Política
Carta especial para dirigir carro potente não evitará acidentes
Projeto quer exigir habilitação de categoria C para veículos com mais de 300 cv
R7
07 de Janeiro de 2012 - 10:32
O projeto de lei federal que propõe exigir habilitação de categoria C para motoristas de carros com 300 cv ou mais de potência seria pouco eficaz na prevenção de acidentes, dizem especialistas ouvidos pelo R7.
A proposta, que tramita de forma conclusiva na Câmara dos Deputados, prevê que os condutores desses carros potentes sejam obrigados a tirar a habilitação que hoje é exigida de motoristas de veículos com peso maior do que 3,5 toneladas.
Para obter a carta C, o condutor deve estar habilitado há pelo menos um ano na categoria B (de veículos comuns) e não ter cometido nenhuma infração grave ou gravíssima, ou ser reincidente em infrações médias, durante os 12 meses anteriores.
Segundo o especialista em segurança no trânsito e ex-chefe da Polícia Rodoviária do Rio Grande do Sul Mauri Panitz, o projeto não ataca o problema principal.
- A potência do carro é o de menos. Um motorista despreparado ou irresponsável vai causar acidente com qualquer carro, não importa a potência.
Panitz vai mais longe e diz que, nas mãos de motoristas capacitados, carros com potência "de sobra" podem até ser mais seguros.
- Do ponto de vista técnico, a potência é um item de segurança ativa. Um carro potente me permite fazer uma ultrapassagem mais rápida e mais segura.
A opinião é compartilhada pelo especialista em trânsito do Departamento de Engenharia Civil da Unesp de Guaratinguetá (SP) José Bento Ferreira.
- O que esse projeto faz é simplificar a questão. Se habilitação de categoria C fosse prova de competência, não teríamos tantos acidentes com caminhões no Brasil.
Treinamento e educação
A discussão do Projeto de Lei 2332/11, de autoria do deputado Paulo Foletto (PSB-ES), ocorre na sequência de acidentes envolvendo veículos possantes - como Chevrolet Camaro SS (406 cv) e Porsche 911 Turbo (500 cv) - que ganharam grande destaque na mídia.
Em entrevista ao site da Câmara dos Deputados, Foletto disse que esses carros potentes são um "convite ao teste de suas capacidades".
- Veículos com 300 cv mais cavalos são, para um motorista ousado e entusiasmado, inclusive os que dirigem sob a influência do álcool, um convite ao teste de suas capacidades e ao excesso de velocidade.
Para os especialistas ouvidos pelo R7, no entanto, mais importante do que exigir habilitação especial seria incentivar o treinamento para a condução de carros com proposta esportiva, segundo explica Ferreira.
- Se o motorista não for consciente, ele vai fazer alguma besteira. O treinamento específico deveria ser oferecido pelas concessionárias, e isso também teria que ser uma exigência da lei. Muitos motoristas se acham pilotos, quando na verdade a maioria não passa de condutores medíocres.
De acordo com Ferreira, a diminuição dos acidentes também vem de uma legislação mais rígida.
- Nenhuma lei funciona se a pessoa souber que não vai ser penalizada. No Brasil, quem tem dinheiro ou bons amigos consegue se livrar da punição.
Panitz concorda com a necessidade de mais treinamento e diz que, com o conhecimento correto, o condutor vai entender as capacidades do carro que tem em mãos. O especialista salienta, no entanto, que é impossível prevenir todos os acidentes.
- Se o motorista for obrigado a fazer um curso, vai saber que o carro que tem na mão é uma arma. Se ele não for um imbecil, vai usar o veículo com cautela. Agora, infelizmente não existe lei que previna a imbecilidade.
O que é feito hoje
Algumas das marcas de luxo que vendem carros potentes no país já oferecem treinamento específico para seus clientes.
Montadoras como Audi e BMW costumam convidar os compradores de seus modelos mais possantes para cursos no Brasil e no exterior. Essa é, ao mesmo tempo, uma ferramenta de marketing e também uma ação de segurança.
O mesmo ocorre com a Mercedes-Benz, que duas vezes ao ano traz instrutores alemães ao Brasil para ensinar os donos de modelos AMG (a divisão esportiva da marca) a tirar o máximo de seus carros com segurança.
No entanto, essas atividades, feitas em pistas fechadas, não são obrigatórias, não abrangem todos os clientes e não são promovidas por todas as marcas que comercializam carros esportivos.