Policial
Ex-comandante sequestrado diz que viveu horror nas mãos dos bandidos
Ele narrou que o trio usava armas potentes e até uma granada de fabricação caseira
Midiamax
28 de Março de 2011 - 14:00
O ex-deputado estadual, ex-comandante da Polícia Militar e ex-deputado estadual José Ivan de Almeida, mais conhecido como coronel Ivan, 56, disse ter vivido um inferno nas mãos dos três sequestradores que o renderam na sexta-feira à noite, em Campo Grande. Ele brigou com os bandidos, levou uma paulada na cabeça, ficou desacordado, foi posto deitado num formigueiro e só não teria sido executado por simular um desmaio.
Ele narrou que o trio usava armas potentes e até uma granada de fabricação caseira. O militar da reserva teve um dos dentes quebrado pelo cano de um revólver que foi enfiado em sua boca. Refém por ao menos oito horas, o coronel da reserva disse ter corrido a pé por ao menos uma hora e meia, até achar ajuda.
Com exclusividade, o coronel conversou nesta manhã com a reportagem do Midiamax. Ele disse ter ido por volta das 21h da sexta-feira passada até o residencial Magno, um condomínio fechado, região da Grande Tiradentes, onde iria conversar com um professor. Como a pessoa não estava ele resolveu aguardá-la do lado de fora.
Vi três homens vindo em minha direção e logo tive um pressentimento: vou ser assaltado, contou.
Foi o que ocorreu. Ainda sem usar capuzes na cabeça, um dos sequestradores o empurrou para o lado do passageiro e controlou o veículo do coronel, uma S-10 fabricada em 2008, avaliada em R$ 60 mil. Os bandidos seguiram pela avenida Três Barras até o entroncamento do minianel, trecho que liga Campo Grande a São Paulo e Três Lagoas.
No caminho o coronel foi posto no banco traseiro e um dos sequestradores mudou-se para frente. Nisso, o trio pôs capuzes. Em dado trecho da avenida, o coronel viu uma viatura de policiais de Trânsito. Nesse momento, disse, ele gritou e deu um tapa na cabeça de um dos bandidos sentado do lado do passageiro.
Paulada
A partir dali, narrou o coronel, ele foi espancado até desmaiar. Levei uma paulada na cabeça, não vi mais nada. Antes, tentaram por a granada na minha boca, mas convenci-os que se fizessem isso todos poderiam morrer. Quando acordei estava amarrado com as mãos para trás, perto da unidade agrária da Uniderp, revelou. Esse local fica na região dos fundos do Parque dos Poderes, habitada por pequenos chacareiros.
Coronel Ivan sustentou que das 22h até por volta das 3h da madrugada de sábado, os sequestradores o mudaram de cativeiro por ao menos cinco vezes, sempre perto da unidade universitária.
O ex-comandante da PM disse que enquanto imobilizado levava chutes e cotoveladas na cabeça. Entre um golpe e outro, um dos bandidos, segundo ele, enfiou o cano do revólver em sua boca, quebrando um dos dentes do maxilar inferior ele o exibiu durante a entrevista.
Já por volta de uma hora nas mãos dos sequestradores, o coronel dialogou com um dos membros da quadrilha, o primeiro que teria dito a ele que ia matá-lo. O ex-comandante afirmou que tinha 90 euros num dos bolsos e que poderia entregá-lo. O bandido, segundo ele, pegou o dinheiro escondido da dupla que aguardava a chegada de um quarto integrante.
A partir dali esse cara passou a aliviar a violência. Sempre que um me chutavam, ele dizia aos comparsas, para ai, vai com calma, ele [coronel] pode morrer aqui, disse o coronel Ivan.
O coronel contou que até ali os sequestradores não tinham vasculhado seu veículo, onde guardava ao menos R$ 3.5 mil e outros R$ 2 mil num dos bolsos. Esse dinheiro era para pagar peças de carro e meus impostos, disse ele.
Mais tarde, os ladrões descobriram o dinheiro dentro do carro e os documentos do coronel. Como na identidade de militar existe um brasão federal, os caras acharam que eu era um Policial Federal. Ai, perguntaram o que eu fazia ali [onde fora sequestrado], disse que tinha se aposentado por ter pegado malária no Amazonas e trabalhava negociando ar condicionado, disse ele, que transportava dois desses equipamentos na carroceria da caminhonete.
Acho que ao menos um dos bandidos sabia quem era eu, tanto que me chamou de coronel uma vez.
Os sequestradores pediam ao militar jóia, relógio, anéis, dinheiro e cartões de crédito. Não tinha nada disso, só o dinheiro e um talão de cheques.
Formigueiro
Para o coronel Ivan, dois dos bandidos eram o que ele chamou de principiante. Eles não conheciam os equipamentos eletrônicos do carro e, mesmo com meus documentos nas mãos, não ficaram sabendo que eu era um militar da reserva.
No terceiro cativeiro, os bandidos me jogaram num formigueiro. Minha sorte é que sempre uso duas camisas, uma sorte. A sorte mesmo do coronel foi que um dos bandidos, aquele que recebeu os euros, mostrou uma das formigas, de espécie grande, ao líder da quadrilha e o convenceu a tirá-lo dali.
Ainda assim, o coronel levou chutes. Ele revelou ter dito aos bandidos que se fosse para morrer em cima do formigueiro ou levando pancadas, que preferiria levar um tiro. Um deles carregava uma arma longa na mão, disse.
Ainda com os R$ 2 mil no bolso traseiro, o ex-deputado afirmou ter feito um gesto com uma das mãos e isso irritou um dos ladrões. Eu ia por o dinheiro na cueca, mas o cara viu e logo descobriu o dinheiro. Levei mais chutes.
Já perto das 6 horas da manhã de sábado, um quarto integrante do bando se junta ao trio. Eis o dramático diálogo mantido a partir de então, segundo reprodução do coronel: eles disseram, e agora, matamos ele? Vamos dar uma paulada ou tiro? Não, tiro vai fazer barulho. Paulada, também.
Nessa hora, segundo o coronel, ele estava caído, com a cabeça dentro de um buraco. Fingi que estava desmaiado, mal, e um deles se aproximou e, com o pé me empurrou mais para o buraco. Foram embora depois, contou.
Fronteira
Quando percebeu que a quadrilha havia saído com sua caminhonete, o coronel se soltou das amarras feitas com tiras de camisa, e correu atrás do socorro. Ninguém para, passei por carros, até um trator. Eu disse ao tratorista: sou o coronel Ivan, fui sequestrado. E o homem respondeu: não conheço o senhor, fico só aqui na chácara, lamentou o ex-comandante.
Depois de quase uma hora e meia de caminhada, ele entrou na recepção de uma transportadora, onde conseguiu ajuda. Contei do sequestro a um homem que se identificou como Luiz e ele me disse: eu conheço, votei no senhor.
Coronel Ivan acionou os policiais militares, que até este manhã não tinha localizado os bandidos. A caminhonete foi achada na estrada conhecida como Gameleira, atolada. Presume a polícia que o veículo seria levado para a fronteira.
O coronel Ivan concedeu a entrevista ao lado da mulher. Decisão judicial anunciada na sexta-feira determinava que o militar não se aproximasse da casa dela por uma distância de 300 metros. Não é nada disso, disse ele que não quis comentar o caso. Nem ela. O casal saiu de mãos dadas.