Política
Uragano: Dourados um ano depois do furacão
Midiamax
01 de Setembro de 2011 - 13:18
Há exato um ano, no dia 1° de setembro de 2010, um 'furacão' passou por Dourados, maior cidade do interior de Mato Grosso do Sul. Trata-se da Operação Uragano furacão em italiano que abalou a política, não só da cidade, mas de todo o Estado. Segundo alguns, o maior escândalo político de MS.
A Polícia Federal realizou um arrastão naquele dia: ao todo 28 pessoas foram presas, entre elas o então prefeito da cidade, Ari Artuzi, o então vice-prefeito, Carlinhos Cantor, a esposa de Ari Artuzi, a ex-primeira dama Maria Aparecida Artuzi, além de quase toda a legislatura do município, secretários municipais e agentes políticos do município. Dos 12 vereadores, apenas dois escaparam da cadeia, mas foram indiciados na operação: Dirceu Longhi (PT) e Gino Ferreira (DEM).
A operação aconteceu pouco mais de um ano depois de outra, deflagrada também pela Polícia Federal e que levou para a cadeia mais de 60 pessoas, incluindo o vice-prefeito da cidade e o presidente da Câmara de Vereadores: A Owari - Ponto Final em japonês. Na Owari, em julho de 2009, várias figuras políticas da cidade, até mesmo da administração municipal foram indiciadas e Artuzi chegou a ter sua imagem respingada pelas ligações, de pessoas do alto escalão e de sua confiança, em um suposto esquema de fraudes em licitações, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro.
Porém só em 2010 a PF, com a Uragano, em que o ex-secretário de governo do município, Eleandro Passaia, gravou áudios e vídeos sobre os supostos esquemas de corrupção do município, a polícia realizou a operação levou à prisão os principais agentes políticos do município no período e colocou em cheque a maneira como a política é feita no MS.
Após a tempestade
Nenhum dos envolvidos nos supostos esquemas de corrupção apontados pela Operação Uragano continua preso. Como em toda cidade abalada por um grande desastre, seja ele natural ou político, Dourados tenta se reconstruir e os cidadãos tocam suas vidas. O mesmo aconteceu com os principais indiciados e presos no furacão.
Ari Artuzi, solto no início de dezembro de 2010, é hoje um modesto vendedor de queijos no município. Expulso do PDT ainda em 2010 só após a Uragano Ari está hoje filiado ao PMN. Segundo o presidente estadual do partido, Adalton Garcia, só nos primeiros 15 dias de filiação de Artuzi ao novo partido, ele teria trazido consigo mais de quinhentas novas filiações, ao partido nanico, que contava com pouco mais de 700 filiados no município até então. Ari cria bois e porcos em terras arrendadas no município, apesar da justiça ter seqüestrado os que ele possuía ainda em setembro passado.
Sua esposa, Maria Aparecida Artuzi, deve se filiar ao mesmo partido do marido. Segundo Adalton Garcia, na próxima segunda-feira (5) haverá uma reunião em Dourados para definir a filiação da ex-primeira dama. Maria ficou conhecida nacionalmente por ter implantado silicone nos seios com dinheiro desviado da saúde municipal pelo marido.
O ex-vice-prefeito, o pastor Carlinhos Cantor pediu licença de dois anos do cargo que ocupava na Prefeitura de Dourados. Segundo informações, Cantor agora se dedica apenas à vida religiosa.
Aurélio Bonatto, que era vereador que recebeu uma sapatada quando tentava presidir sessão extraordinária da Câmara de Dourados após a Uragano, pediu renúncia para fugir do processo de cassação em 2011 e hoje trabalha como motorista fazendo fretes para uma empresa.
Humberto Teixeira Júnior foi cassado por quebra de decoro parlamentar no início de 2011. Minutos antes da cassação, Júnior Teixeira, como é conhecido, disparou contra vários dos ex-colegas e disse ter provas do retorno que supostamente acontecia da Assembléia Legislativa para o governador do estado, desembargadores e promotores do MPE.
As a tais provas nunca foram protocoladas, nem na Casa de Leis, nem no MPF, como havia prometido o ex-vereador antes de ser cassado. Júnior toca os negócios do pai, o ex-prefeito de Dourados e ex-deputado estadual Humberto Teixeira. O deputado se diz pré-candidato à Prefeitura de Dourados pelo DEM.
José Carlos Cimatti, que também renunciou para não ser cassado, voltou a trabalhar na Prefeitura de Dourados. O ex-vereador é engenheiro florestal concursado pelo município.
Zezinho da Farmácia foi outro que renunciou. Ele não está mais no ramo das drogarias. Zezinho agora tem uma garagem de venda de veículos em uma das principais avenidas de Dourados.
Julio Artuzi ou Tio Artuzi, foi cassado. Segundo informações ele toca negócios de sua madeireira.
