Sidrolandia
Acampamentos indígenas em Caarapó devem ser desalojados na manhã desta segunda
Na ação de desocupação da área, prevista para ser iniciada às 6h, agentes policiais federais deverão acionar uma equipe da Polícia Militar.
Agência Brasil
08 de Abril de 2018 - 19:27
Dois acampamentos dos povos Guarani Kaiowá, com cerca de 6 mil indígenas, em Caarapó (MS) deverão ser desalojadas nas primeiras horas desta segunda-feira (9), segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Na ação de desocupação da área, prevista para ser iniciada às 6h, agentes policiais federais deverão acionar uma equipe da Polícia Militar.
Segundo o missionário Matias Rempel, que acompanha as comunidades desde 2014, a Fundação Nacional do Índio (Funai) já reconhece o território, composto pelos antigos tekoha - territórios originários dos Guarani Kaiowá transformados em fazendas no século 20 -, como propriedade dos indígenas, tendo, inclusive, oficializado a certificação por meio de publicações da imprensa oficial. Uma comitiva do Cimi deve partir na noite de hoje (8), com destino à cidade, a fim de mediar negociações e evitar confrontos diretos oriundos da ação de reintegração de posse.
Matias Rempel disse que a decisão da Justiça acirra um quadro já carregado de desacerto, considerando-se o desequilíbrio de um pacto firmado entre indígenas e o grupo que se assume como dono das terras, em 2016 e 2017. Na época, os indígenas anunciaram que não haveria mais retomadas de áreas, isto é, que eles cessariam as tentativas de recuperação, buscando, assim, pacificar os confrontos. Com a provável desocupação, além de o processo de demarcação de terras indígenas, que levou, segundo o missionário, 10 anos para ser concluído, foi também em vão a trégua proposta entre as partes.
De acordo com o Cimi, a Terra Indígena Dourados-Amambaipegua I, uma porção da área abarcada pelos acampamentos, é foco de um processo de demarcação com tramitação interrompida pelo governo. A área, vizinha à reserva Tey’i kue, teve seu relatório de identificação e delimitação publicado já em 2016.
"Os Kaiowá honraram sua parte do acordo, mesmo com muita dor gerada pela morte de sua liderança, não avançando mais em nem 1 centímetro de terra. Quem não honrou foram os proprietários de terra, que mantiveram o processo na Justiça, que se transformou em sentenças à luz da condenação do juiz da 1ª instancia", disse Rempel.
Também segundo informações do Cimi, 18 ações de reintegração de posse e interditos proibitórios estão em curso na Justiça Federal de Dourados (MS) contra a comunidade indígena de Caarapó.
Acampamentos
Um dos acampamentos cujos indígenas deverão ser submetidos ao despejo amanhã (9) é o tekoha Jeroky Guasu, localizado no interior da terra indógena. A intervenção policial foi determinada pela 1ª Vara da Justiça Federal de Dourados, depois de uma liminar ter sido suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no início de 2017.
Já o tekoha Guapo’y, teve o despejo determinado por uma liminar do Tribunal Regional Federal da Terceira Região (TRF-3).
Os indígenas aguardam que o Supremo Tribunal Federal (STF) acate os recursos da Fundação Nacional do Índio (Funai), em que pedem a suspensão da reintegração de posse das áreas.
As corporações policiais foram procuradas pela reportagem, mas não deram retorno até a publicação desta matéria.