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Sidrolandia

Mãe pede Justiça por filho morto pela PM após assalto

A cabeleireira Darci Batista de Rezende, de 45 anos, dedica os últimos 2 meses a cobrar justiça depois da morte do filho Luiz Eduardo Batista de Rezende,aos 21 anos.

Campo Grande News

06 de Outubro de 2010 - 16:08

Ela diz que o rapaz foi executado pela Polícia Militar, no dia 3 de agosto, por ser suspeito de assaltar uma lan house no bairro Piratininga, em Campo Grande.

“Ele não resistiu à prisão e não estava com nenhuma arma”, argumenta a mãe que reuniu quatro testemunhas e documentos para tentar provar a inocência do filho Ela procurou o Núcleo de Práticas Jurídicas da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco) em busca de apoio jurídico.

Professor universitário e promotor de Justiça aposentado, o advogado que acompanha o caso, Ulisses Duarte, de 65 anos, explica que foi feita uma representação na Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) pedindo providências sobre o caso.

Ele informou que a Secretaria determinou a abertura de inquérito militar e a mãe já prestou depoimento. Duarte conta que, inconformada com a morte, a cabeleireira conseguiu uma declaração do assaltante de que o filho dela não estava envolvido no crime. Outra declaração de uma pessoa que se diz testemunha do crime foi enviada à Sejusp.

Nela, um rapaz conta ter visto um policial militar gritar para o jovem que estava em um lava jato do posto de combustíveis na esquina da Albert Sabin com a José Rosa ‘sai sai’ e em seguida atirar.

A pessoa cujo nome é preservado, mas foi informado à Sejusp, diz que em seguida um cabo da PM passou com uma pistola .40 e enquanto o jovem gritava de dor pelo tiro na nádega, disparou mais uma vez. Conforme a mãe, o segundo tiro atingiu a nuca do rapaz.

“Se prevalecerem as provas nós estamos diante de um homicídio. Não é ação policial normal”, defende o advogado. Ele diz que apesar de o garoto ter tido problemas com a Polícia na adolescência, não havia nenhum processo contra ele. “Era réu primário, não tinha condenação alguma”, ressalta.

Duarte argumenta que o tiro que matou o rapaz foi na nuca. “Tiro nas costas ou pelas costas não é legitima defesa”, diz. Ele não entra no mérito de o jovem ter ou não participado do roubo, porque segundo o advogado isso compete à Polícia Civil.

Assalto – Já a mãe garante a inocência do filho e conta em detalhes o que aconteceu no dia da morte do filho para provar que ele não participou do crime. Ela diz que eles foram ao cartório e passaram o dia resolvendo questões pertinentes ao financiamento da casa onde moravam os dois.

Por volta das 17h eles retornaram para casa e o jovem foi a um lava jato próximo, onde iria trabalhar com polimento de veículos. Minutos depois ele voltou para casa e encontrou a namorada o esperando e os dois foram assistir televisão. Algum tempo depois a jovem foi embora, conforme a cronologia da mãe.

Às 19h, conta a cabeleireira, um rapaz que ela não conhecia pediu a moto do filho emprestada. Ele relutou porque tinha ciúmes do veículo, mas cedeu à insistência do colega.

Uma hora depois o rapaz voltou com a motocicleta e entregou ao Eduardo. A última vez em que a mãe o viu com vida foi quando guardava o veículo no quintal. Ela diz que fechou a porta da sala e voltou para frente da televisão. Em seguida ouviu passos apressados no quintal e ao abrir a porta da cozinha viu cerca de dez PMs pulando o muro.

“Perguntei o que estava acontecendo e disseram que assaltantes haviam pulado dentro do meu quintal”, lembra. Depois disso não foi dada mais nenhuma informação.

Ela diz que ao todo cerca de 40 policiais fizeram revistas na sua casa, contando com os que foram chegando depois. Durante o trabalho um PM avisou aos colegas que um dos assaltantes havia sido encontrado no posto de combustíveis.

Quando a cabeleireira saiu viu tumulto na rua e em seguida ouviu dois disparos vindo do posto, mas não imaginava que era seu filho. Ela voltou para casa e os policiais permaneceram na busca.

Às 21h ela recebeu uma ligação da Santa Casa informando que Luiz Eduardo não havia resistido aos tiros que levou, um na perna e outro na nuca. Aos prantos, ela pediu para ir ao hospital, mas afirma que a Polícia a manteve na casa até às 23h fazendo as buscas.

“Disseram que eu só podia sair quando liberassem. Fiquei sentada chorando sem ninguém me explicar nada. Quando entrei no carro da Polícia me falaram que tinha que falar com o delegado primeiro”, lembra.

“Ele morreu sem saber o que estava acontecendo”, desabafa a mãe. Ela diz que após a morte um policial lavou o local com mangueira de água do posto de combustíveis, atrapalhando o trabalho da perícia.

Conforme a mãe, o atestado de óbito indica que o jovem morreu ao levar o tiro. Entretanto, o corpo deu entrada na Santa Casa apenas depois de quase uma hora. “Eles estavam procurando a arma, porque não tinham encontrado nada com ele”, acusa.

Darci diz que o policial que atirou em seu filho voltou à casa dela e mandou que os colegas pegassem algo do rapaz e eles saíram de lá com uma toca que estava em cima da máquina de lavar roupas e um par de luvas pegas em uma caixa de roupas sujas.

Antecedentes - A mãe do jovem conta que ele fazia um curso preparatório para concurso da Enersul e trabalhava como servente de pedreiro porque estava recebendo seguro desemprego. Aos domingos, diz ela, ele frequentava uma igreja evangélica. “Não é como eles disseram, meu filho não era um bandido”, questiona.

Ela lembra que quando adolescente o jovem teve passagens por roubo e cumpriu pena em uma Unei (Unidade Educacional de Internação), mas depois de completar a maioridade nunca mais se envolveu em problemas.

Conforme informado pela Polícia Civil, ele teve uma passagem por furto no dia 3 de novembro de 2009 e outra por desobediência em 16 de fevereiro de 2010 antes do ocorrido no dia de sua morte.

O boletim de ocorrência foi registrado como roubo qualificado pelo concurso de pessoas e Luiz Eduardo é apontado como um dos autores do crime. O outro jovem ainda não foi preso.

Investigação - As investigações sobre o assalto à lan house são feitas pela Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos). Responsável pelo inquérito, o delegado Roberval Maurício Rodrigues informou, por meio da assessoria de imprensa, que pediu mais prazo para concluir o inquérito e aguarda que ele seja devolvido pelo Fórum.

Conforme o delegado, o assaltante conhecido como ‘Neguinho’ ainda não foi identificado. Sobre a participação de Luiz Eduardo no assalto, o delegado informou que irá se manifestar apenas no final das investigações.

PM - A Polícia Militar informou por meio da assessoria de imprensa que todos os fatos relacionados à morte do rapaz estão sendo apurados, inclusive com análise do exame necroscópico.

A PM esclarece que todos os casos de morte envolvendo ação policial são investigados e transformados em inquérito militar para garantir isenção na apuração de todos os fatos e também a legitimidade ou não da ação da Polícia.

Se for comprovado que houve algum tipo de crime, o inquérito é encaminhado à Justiça Militar para que seja transformado em processo e consequentemente para o julgamento dos envolvidos.