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Economia

Construção civil se recupera, mas coloca pé no freio em 2022

PIB do setor cresce 7,6% no ano passado, reflexo do crescimento de vendas de imóveis em 2020, mas já indica desaceleração este ano diante do aumento da Selic e menor poder de compra dos brasileiros.

G1

04 de Março de 2022 - 08:51

Construção civil se recupera, mas coloca pé no freio em 2022
Setor de construção civil cresceu em 2021, mas está desacelerando em 2022 — Foto: Reprodução/EPTV 1

Mesmo com a crise econômica e com a segunda onda da Covid-19, o setor de construção civil se recuperou do tombo de 2020 e registrou um avanço de 9,7% no PIB (Produto Interno Bruto) em 2021, o maior crescimento em dez anos, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (4) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O setor foi um dos destaques no resultado do PIB do ano passado. A economia como um todo cresceu 4,6% em 2021.

Mas, com o aumento da taxa básica de juros e o alto custo da construção no país, o setor colocou o pé no freio nos primeiros meses deste ano. Para 2022, a expectativa para o segmento é de um avanço de 2% — percentual quase quatro vezes inferior ao registrado em 2021.

De acordo com José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), como o setor gera bens para entrega futura, 2021 foi resultado de boas vendas feitas um ano antes, em 2020.

Há dois anos, as vendas de imóveis cresceram 26,1%, enquanto os lançamentos tiveram expansão de 1,1%, segundo a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) e da Fundação Instituto de Pesquisas (Fipe).

Segundo Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), em 2020 houve também um crescimento de dois dígitos na venda de materiais impulsionado pela isolamento social — quando as pessoas decidiram reformar a casa e, principalmente, adaptar um cômodo para home office.

"2020 foi um bom ano para a construção e para o mercado imobiliário também pela taxa de juros baixa. O desempenho desse ano favoreceu o ciclo de negócios em 2021", explicou Ana Maria.

O pé no freio da construção civil, no entanto, não tardou a vir como consequência da inflação e do aumento da Selic (taxa básica de juros), afirmaram os especialistas.

Panorama da construção civil no país — Foto: Arte g1

Panorama da construção civil no país — Foto: Arte g1

Desaceleração em 2022

Segundo Martins, presidente da CBIC, a desaceleração já pôde ser sentida em janeiro e fevereiro devido, entre outros motivos, à queda no uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) no ano passado.

Em 2021, os financiamentos imobiliários com recursos da poupança encerraram janeiro de 2022 com queda de 13,1% em relação a dezembro de 2021, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Na comparação anual (janeiro de 2021), no entanto, houve alta de 18,5%.

De acordo com a entidade, 60,4 mil imóveis foram financiados em janeiro de 2022 nas modalidades de aquisição e construção, resultado 6,7% menor do que o registrado em dezembro do ano passado.

"Começamos a vender mal no terceiro trimestre do ano passado. Em 2022, iniciamos bem ruim. A partir do segundo semestre deste ano, vamos começar a ver os resultados de 2021" afirmou Martins.

Custo da construção

Outra influência negativa do setor é a inflação da construção, em detrimento do menor poder de compra da população brasileira.

O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-M) registrou uma queda de 0,48% em fevereiro, percentual inferior ao registrado em janeiro, quando o índice foi de 0,64%. Com este resultado, o índice acumula alta de 1,12% no ano e 13,04% em 12 meses.

Em 2021, ano que impacta diretamente nos resultados da construção deste ano, no entanto, a inflação do setor encerrou em 18,65%, a maior da série histórica iniciada em 2013 (confira gráfico acima).

"O ministro Paulo Guedes disse para esticar o prazo de pagamento [dos materiais], mas não adianta. Enquanto a renda da população não for recuperada, as pessoas não vão comprar. O salário dos trabalhadores não foi reposto e os preços só aumentaram", criticou Martins.

Ana Maria Castelo, do Ibre/FGV, lembra que além do custo para produção do imóvel ter subido — por conta dos materiais de construção — o próprio custo do imóvel aumentou, já que a taxa de juros agora está em 10,75%, maior patamar desde julho de 2017.

"Vamos ter oscilações grandes do humor empresarial este ano, mas sabemos que investimentos dependem de decisões de longo prazo", disse ela.

Para Eduardo Zaidan, vice-presidente de economia do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo), apesar das perspectivas negativas, 2022 ainda está aberto e imerso em incertezas.

"É ano de eleição, subida de juros nos EUA, guerra na Rússia e naUcrânia. Isso tudo trabalha contra o crescimento", disse.