Política
Com mudança na Maria da Penha, juiz prevê aumento vertiginoso de ações
Atualmente, a Vara já lidera o ranking da distribuição mensal de processos do Fórum da Capital, com 800 procedimentos
Campo Grande News
17 de Fevereiro de 2012 - 16:53
Com 5.800 processos, a Vara da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Campo Grande já está à espera de um aumento no número de ações devido à mudança na Lei Maria da Penha. O STF (Supremo Tribunal Federal) determinou que a ação penal prossiga independente da vontade da vítima. Acredito que vai aumentar vertiginosamente, afirma o juiz André Luiz Monteiro.
Atualmente, a Vara já lidera o ranking da distribuição mensal de processos do Fórum da Capital, com 800 procedimentos. Mais do que o aumento na chegada de processos, o magistrado se preocupa com o fim das ações.
O prazo para processar as ações prescreve em três anos. Tem que ter andamento rápido. Já tive que chegar para a vítima e dizer que, infelizmente, o prazo prescreveu por conta da demora no trâmite processual, relata o juiz.
Com a decisão do Supremo, a mulher não tem mais a possibilidade de se retratar da denúncia na audiência. Nos últimos sete meses, a desistência da denúncia foi feita por 351 vítimas. As justificativas vão desde que a agressão foi um fato isolado, num relacionamento sempre harmônico, à dependência econômica do parceiro.
Para acelerar os processos, o juiz José Rubens Senofonte, titular da Vara, passou a prolatar a sentença já no fim da audiência em que são ouvidas vítima, agressor e testemunhas. Quando ele assumiu, em julho do ano passado, eram mais de 7 mil processos em Campo Grande. Foi um trabalho muito bem feito, afirma o juiz André Monteiro.
Crime delicado - A maratona de audiências é diária. Os procedimentos começam às 13h e adentram a noite. Os dramas até então restrito as paredes de casa evidenciam problemas financeiros, cultura machista e violência potencializada pelo consumo de bebida alcoólica.
Também há momentos inusitados, como uma sogra intercedendo pela não condenação do genro agressor. O juiz tem que ter sensibilidade muito grande para tratar toda essa situação, afirma.
A maioria das prisões na fase processual é por descumprimento de medida judicial que impede que o agressor de aproxime da vítima. A outra medida protetiva mais solicitada é o afastamento do lar.
Já as condenações são cumpridas em regime aberto, e, em geral, chegam a 6 meses. A lei estabelece que quando o acusado é primário, tem bons antecedentes, a pena é suspensa por dois anos. Não pode ir a bares, se ausentar da comarca, explica o magistrado.
Porta de entrada - Desde janeiro, a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) de Campo Grande registrou 807 boletins de ocorrência e 21 prisões em flagrantes. Em 2004, quando ainda predominava a realidade do chavão bate e doa cesta básica, foram 1.786 boletins de ocorrência.
Em 2006, quando a Lei Maria da Penha trouxe mais recursos para proteção da mulher, as denúncias deram um salto de 128%, passando para 4.076 boletins de ocorrências. No ano passado, foram 6.210 boletins de ocorrências, as prisões em flagrante chegaram a 132.
A lei O nome da lei é em homenagem à Maria da Penha Maia Fernandes. Ela foi espancada de forma brutal e violenta diariamente pelo marido durante seis anos de casamento.
Em 1983, por duas vezes, ele tentou assassiná-la. Na primeira vez, com arma de fogo, deixando-a paraplégica, e na segunda, por eletrocussão e afogamento. Após essa tentativa de homicídio ela tomou coragem e o denunciou. A lei entrou em vigor em setembro de 2006.