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Região

Pantanal terá fundo com captação externa para pagar por preservação

Correio do Estado

29 de Novembro de 2023 - 08:18

Pantanal terá fundo com captação externa para pagar por preservação
Projeto da Lei do Pantanal foi entregue ontem na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul pelo governador Eduardo Riedel, ambientalistas e representantes dos produtores rurais - MARCELO VICTOR.

A proposta de criação de uma lei para o Pantanal, enviada ontem à Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (Alems) pelo governador Eduardo Riedel (PSDB), traz uma inovação no arcabouço legal brasileiro: o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), além da criação do Fundo Clima Pantanal – feito nos moldes do Fundo Amazônia – para captar dinheiro em todo o mundo para financiar a preservação do bioma.

“A lei é inovadora porque, pela primeira vez, dá um status de ativo econômico ao Pantanal preservado”, explica o diretor-presidente do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), coronel Ângelo Rabelo.

O Fundo Clima Pantanal começará com um aporte de aproximadamente R$ 50 milhões do governo de Mato Grosso do Sul. O compromisso do governador Eduardo Riedel é de alimentar o fundo anualmente, com recursos previstos em Orçamento, para manter seu “fluxo”.

O Fundo Clima Pantanal, porém, terá outras fontes de financiamento, conforme explica o diretor da organização não governamental SOS Pantanal, Alexandre Bossi: “Já existe a disposição deste fundo do Pantanal receber aportes do Fundo Amazônia, que recebe anualmente quantias significativas no exterior, além de várias outras fontes de financiamento, como, por exemplo, a captação de recursos por meio da emissão de títulos verdes do Tesouro, além de doações e aportes voluntários”.

Além do “capital inicial” de R$ 50 milhões garantido pelo governo de Mato Grosso do Sul, o fundo para preservação do Pantanal também será financiado pelas multas ambientais aplicadas pelo Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) – 50% das multas pagas vão irrigar o Fundo Clima Pantanal.

A grande carta na manga dos entusiastas da Lei do Pantanal, contudo, é um “road show”, uma espécie de demonstração, previsto para ocorrer em 2024, depois que a lei estiver em vigor. Representantes dos produtores rurais, de organizações como SOS Pantanal e IHP, além do governo do Estado e do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, pretendem visitar os mesmos países que já financiam o Fundo Amazônia, Noruega, Alemanha, Suíça e Estados Unidos, em busca de recursos para o Fundo Clima Pantanal. O Fundo Amazônia captou, na última década, mais de R$ 3,5 bilhões e, nos próximos anos, deve receber ainda muito mais: só os Estados Unidos doaram US$ 500 milhões.

O projeto de lei para a ocupação do Pantanal ainda prevê outras formas de aporte para o fundo, como emendas parlamentares, transferências de saldos de outros fundos estaduais e recursos originários da venda de créditos de carbono, além dos retornos e resultados das aplicações dos investimentos e retorno de concessões de unidades de conservação.

O Fundo Clima Pantanal terá um conselho gestor, e a expectativa, conforme os representantes do IHP e da SOS Pantanal, é de que seja composto por um corpo técnico qualificado e com critérios de governança que levem em consideração princípios como transparência, atuação social e preservação da natureza.

E o produtor?

Com a criação deste fundo ambicioso, o produtor rural pantaneiro deve se perguntar como será pago pelos serviços ambientais prestados. Alguns dos critérios para o recebimento dos recursos já estão na lei. 
A prioridade é a preservação dos corredores de biodiversidade já delimitados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em várias regiões do Pantanal. A intenção é clara: manter vias intactas entre as propriedades para preservar o conjunto da fauna e da flora pantaneira, além de preservar a beleza cênica da região.

Mas os produtores receberão por mais: pela recuperação de pastagens degradadas e, também, pela recuperação de vegetação nativa, por exemplo.

“Ainda é necessária a regulamentação do pagamento pela produção, mas, certamente, acreditamos que o pagamento pela produção será por hectare preservado”, diz o diretor da SOS Pantanal.

A lei também estimula que o proprietário rural acumule diferentes tipos de pagamentos por serviços ambientais, por exemplo, os pagamentos feitos pelo Fundo Clima Pantanal, mas também a remuneração pela venda de créditos de carbono, além do aluguel de reservas legais a propriedades do planalto.

“A proposta é inovadora porque faz com que as propriedades pantaneiras sejam viáveis economicamente, garantindo a preservação”, explica Rabelo.

“O produtor tem até a opção de, em alguns casos, seguir vivendo de atividades como a pecuária, mas a Lei do Pantanal viabiliza a transformação da preservação das características do bioma em um ativo econômico, que acreditamos que é perfeitamente rentável”.

Sobre o acesso dos produtores rurais às certificações que permitem que sejam comercializados créditos de carbono de suas propriedades ou que tornem proprietários elegíveis para receber pelos serviços ambientais que prestam à sociedade, Alexandre Bossi afirma que este será o próximo desafio: “Por isso a governança do fundo terá de ser muito bem implementada”.

A expectativa é de que sindicatos rurais e o governo do Estado capacitem os produtores rurais para realizar ações como inventários de carbono sequestrado (para venda de créditos) e elaboração de projetos de execução de serviços ambientais.

“É importante ressaltar que se trata de uma lei inédita e moderna. Não tenho conhecimento de nenhuma legislação no Brasil que preveja o pagamento pela preservação ambiental e ainda crie corredores de biodiversidade”, comemora Bossi.

Marcelo Bertoni, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), coloca o fundo como um dos “ganhos” para os produtores rurais, já que todas as partes cederam em algum ponto para a elaboração do texto.

“Road show” de fundo está previsto para 2024

Ambientalistas, produtores rurais e agentes do governo já vislumbram para o próximo ano a realização de uma viagem de divulgação do Fundo Clima Pantanal a países como Noruega, Alemanha, Estados Unidos e Suíça, os maiores financiadores do Fundo Amazônia.