Celulose
O artigo técnico de Jorge Neto discorreu sobre os efeitos de longo prazo da suplementação de flavonoides na formação da madeira em eucalipto
Daniel Pedra/Fiems
07 de Dezembro de 2017 - 08:47
Pesquisador industrial do Instituto Senai de Inovação em Biomassa (ISI Biomassa), localizado em Três Lagoas (MS) e que será oficialmente inaugurado no próximo dia 15 de dezembro, Jorge Lepikson Neto é autor de um dos dez trabalhados mais bem pontuados do 50° Congresso Internacional de Celulose e Papel da ABTCP (Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel) Indústria do Futuro: Novos Caminhos, Novos Processos e Inovações Tecnológicas, realizado de 23 a 25 de outubro em São Paulo (SP).
Referência na agenda global de eventos técnicos do setor, 134 trabalhos foram inscritos no evento e o artigo técnico do pesquisador do ISI Biomassa obteve destaque, segundo o Comitê Científico do Congresso, por contribuir com o objetivo comum de desenvolver a indústria de base florestal. A pesquisa em inovação é fundamental para o avanço da indústria do Estado e do País, detalhou Jorge Neto.
Ele explica que, usando como exemplo o trabalho em questão, mostrou que a aplicação de técnicas de biotecnologia pode identificar bio-estimulantes capazes de alterar a composição da madeira do eucalipto, promover ganho de biomassa e melhorar o enraizamento de mudas em viveiro. Dessa forma, podemos gerar ganhos de produção e ampliar a possibilidade de utilização de clones elites, comentou.
Pesquisa
O artigo técnico de Jorge Neto discorreu sobre os efeitos de longo prazo da suplementação de flavonoides na formação da madeira em eucalipto. Esse trabalho iniciou-se com a análise da expressão gênica de diferentes espécies de eucalipto, buscando identificar genes que pudessem estar relacionados com a formação da madeira e características superiores para produção de papel. Basicamente, comparamos espécies boas produtoras de papel com outras sem essa característica e conseguimos identificar alguns alvos, genes promissores e seus produtos, contextualizou.
Para desenvolver o trabalho, o pesquisador do ISI Biomassa contou que foram feitos protocolos de suplementação das mudas de eucalipto e uma análise físico-química completa da madeira, além de sequenciar seu transcriptoma para entender as consequências desses protocolos em nível molecular. Primeiramente, isso foi realizado em pequena escala. Com os resultados positivos, foi ampliado ao viveiro de uma grande empresa de papel e celulose, detalhou.
Ele reforça as etapas da pesquisa. Verificamos que os efeitos tinham uma memória: seis meses após a suplementação, as mudanças persistiam. Com a ampliação do trabalho, pudemos verificar que tais efeitos, na verdade, persistem até a idade adulta das árvores ou seja, a suplementação em viveiro em idade jovem afeta características de árvores com quatro anos de idade, destacou, lembrando que o projeto já vem sendo desenvolvido desde 2008 e, entre as análises já realizadas no período, estão: pirólise analítica, NIR, sequenciamento de RNA, metabolômica, thioacidólise e hidrólise enzimática.
Conforme relatou o pesquisador, a suplementação por flavonoides tem efeitos na solubilidade da madeira, aumentando a razão S/G da lignina e diminuindo em até 10% a lignina Klason nas árvores adultas. Como principal inovação do trabalho, saímos de uma análise de expressão gênica, com um protocolo simples e barato, para modificação da composição química da madeira do eucalipto. As análises biotecnológicas ainda são pouco aplicadas no setor, mas têm grande potencial para resultados em médio e longo prazo, enfatizou.
Jorge Neto reforçou que a possibilidade de aplicar um método rápido e barato, capaz de reduzir a lignina do eucalipto, é muito promissora. Isso já pode ser colocado em prática. Estamos também buscando identificar os mecanismos moleculares responsáveis por esses efeitos para que abram novas possibilidades de aplicação industrial, adiantou sobre os próximos passos.
Ele contou que a equipe está em busca de meios de fazer uma aplicação contínua em campo sem a necessidade do envolvimento de pessoal da empresa. Buscamos algo automatizado ou, ainda, desenvolver produtos que liberem esse composto aos poucos. Esperamos assim intensificar os efeitos nas árvores adultas, concluiu.
ISI Biomassa
Funcionando a pleno vapor e já movimentando a economia de Mato Grosso do Sul com oportunidades de negócios, o ISI Biomassa será oficialmente inaugurado no dia 15 de dezembro de 2017, às 11 horas. Localizado ao lado do Novo Sesi em uma área de 42 mil m² onde funcionava a extinta estação ferroviária da NOB (Noroeste do Brasil), o instituto atenderá demandas vindas do Brasil inteiro no tocante à bioenergia, com diversos convênios já firmados.
A construção manteve as estruturas antigas da história da ferrovia, com as logomarcas dos barracões que acomodavam peças e máquinas de manutenção. Foram investidos de R$ 35 milhões, entre a obra de restauração da ferrovia, edificação dos laboratórios e aquisição de equipamentos.
O ISI Biomassa permitirá a atualização e a qualificação dos pesquisadores para gerar conhecimento e desenvolver tecnologias inovadoras que atendam às necessidades atuais e futuras da indústria. Com atuação transversal no campo da biomassa, o Instituto pretende atender a todos os setores da indústria e às demandas específicas de cada região do País em áreas como energias renováveis, cosméticos, fármacos e fármacos veterinários.
Credenciado pelo instituto Embrapii, o ISI Biomassa e outras oito unidades e polos que também foram habilitados receberão R$ 52 milhões em recursos para desenvolver projetos de inovação em parceria com empresas. O Senai sempre tem sido pioneiro na condução das questões ligadas à inovação em Mato Grosso do Sul e, percebendo a importância e o potencial inovador das empresas sul-mato-grossenses, especialmente as indústrias, houve o entendimento de que seria viável investir em um instituto focado na pesquisa e desenvolvimento de produtos e serviços voltados, principalmente, para a transformação de biomassa e todas as demais linhas associadas ao tema, declarou o diretor-regional do Senai, Jesner Escandolhero.