Marcelo Barros foi cassado em sessão da CPI em 2011. Conturbada, ao final da sessão, duas mulheres, uma pró e outra contra a cassação do ex-vereador trocaram tapas. Ele e Humberto Teixeira Júnior ingressaram na Justiça, em agosto deste ano, contra a Câmara Municipal, para anular todo o processo de CPI que os cassou. A defesa do ex-parlamentar alega que os vereadores Gino Ferreira (DEM) e Dirceu Longhi (PT) estavam sendo processados pelo mesmo crime e estariam, portanto, impedidos de participar do julgamento de perda do mandato dele. O Ex-vereador voltou para o trabalho de escrivão da Polícia Civil em Rio Brilhante.
Paulo Henrique Bambu foi cassado. Com direito a citações bíblicas e chororô no púlpito, o ex-parlamentar emocionou a platéia em seu discurso, mas não comoveu os parlamentares. Hoje ele trabalha em uma concessionária da FIAT em Maracaju.
Sidlei Alves, ex-vereador e ex-presidente da Câmara Municipal, renunciou. Ele voltou a trabalhar em seu sítio e a fazer faculdade de Direito.
Gino Ferreira continua vereador. Ele é fazendeiro e presidente da Federação de Clubes de Laço de MS. Gino é também é segundo suplente do senador Waldemir Moka, eleito em 2010.
Dirceu Longhi também continua parlamentar no município. Envolvido em outro escândalo, dessa vez sobre ocupação indígena na sede da Funai (Fundação Nacional do Índio) em Dourados. Arlete Pereira de Souza, sua esposa e ele teriam sido os mentores e financiadores de uma manifestação de indígenas em 2009.
A manifestação levou a queda de Margarida Nicolleti como administradora da Funai em Ponta Porã e a entrada de Arlete como sua sucessora. O MPF ofereceu denúncia de formação de quadrilha, seqüestro, cárcere privado e destruição de patrimônio da União. Dirceu abriu um pequeno restaurante em um dos principais cruzamentos do centro de Dourados.
Eleandro Passaia, que delatou os esquemas à PF não está mais em Dourados. Está filado ao PSC (Partido Social Cristão). O partido sairá para a disputa de 2012 com o slogan Político que rouba povão não leva perdão. Ainda não há definição se Passaia será ou não candidato. Enquanto isso, as informações são de que o ex-secretário de governo, que lançou um livro sobre sua participação na operação ainda em 2010, viaja o Brasil.
Passaia teria recebido o benefício da delação premiada - artifício no qual um envolvido ajuda nas investigações em troca de não ser indiciado, ou ter uma possível pena reduzida para participar como agente na Operação Uragano.
Alguns envolvidos voltaram à rotina de seus trabalhos antes da vida pública. Outros estão trabalhando para políticos do próprio município e do Estado.
Praticamente toda a legislatura do município foi renovada. Apenas Gino Ferreira e Dirceu Longhi continuam vereadores. Mesmo indiciados na operação, não houve CPI por quebra de decoro.
O ex-vice-governador, Murilo Zauith, foi eleito prefeito do município em eleições extemporâneas em fevereiro de 2011. Eleito com o apoio de 15 partidos, entre eles do PT, que cedeu Dinaci Ranzi para ser sua vice-prefeita, Murilo deve tentar a reeleição em 2012.
O Olho do Furacão
A Uragano expôs parte do modus operandi da politicagem sul-mato-grossense. O inquérito resultou em uma ação civil pública que conta hoje com mais de 22 mil páginas digitais além de mais de 144 gigabytes de escutas e gravações anexadas. Segundo informações, há a dificuldade do sistema usado pela justiça rodar o processo, de tão pesado.
Áudios e vídeos gravados por Eleandro Passaia servem de base para o processo, mas estão sendo questionados judicialmente. Um dos áudios colhidos na Operação Owari, que culminou na Uragano, já foi indeferido pela justiça. Considerado o áudio ilegal, esse caso pode derrubar as duas operações. Enquanto isso uma guerra é travada entre os Uraganos e a justiça no Estado.
Os vídeos e áudios davam conta de que o esquema era muito maior do que o âmbito municipal: O governador André Puccinelli, membros do Tribunal de Justiça e do Ministério Público Federal, da Assembléia Legislativa do Estado, Deputados Estaduais, Federais e Senador tiveram seus nomes ligados aos esquemas. Na época, logo após a operação, um vídeo, parte importante das investigações vazou.
Publicado no Midiamax em primeira mão, o vídeo mostrava o então deputado estadual Ary Rigo delatanto na verdade detalhando como se operava um suposto esquema de retorno da Assembléia Legislativa do Estado, ao Governo do Estado e a membros do Ministério Público Estadual. Segundo o ex-deputado, André Puccinelli recebia dois milhões de reais por mês, 900 mil reais eram dados a desembargadores do Tribunal de Justiça e 300 mil para membros do Ministério Público.
As declarações de Ary Rigo no vídeo geraram uma comoção social que, apesar de não ter alterado as eleições do ano passado para o Governo do Estado, resultou em que o próprio Rigo não fosse reeleito para exercer mais um mandato como deputado estadual.