Agronegócio
Produção da safra de milho pode ser a 2ª maior da história
Estimativa do IBGE aponta que colheita da safrinha 2021/2022 deve atingir 11,9 milhões de toneladas.
Correio do Estado
17 de Agosto de 2022 - 08:54
A colheita da 2ª safra de milho chegou a 48,9% do total de lavouras em Mato Grosso do Sul. Com o bom desenvolvimento da produção neste ciclo 2021/2022, a projeção é que a safrinha seja a segunda melhor da história do Estado.
O Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), divulgado na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima que a produção do milho segunda safra em Mato Grosso do Sul deve atingir 11,907 milhões de toneladas.
O total aponta para 2,567 milhões a mais que o estimado pelo Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio (Siga-MS). A projeção local é de 9,340 milhões de toneladas, mas uma revisão deve ser divulgada até o início de setembro, segundo apurou o Correio do Estado.
Caso o número se confirme, o Estado terá alta de 82,39% na produção em comparação com 2021, quando a quebra da safrinha gerou 6,528 milhões de toneladas de milho no Estado.
No comparativo com os ciclos passados, a safra 2021/2022 de milho pode se confirmar como a segunda maior registrada em MS, atrás apenas do ciclo recorde que foi atingido na 2ª safra 2018/2019, quando o Estado colheu 12,160 milhões de toneladas do cereal.
Conforme o boletim Casa Rural, elaborado pela Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Sistema Famasul), 80,8% das lavouras do Estado estão em boas condições de desenvolvimento e, por isso, há uma boa perspectiva para os números.
O relatório do IBGE aponta que Mato Grosso do Sul segue como um dos principais produtores de grãos, cereais e leguminosas do Brasil, com participação de 8,1% no total da produção anual.
O levantamento de julho do LSPA aponta que, neste ano, o Brasil produzirá 263,4 milhões de toneladas, 4% a mais que o levantamento do mesmo mês de 2021 e 0,8% a mais no comparativo com junho.
De acordo com o gerente da Pesquisa, Carlos Barradas, o milho está com os preços elevados, o que levou os produtores a ampliarem o plantio em âmbito nacional.
“Hoje, a segunda safra é muito maior que a de verão. O clima ajudou, diferentemente do ano passado, quando tivemos problemas de clima na segunda safra. Isso explica esse alto crescimento da produção do milho de segunda safra em relação ao ano passado”, esclarece Barradas.
Já em Mato Grosso do Sul, a área plantada apresentou recuo. Segundo o boletim Casa Rural, a estimativa para o milho 2ª safra 2021/2022 é de 1,992 milhão de hectares, retração de 12,6% em relação à área da 2ª safra de 2020/2021.
PREÇOS
Dados da Granos Corretora apontam que, no fechamento desta terça-feira, a saca de milho com 60 kg era comercializada a R$ 69 no mercado físico do Estado. Em um ano, o preço do cereal apresentou queda de 23,11%. Em agosto de 2021, o valor médio da saca estava em R$ 89,75.
Conforme especialistas consultados pelo Correio do Estado, a variação da última safra pode ser explicada pela maior oferta de milho no mercado este ano. Segundo o consultor e agrônomo João Pedro Dias, os fatores que explicam essa variação são pontuais.
“Se há aumento de oferta, o preço no mercado cai. Se continuarmos o ritmo de exportação tão intenso – estamos vendo mais de 7 milhões de toneladas exportadas no Brasil –, é possível que haja uma alta”, analisa.
O agrônomo Everton Tiago Bortoloto relata que há uma expectativa boa em relação a essa segunda safra. “Os produtores estão animados, e quem pode segurar no armazém está segurando, esperando a alta. Este ano a safrinha vem boa”, resume.
Dias diz que existe margem boa no momento e que os negócios estão acontecendo. “O mercado externo compra da mão para a boca, o grão sai direto para a transformação, então não está sendo feito estoque. Muita gente acha que está caro ainda, com a segunda safra boa, o preço pode estabilizar, é preciso esperar”, afirma.
EXTERIOR
Conforme o consultor, este ano, a determinação de preço está sendo feita pelo mercado externo, diferente do ciclo 2021. Naquele momento, as geadas e a seca causaram a quebra da produção.
Conforme dados da Famasul, a área para a safra de inverno 2020/2021 destinada ao milho atingiu 2,280 milhões de hectares e produção de 6,528 milhões de toneladas. Na comparação com a safra 2019/2020, quando foram colhidas 10,618 milhões de toneladas, a queda da produção foi de 38,51%.
Esse panorama fez os preços subirem naquele período. Atualmente, o mercado interno está melhor atendido e quem faz a marcação de preços é a demanda externa.
“Conforme for o ciclo de colheitas, vamos ver como o preço se comporta. Nos últimos dias, as exportações avançaram e ‘travaram’ as vendas internas. Este ano, quem define é o mercado exterior”, avalia Dias.
Para ele, o principal ponto de tensão ainda é a situação climática nos Estados Unidos para a safra de soja e de milho. “O mercado americano é o segundo maior produtor de soja e de milho, o que acontecer lá vai impactar o mundo todo. Temos problemas na Ucrânia e Rússia por causa da guerra e da falta de escoamento”, analisa
Caso as intempéries sentidas na safra americana se intensifiquem e o período crítico se estenda para a etapa de enchimento de grãos, o consultor acredita que os preços podem subir ainda mais no mercado mundial.
“Esses dois fatores: temperatura elevada e umidade do solo, se desregulados, dificultam a polinização e impedem que as sementes fecundem direito. Até o fim do mês saberemos se a quebra será algo que pode puxar os preços no mercado”, finaliza.
A expectativa, segundo os consultores, é de que o preço da saca de milho deve subir em setembro ou em outubro.
CUSTOS ALTOS
Apesar da melhora na produtividade, os produtores ainda sentem a alta no preço de custo. Segundo o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja-MS), André Dobashi, os números de deflação medidos em julho pelo IBGE apresentam impactos irrisórios sobre os custos de produção.
“Apesar de os resultados mostrarem uma pequena melhora do cenário inflacionário, com a redução de 0,68% na inflação acumulada neste ano – que é de 4,69% no acumulado do ano e de 10,06% nos últimos 12 meses –, ainda não se percebe mudanças significativas nos custos para o produtor”, revela.
Dados da Aprosoja apontam uma alta de 148,48% em comparação com o preço da safra passada. Em setembro de 2021, o preço estava acima de R$ 6 mil por hectare, valor 92,74% maior considerando a safra 2020/2021, quando o custo era de R$ 3,5 mil por hectare para iniciar. Só nos últimos seis meses, entre setembro de 2021 e março de 2022, a alta foi de 28,80%.
Dobashi finaliza dizendo que o planejamento continua sendo um aliado indispensável do agricultor no momento da aquisição dos insumos e da comercialização dessa próxima safra de soja.
23,11% DE QUEDA EM UM ANO
No fechamento desta terça-feira (16), a saca de milho com 60 kg era comercializada a R$ 69 no mercado físico do Estado. Em um ano, o preço do cereal apresentou queda de 23,11%. Em agosto de 2021, o valor médio era de R$ 89,75.