Plantio de mandioca tem expansão e garante independência financeira a assentados

No universo de 4.886 famílias de assentados, em que 44% (2.177) estão no CadÚnico porque têm renda per capita de até R$ 706,00 (meio salário mínimo), 709 recebem Bolsa Família. O cultivo de mandioca tem criado ilhas de prosperidade que abriram oportunidades de autonomia financeira. Um exemplo de sucesso é o de Dirlei Rodrigues, do Assentamento Santa Lúcia, que chega a faturar R$ 5 mil por semana com os mil quilos de mandioca que vende descascada e embalada, ou entrega para agroindústrias concorrentes.

O resultado de 8 anos de trabalho com a cultura garantiu a ele renda para construir uma casa confortável que, se fosse na cidade, seria avaliada em R$ 500 mil, além de um carro de passeio, adquirido após a compra de uma F-1000 usada para o transporte da produção, e de um trator e implementos agrícolas usados na lavoura.

Dirlei comprou o direito de posse do lote em 2016, vindo de Corumbá, onde tinha uma parcela no Assentamento Taquaral. Como ainda não tem o título de propriedade, nem o CCU (Contrato de Concessão de Uso) expedidos pelo Incra, não tem acesso às linhas de crédito com juros subsidiados do Pronaf, direcionados para a agricultura familiar. O negócio é tocado com recursos próprios, o que exige um controle financeiro eficiente para vencer o ciclo de produção da mandioca, que só a partir do 9º mês de cultivo pode começar a ser colhida.

Ele enfrenta dificuldades para contratar mão de obra, contando apenas com dois funcionários; o restante do serviço é feito por ele e sua esposa. Os dois filhos do casal foram para a cidade: um se formou como técnico agrícola e trabalha em uma empresa que vende defensivos agrícolas, enquanto o outro montou uma conveniência e trabalha nela. No Santa Lúcia, apenas Dirlei e seu cunhado, dono de um lote, têm plantações de mandioca. Quase todos os 250 assentados arrendaram os lotes para o plantio de soja, que assegura uma renda anual de R$ 17 mil, menos de 1,5 salário mínimo por mês.

Outra trajetória de sucesso, consequência de muito trabalho e resiliência, é a de Thiago Martini, que chegou aos 11 anos de idade vindo de Jardim, acompanhando os pais, e ficou com eles acampado até conseguirem um lote no Eldorado 1. Aos 20 anos, começou a plantar mandioca arrendando um lote vizinho, expandiu a lavoura para um segundo e, hoje, tem uma plantação de 15 hectares. Com o resultado financeiro obtido, conseguiu comprar seu próprio lote, um trator, uma grade e uma plantadeira que custou R$ 35 mil.

Com a obtenção do Contrato de Concessão de Uso neste ano, está encaminhando a contratação de um financiamento de R$ 80 mil para implantar o sistema de irrigação em 8 hectares de seu lote, onde vai expandir sua produção. Com a chuva do último final de semana, José Hilton iniciou o plantio de 200 hectares de mandioca na região do Alambari. Ele cultiva mandioca branca, que é destinada à produção de fécula, e tem um custo menor em relação à de mesa (de coloração amarela). Ele reclama da queda no preço (de R$ 1.000,00 para R$ 400,00 a tonelada). Toda a produção é vendida para fecularias na região de Glória de Dourados.

Área plantada

Há pelo menos 1.500 hectares de área plantada deste arbusto, que é a terceira maior fonte de carboidratos, atrás apenas do arroz e do milho. O relatório do IBGE referente a 2023 computou apenas 250 hectares de área plantada, revelando uma queda de 44% em relação aos 450 hectares de 2022. Esse panorama não corresponde à realidade, já que só um produtor do Capão Bonito tem 600 hectares plantados. Metade da produção abastece Mato Grosso, e o restante vai para Campo Grande.