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Economia

Em meio a guerra, preço de fertilizantes aumenta 39% em Mato Grosso do Sul

Gasto com fertilizante consome mais da metade da safra no Estado.

Correio do Estado

13 de Março de 2022 - 19:46

Em meio a guerra, preço de fertilizantes aumenta 39% em Mato Grosso do Sul
Preços de agrotóxicos aumentaram em meio da invasão da Rússia na Ucrânia. Foto: Arquivo / Correio do Estado

O preço de fertilizantes teve um aumento considerável em todo o País desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, que tornou o mercado instável.

Em Mato Grosso do Sul, segundo a Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja-MS), o aumento em relação ao segundo semestre de 2021 já chega a 39%.

Em entrevista à Folha de São Paulo, o presidente da Aprosoja, André Dobashi, afirma que cerca de 20% do fertilizante usado em Mato Grosso do Sul vem da Rússia e muitos produtores rurais ainda não fecharam compra de fertilizantes para o cultivo da soja no dim do ano.

Segundo ele, o motivo, além dos preços, é a escassez da oferta.

Em projeção de gastos com fertilizantes no plantio da safrinha de milho, neste primeiro semestre, a entidade calculou que o gasto no segundo semestre de 2021 equivalia a 32 sacas por hectare, enquanto no atual apartar de preço, sobe para 45 sacas.

Desta forma, a estimativa é que o produtor consiga colher, em média, 78 sacas por hectare.

Neste cenário, o gasto com fertilizante consome mais da metade deda safra, o que, na avaliação da Aprosoja, inviabilizaria a produção em muitas propriedades de Mato Grosso do Sul.

O ideal para os produtores de soja é ter o fertilizante na fazenda até agosto, sendo assim, o prazo-limite para fazer a encomenda é abril.

No ano passado, o pico de entregas ocorreu até antes, em julho.

Brasil

Os produtores brasileiros estão apreensivos com a oferta de fertilizantes. Cerca de 85% dos fertilizantes consumidos no Brasil são importados.

No que se refere ao potássio a dependência é de 95%, sendo que praticamente metade disso é fornecida por Rússia e Belarus, país aliado a Vladimir Putin.

Um indicador da turbulência é o vai e vem da chamada lista de preços, que retrata valores de compras e vendas entre o produtor, de um lado, e um distribuidor ou mesmo importador, do outro.

Quando as empresas suspendem a lista, não há como comprar, seja à vista ou para encomendas, em prazos de até seis meses.

Nas últimas semanas, listas de preços consultadas por produtores pelo país afora oscilaram -foram suspensas, reapresentadas com valores considerados altíssimos, e voltam a ser suspensas, numa instabilidade constante que perturba quem planta.

"A cada movimento da guerra, as listas de preços vão e voltam, com os valores sempre altos, mesmo com o dólar caindo; o mercado está volátil", afirma Décio Teixeira, presidente da Aprosoja-RS, que também planta trigo desde 1970.

"Como pode um país como o Brasil, potência no agronegócio, ter essa dependência internacional? Ficamos no oba-oba, deixando para fazer as coisas no futuro, e o futuro chegou ligeiro para nos cobrar."

O que mais preocupa é a escalada do preço. Segundo a Argus, uma das maiores agências de preços do mundo, os valores dos fertilizantes registraram aumentos expressivos desde o início do conflito envolvendo o leste europeu.

Há um esforço do governo em atuar na busca de alternativas. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, viajou em missão diplomática ao Canadá, maior produtor mundial de potássio, para reforçar o interesse do Brasil em garantir o insumo.

Então, a instabilidade na oferta e nos preços não viria da falta de produto, mas do cenário incerto: ninguém sabe quando e por quanto será possível repor a falta dos produtos do leste europeu.

"O mercado está estupefato, esperando", afirma o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues. "Não há garantia de transporte na região da guerra, e se conseguir retirar o fertilizante, não se sabe como finalizar o pagamento."

Ele lembra que o mercado de fertilizantes vem sofrendo desde o início da pandemia, quando ocorreu uma ruptura na cadeia de logística marítima. A guerra é um segundo golpe.

"Nos últimos dois anos, durante a pandemia, o preço subiu quase 250%", diz Marcos Jank, professor de Agronegócio Global do Insper.

"Estamos recebendo fertilizantes nos portos, a normalização é questão de tempo, mas o custo de produção já aumentou."

A lista de produtos cujo plantio depende de fertilizantes mais caros no segundo semestre inclui itens essenciais para as exportações do agronegócio, para a economia nacional e para o prato dos brasileiros: soja, arroz, feijão e parte do milho, matéria-prima também para a ração de frangos e suínos. Jank lembra que existem ainda as culturas perenes, que também demanda adubação periódica, como café e laranja. ​

O agrônomo Xico Graziano, que ocupou vários cargos públicos ligados à agricultura e meio ambiente, lembra que o mercado de fertilizantes é privado.

"Quem compra e vende fertilizantes são as empresas, e são elas que vão reorganizar a oferta global", afirma. "Mas o preço do produto vai lá para cima, e vamos ter comida mais cara."

O mercado financeiro já está contabilizando os efeitos da guerra sobre alimentos básicos, não apenas pela questão do insumo, mas também pelo risco de quebra na oferta de alguns deles.

Rússia e Ucrânia são importantes produtores de trigo e milho. Na Bolsa de Chicago, a matéria-prima do pão e do macarrão, por exemplo, já acumula alta de 42% neste ano.