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Sidrolandia

Religioso que mediou soltura de presos apostou no diálogo em Cuba

Cardeal Jaime Ortega, 73, abandonou atitude de confronto com castrismo. Ele chefiou negociação que terminou na promessa de soltar 52 dissidentes

G1

08 de Julho de 2010 - 16:30

Líder indiscutível da Igreja Católica em Cuba, o cardeal Jaime Ortega, de 73 anos, de sorriso permanente e modos suaves, possui mão firme e paciência de Jó, que lhe valeram a chave das prisões políticas da ilha.

Sacerdote aos 28 anos, bispo aos 34, recebeu o título cardinalício aos 58 do papa João Paulo II. O segundo cardeal na história de Cuba estabeleceu um diálogo sem precedentes com o presidente Raúl Castro no último dia 19 de maio sobre presos políticos e outros assuntos internos.

Ortega destacou que o diálogo deve acontecer "entre os cubanos"; desaprovou a hostilidade de seguidores do governo com as Damas de Branco, uma organização que reúne parentes de presos políticos.

O cardeal Jaime Ortega durante encontro com o chanceler da
Espanha, Miguel Angel Moratinos, nesta terça (6) em HavanaO cardeal Jaime Ortega durante encontro com o chanceler da Espanha, Miguel Angel Moratinos, nesta terça (6) em Havana
Com o grande sucesso de sua mediação, o cardeal conseguiu na quarta-feira que o compromisso de Raúl Castro para libertar gradualmente 52 presos políticos fosse cumprido. Os presos são os últimos de um grupo de 75 dissidentes condenados em 2003. Cinco serão liberados logo e os 47 restantes em um período de três a quatro meses.

Este é o reconhecimento do trabalho paciente de Ortega, que levou a Igreja de Cuba a trocar o confronto pelo diálogo e a clausura de sacerdotes por pequenos papéis sociais durante a forte liderança de Fidel Castro.

Entre suas cicatrizes guarda o fato de ter feito o serviço militar em 1967, interrompendo seu ministério sacerdotal, nas chamadas UMAP, unidades para onde o Estado ateu enviava os religiosos, homossexuais e desempregados.

A medalha de ouro do seu ministério de sucesso foi a visita do papa João Paulo II a Cuba em 1998.

Acostumado a andar nas águas turbulentas das relações entre a Igreja, a única instituição legal distante do governo comunista ideologicamente, ele também se tornou arcebispo de Havana e interlocutor e porta-voz excepcional das decisões oficiais sobre prisioneiros.

Quando jovem, com um rosto que lembrava o de Marlon Brando, estudou no Canadá e foi inserido em uma igreja com a ajuda financeira dos Estados Unidos.