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Sidrolandia

Dilma Rousseff nega despenalizar o aborto no Brasil para não perder o voto cristão

Dilma Rousseff nega despenalizar o aborto no Brasil para não perder o voto cristão e é acusada de ter duas caras.

O Verbo

01 de Outubro de 2010 - 18:08

Faltando apenas algumas horas para as eleições presidenciais brasileiras, a despenalização do aborto colocou Dilma Rousseff, a candidata proposta pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em situação de risco. Sua mudança de opinião quanto ao tema, do qual era uma firme defensora, e os casos de corrupção que teve de enfrentar recentemente, ameaçam impedir uma esmagadora vitória no primeiro turno.

Um ano atrás, a candidata do Partido dos Trabalhadores era favorável à despenalização do aborto. “É uma questão de saúde pública”, afirmou Rousseff à revista Marie Claire. “Existe uma quantidade enorme de mulheres no Brasil que morrem por abortar em circunstâncias precárias”.

“Eu lamento que a Marina faça avaliações a respeito das minhas convicções”, disse Dilma em relação a um comentário da candidata Marina Silva, completando que ser contra o aborto é uma “posição pessoal” sua.

Em sabatina à Folha em 2007, no entanto, Dilma disse: “Acho que tem de haver descriminalização do aborto. Não é uma questão de foro íntimo, não.”

Dilma disse ser “pessoalmente contra” o aborto. “Nunca escondi que acho que a questão do tratamento das mulheres, principalmente das milhares de mulheres pobres que recorrem ao aborto, não é uma questão de polícia, é de saúde pública”.

Questionada se, caso eleita, poderia enviar ao Congresso uma proposta que flexibilizasse ou descriminalizasse a questão, negou. “Eu não enviarei ao Congresso Nacional nenhuma medida para alterar legislação nenhuma [sobre o aborto].”

Dilma “duas caras”

Seus dois maiores adversários nas eleições, o social-democrata, José Serra, e a candidata do Partido Verde, Marina Silva, declararam-se desde o princípio contrários à despenalização do aborto por causa da forte pressão religiosa, tanto da Igreja católica como das igrejas evangélicas, que movem milhões de votos. Ambos acusaram, no dia 30 de setembro, a sua rival de haver mudado de postura por “motivos eleitorais” e acusaram-na de ter “duas caras”.

Indagada se sua posição estava em conflito com a do Partido dos Trabalhadores, que é um partido socialista pró-aborto do qual ela é membro, Rousseff esclareceu que “passamos o governo inteiro com uma posição. Agora, somos um partido democrático”.

O ativista pró-vida Julio Severo, que tem feito forte oposição à reeleição do Partido dos Trabalhadores, disse para LifeSiteNews que as palavras de Rousseff indicam sua “falta de clareza e honestidade ideológica”.“Ela diz que pessoalmente é contra o aborto e voltou a frisar que ‘defende que o aborto seja tratado como uma questão de saúde pública’”, acrescentou ele.“Tal qual Dilma, [o presidente brasileiro] Lula também se declarava católico, dizia que pessoalmente era contra o aborto e defendia que o aborto fosse tratado como questão de saúde pública”, disse Severo. “Em 2002, o candidato Lula também havia feito o compromisso de não deixar seu futuro governo promover o aborto e o homossexualismo. Mas depois de eleito, seu governo promoveu tanto o aborto, a nível nacional e internacional, que tememos que, na melhor das hipóteses, Lula tenha sofrido algum ataque de amnésia”.

Casos de corrupção

Enquanto os últimos escândalos de corrupção fizeram Dilma perder seis milhões de votos em menos de uma semana, ainda assim, a candidata oficial conseguiu frear a sua queda nas pesquisas eleitorais e mantém uma ampla vantagem sobre os seus rivais, embora não se descarte a sua disputa num segundo turno. Se as eleições fossem hoje, Rousseff teria 47% dos votos, enquanto que José Serra obteria 28% e Marina 14%, segundo uma pesquisa divulgada ontem (30) pelo diário Folha de São Paulo. Rousseff necessita de mais de 50% dos votos para evitar o segundo turno.

Preocupado com essa possibilidade, algo que levaria Dilma a expor-se a mais um mês de campanha, Lula da Silva decidiu ajudá-la a recuperar votos com uma jogada típica de campanha eleitoral. Lula pediu à Dilma que se reunisse com os líderes de todas as confissões religiosas e que declarasse abertamente que “está contra o aborto”.

Assim o fez a candidata na quarta-feira (29); insinuou que ela nunca esteve a favor da despenalização do aborto mas mostrou-se adepta de que o Estado não abandone as mulheres que abortam em situação de perigo.

Os bispos católicos, assim como a maioria dos pastores evangélicos, pediram a seus fiéis que não votem em Dilma Rousseff por suas posições favoráveis à despenalização da interrupção da gravidez.