Brasil
Brasil sofre com a pior seca em quatro décadas e enfrenta impactos severos
Seca prolongada afeta rios, energia e provoca aumento das queimadas; 16 estados registram níveis críticos de estiagem.
JD1
26 de Agosto de 2024 - 16:35
O Brasil está passando pelo pior período seco enfrentando nos últimos 40 anos, resultando em cidades sufocadas pelas queimadas e pela fumaça; rios expostos e animais morrendo pela falta de água; o setor hidrelétrico em alerta devido à baixa nos reservatórios; e o ar seco.
Esse cenário foi relatado pelo Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), que é ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI) e é responsável pelo fornecimento de dados ao governo federal sobre o cenário.
Ana Paula Cunha, especialista no monitoramento de secas do órgão, explica que, além de extensa pelo país, é a primeira vez em anos de monitoramento que se observa uma seca tão longa. "A gente nunca tinha visto de forma tão expandida pelo país, fora dos estados do semiárido, uma seca tão longa. Já são 12 meses de duração. Isso é um cenário muito preocupante", disse.
Cronologia da seca
Os primeiros registros foram feitos em junho de 2023, com a chegada do El Niño, que mudou os ciclos de chuva pelo país. Ali, a expectativa era de que o período chuvoso em outubro de 2023 pudesse amenizar o impacto, mas com muitos bloqueios atmosféricos, que impediram que as frentes frias avançassem, o índice ficou abaixo da média em quase todo o país, com exceção do Rio Grande do Sul. A região Norte viveu a pior seca já vista até então.
No início de 2024, os especialistas estavam esperançosos por uma trégua, mas isso não aconteceu. O El Niño se encerrou, mas o aquecimento do Atlântico Tropical Norte, reflexo do aquecimento global, fez com que o padrão de chuvas continuasse alterado e, com isso, ela seguiu abaixo da média.
Enquanto tudo isso acontecia, o país bateu recorde de temperaturas máximas. Isso tornou tudo ainda mais seco porque faz aumentar a evapotranspiração, que é o movimento das águas dos rios evaporarem. Em geral, elas se transformam em umidade e, depois, voltam ao rio com chuva. Mas isso não estava acontecendo.
Agora, o Brasil completa 12 meses sob o efeito de seca na maior parte do mapa. O ranking do Cemaden aponta que, em vários trechos, 16 estados registraram o pior índice no período em 44 anos, mas a estiagem se prolonga por quase todas as unidades da federação, com exceção do Rio Grande do Sul, porém com intensidade menor.
Das 27 unidades da federação, 16 estados e o Distrito Federal enfrentam a pior estiagem já vista no período de maio a agosto, desde os anos 1980.
Na lista estão:
Mato Grosso do Sul
Amazonas
Acre
Rondônia
Mato Grosso
Pará
Goiás
Minas Gerais
São Paulo
Paraná
Rio de Janeiro
Espírito Santo
Bahia
Piauí
Maranhão
Tocantins
Quanto mais tempo esse cenário durar, mais impactos ele causa, mas mais que isso, é mais difícil ainda de recuperar. A situação é tão grave que é preciso ciclos de chuva acima da média para ajudar a amenizar e isso não vai acontecer no próximo ciclo. Não vai ser o suficiente.
E no que isso impacta?
Segundo o Cemaden, a falta de chuva com o aumento da temperatura vem afetando os rios pelo Brasil. A maior parte das bacias está sob classificação de seca.
Esses ciclos de seca são preocupantes para as bacias. O rio sobrevive com a água do lençol freático, que passa abaixo dele. Se não tem chuva, esse lençol não é alimentado e com tanto tempo sem repor água, isso dificulta a recuperação. Já estamos vendo rios menores, de cabeceiras, desaparecerem com o tempo em alguns pontos.
A descida dos rios já vem mostrando impactos. No Norte, há dezenas de cidades em alerta, com as autoridades pedindo que estoquem alimentos. A navegação em algumas áreas, principal meio de transporte, já é difícil.
Isso não afeta só as comunidades locais, mas também a economia nacional com o escoamento de produtos da zona franca de Manaus, por exemplo. Em 2023, as empresas anunciaram gastos de R$1,4 bilhão pela falta de água, o que impactou o preço dos produtos que são distribuídos pelo país.
Queimadas pelo país
A seca deixa a vegetação ressecada e mais vulnerável ao fogo, que vem sendo vítima da ação humana. Com isso, um pequeno foco de incêndio pode se alastrar por quilômetros.
Este ano, com a seca, a temporada de queimadas começou antes do previsto e mais grave do que antes, o que preocupa especialistas. Geralmente, o fogo começa em setembro, que é também o pico do período seco.
Segundo os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o número de focos de incêndio registrados no país é o pior em 14 anos.