Economia
Ipea: Falta de competitividade da indústria compromete crescimento
Agência Brasil
15 de Fevereiro de 2012 - 15:42
A concentração da pauta exportadora brasileira em produtos básicos cotados internacionalmente (commodities) e a queda da participação dos produtos manufaturados nas vendas externas devem ser vistas como alerta para a economia do Brasil, na opinião de técnicos do Grupo de Análise e Previsões (GAP) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Para Roberto Messenberg, coordenador da equipe de estudos responsável pelo boletim Conjuntura em Foco, divulgado hoje (15), no Rio de Janeiro, a falta de competitividade da indústria nacional pode comprometer o crescimento econômico do país.
Messenberg defendeu a elevação de taxas de investimento do setor produtivo com a participação ativa do setor público. Para o economista, o governo precisa estabelecer regras de política fiscal que criem um ambiente industrial atraente. Segundo ele, no Brasil, o empresário não olha para o mercado na hora de definir os planos de investimento, mas para o setor público.
O setor privado não vai entrar através dos mecanismos clássicos de mercado. Você tem que dar garantia, tem que investir, fazer parcerias. E é esse movimento que está faltando para a economia brasileira deslanchar, diagnosticou o economista.
Para Messenberg, a economia brasileira está progredindo, mas é preciso mudar algumas estratégias. Não podemos ficar esperando que o brasileiro consuma menos para criar poupança, para que essa poupança seja convertida em investimentos. Isso só vai causar uma redução do nível da atividade econômica e nos perpetuar numa armadilha que nós mesmos nos colocamos.
Enquanto a fatia de exportações de commodities aumentou de 29,3% para 36% da pauta total, entre 2005 e 2011, a venda de produtos industrializados caiu de 55,1% para 47,8%. Em 2010, o Brasil respondeu por apenas 0,69% do volume mundial das vendas externas de manufaturados, cinco anos depois de ter atingido o pico de 0,81% (em 2005). Para técnicos do GAP, os números podem significar prejuízo para a indústria nacional no médio e longo prazos.
O grupo de pesquisa também destacou as reduzidas taxas de investimento na economia verificadas desde a implantação do Plano Real, em 1994, em patamares inferiores a 20% do Produto Interno Bruto (PIB). O governo tem uma programação, mas a execução é fundamental e não é simples. Tem que fazer as regras, as normas, as licitações, priorizar as áreas, montar uma equipe bem organizada e coordenada. Isso leva tempo, avaliou o economista.
Messenberg também defendeu a criação de mecanismos de financiamento doméstico como uma forma de garantir maior autonomia na captação de recursos. A gente não pode ficar dependendo exclusivamente do capital de longo prazo do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] e de captações lá fora [no exterior]. Isso pode avançar. O coordenador do GAP também defendeu o fortalecimento do mercado de trabalho e criticou as linhas econômicas que apontam uma relação negativa entre o incremento no número de ocupações formais e a inflação.