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ECONOMIA

Monitoramento por satélite confirma risco à safra recorde de soja no Estado

Previsão de pouca chuva e calor acima da média já sinaliza piora nas condições das lavouras em várias regiões de MS.

Correio do Estado

28 de Janeiro de 2025 - 10:38

Monitoramento por satélite confirma risco à safra recorde de soja no Estado
A lavoura de soja no interior de Mato Grosso do Sul já mostra sinais de ter sido prejudicada pela estiagem neste mês. Foto: José Roberto dos Santos

Em Mato Grosso do Sul, o acumulado das chuvas desde 15 de dezembro de 2024 se assemelha ao de anos ruins, como 2022 e 2024, ambos marcados por quebras de safra. O índice de vegetação no Estado aponta condições piores que as registradas no ano passado, quando houve uma perda de 20% da produtividade da soja.

A leitura é da EarthDaily Agro, empresa especializada em monitoramento agrícola via satélite baseado nos modelos ECMWF e GFS. Ela também alerta para o risco de quebra de safra na Região Sul do Brasil.

“No vizinho Mato Grosso, entretanto, o volume de chuvas inferior à média pode contribuir para as operações de campo [colheita da soja e plantio do milho safrinha]”, comenta Felippe Reis, analista de culturas da EarthDaily Agro.

ESTIAGEM DEIXA MARCAS

Castigada pelas fortes estiagens que atingiram importantes polos produtivos de Mato Grosso do Sul, a safra de soja 2021/2022 nunca vai sair da lembrança dos agricultores.

Com uma área de 3,748 milhões de hectares (38,81% maior em relação ao ciclo anterior), o Estado colheu uma média de 38,65 sacas por hectares (sc/ha), alcançando uma produção total de 8,691 milhões de toneladas.

Naquela safra, a produtividade média ponderada para Mato Grosso do Sul se manteve baixa em função das produtividades em alguns municípios do Estado, como Maracaju, Sidrolândia, Ponta Porã, Dourados e Rio Brilhante, as quais foram abaixo de 46,78 sc/ha.

Juntas, essas cidades têm o peso de 34% na média estadual. Esses números são de levantamento feito pelo Sistema de Informações Geográficas do Agronegócio (Siga-MS), divulgado pela Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS).

No ciclo posterior, a área de soja na safra 2022/2023 alcançou no Estado a marca de 4,005 milhões de hectares, enquanto a produtividade média ponderada foi de 62,44 sc/ha – uma produção recorde de 15 milhões de toneladas.

No ciclo 2023/2024, apesar de uma área plantada maior (com 4,213 milhões de hectares), a produção de soja de Mato Grosso do Sul caiu 21,8% ante a safra anterior, registrando 12,347 milhões de toneladas e com uma produtividade média ponderada de 48,83 sc/ha – média semelhante ao ciclo 2018/2019.

A causa? A falta de chuvas em importantes fases de desenvolvimento das plantas.

SAFRA 2024/2025 EM RISCO

No atual ciclo da soja, áreas em todo o Estado classificadas como ruim e regular já chegam a quase 40% do total previsto, que é de 4,501 milhões de hectares.

Na região identificada como centro – a qual inclui Campo Grande, Brasilândia, Dois Irmãos do Buriti, Nova Alvorada do Sul, Ribas do Rio Pardo, Rio Brilhante, Santa Rita do Pardo, Sidrolândia e Terenos –, o total de lavouras em condições ruim e regular é de 45,5%.

Municípios como Sidrolândia – isto é, de grande potencial produtivo – têm 35% das lavouras em condição ruim (que não podem mais ser recuperadas) e outras 15% em condição regular. O mesmo ocorre com Rio Brilhante, que tem 20% ruim e 20% regular.

Já Campo Grande tem 50% de suas lavouras de soja em condições ruim e regular.

Outro exemplo de um município sob grande risco de perdas é Dourados, com 35% de lavouras em condição ruim e 35% classificadas como regular.

Na região sul do Estado, toda quase 70% das lavouras de soja estão na faixa ruim e regular. A mesma situação sofre a região sul-fronteira, com 69,8% das lavouras tidas como ruim (44,6%) e regular (25,2%).

Nessas duas regiões de Mato Grosso do Sul, cerca de 30 municípios estão pedindo decretação de situação de emergência, ocasionado pela falta de chuvas no campo.

MILHO REPETIU DESASTRE

A estiagem intensa que afetou o Estado na safra 2023/2024 causou uma queda de 40,5% na produção de milho em comparação à safra passada, fechando com 8,457 milhões de toneladas.

À época, a produtividade fechou em 67,05 sacas/ha – uma queda de 33% no comparativo com o ciclo anterior. Concluída oficialmente em setembro de 2024, esse resultado representa a terceira pior safra de milho dos últimos 10 anos em Mato Grosso do Sul.

As áreas mais atingidas pela estiagem foram no período reprodutivo da planta, desde o florescimento até o enchimento de grão. A seca causada nessas fases é irreversível, afetando diretamente a reserva nutricional do grão, resultando em espigas pequenas, com ausência de grãos, e/ou até plantas sem espigas – é o que apontou o relatório da Aprosoja-MS, entregue à época para o governador Eduardo Riedel.

PREOCUPAÇÃO

Mapas climatológicos elaborados pelo Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul (Cemtec-MS) indicam a probabilidade de as chuvas ficarem próximas a ligeiramente abaixo da média histórica para o trimestre (de fevereiro a abril).

O Cemtec-MS conclui que, para esse período, analisando os dados da precipitação acumulada de janeiro a dezembro de 2024, observa-se um deficit de chuvas em praticamente todos os municípios do Estado.

Para piorar a situação, a temperatura do ar deve permanecer acima da média para a época, ou seja, há a previsão de um trimestre mais quente que o normal em Mato Grosso do Sul.