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Sidrolandia

Presídios federais têm câmeras nos parlatórios

Para garantir mais segurança e efetividade no combate ao crime organizado, os presídios federais têm sistema de gravação de vídeo e áudio, inclusive dentro dos parlatórios, onde acontecem conversas de clientes e advogados.

Redação de noticia

22 de Junho de 2010 - 13:23

Essas conversas podem ser gravadas, desde que haja autorização judicial que só podem ser concedidas quando o advogado é acusado de participação em crimes. A explicação do Ministério da Justiça foi enviada por ofício à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em resposta à acusações de ilegalidades no Presídio Federal de Campo Grande (MS). Conforme informações levadas ao ministro Luiz Paulo Barreto pelo presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcante, conversas entre advogados e seus clientes no parlatório do presídio foram gravadas ilegalmente e divulgadas no YouTube. A acusação está sendo investigada em processo administrativo no Ministério da Justiça, por meio de inquérito policial e participação de procuradores está sendo verificada em processo aberto na Comissão Permanente do Sistema Penitenciário criada pelo Conselho Nacional do Ministério Público (Processo 000.000.00745/2009-15).


Com base em relatos de advogados de Mato Grosso do Sul, no dia 19 de maio o presidente da OAB enviou ofício ao ministro da Justiça pedindo providências quanto à gravações tanto no parlatório quanto na sala de visita íntima. Ophir reclamou que as gravações desrespeitam o direito de o advogado conversar, pessoal e reservadamente, com seus constituintes, como garante o artigo 7º, III, da Lei 8.906/94. Na resposta à OAB, o Ministério da Justiça afirma que as penitenciárias federais abrigam criminosos de alta periculosidade, como líderes e integrantes de facções criminosas nacionais e internacionais, o que justifica medidas efetivas para preservar a segurança pública e ainda evitar que eles continuem gerenciando negócios criminosos. O MJ ressaltou, entretanto, que as gravações são medidas excepcionais só realizadas com autorização judicial. Citando o exemplo de uma advogada que foi presa por trabalhar para uma facção criminosa na penitenciária de Catanduvas, o Ministério da Justiça lembra que essas gravações são um importante instrumento de combate ao crime organizado. Quanto à divulgação dos vídeos na internet, existe um processo administrativo e um inquérito policial em andamento.


Segredo de Justiça


Conforme o juiz federal Odilon de Oliveira, que ocupou a Corregedoria do Presídio Federal de Campo Grande de outubro de 2006 a março de 2009, a existência de equipamentos de gravação nestes locais é comum e faz parte do projeto das instituições. “O acionamento deles, entretanto, depende de prévia autorização judicial em casos pontuais”, explica. Ele ressalta que essa “colheita de provas corre em absoluto segredo de justiça”.


O monitoramento das conversas entre cliente e advogado pode ser feito se houver indícios que justifiquem a medida, porém o conteúdo não deve ser divulgado. “Em qualquer caso, isto só ocorre pontualmente e em situações em que existe indício de envolvimento de advogado com a pessoa investigada”, garante Odilon. Como exemplo de conversa gravada de uma situação de perigo que mereceu observação de autoridades, o juiz cita o plano de sequestro de um filho do presidente da República, para servir como moeda de troca por alguns presos, dentre eles os líderes de organizações criminosas como o traficante Fernandinho Beira-Mar e Marcos Willians Herbas Camacho, conhecido como Marcola.


Neste caso, “as investigações evitaram uma tragédia”, reforça. Como lembra o juiz, a operação policial foi desencadeada na primeira quinzena de agosto de 2008, sendo presas oito pessoas, entre elas um advogado que tratava do plano também através do parlatório.


“Gravação em áudio, de visita íntima, têm praticamente os mesmos condimentos de certos monitoramentos telefônicos, sendo permitida pela legislação, que é a mesma que disciplina o monitoramento telefônico. Nas conversas ou mensagens interceptadas, a polícia ouve diálogos criminosos e também conversas de qualquer natureza, inclusive colóquios amorosos. Estes logicamente são desprezados.”


Sobre a acusação da OAB-MS de que as visitas íntimas dos presos estariam sendo filmadas, o juiz federal descarta qualquer possibilidade. “Gravações em vídeos de visitas íntimas seria uma aberração”, critica. “Filmagem de visitas íntimas é uma invenção incompreensível da OAB, que deveria exibir o suposto filme às autoridades competentes e não ficar alardeando o que não existe”, finaliza Odilon de Oliveira.