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Economia

Juros altos e queda na cotação do boi e da soja ameaçam jargão secular

Corretores admitem que negócios estão travados, mas estão divididos e tem aqueles que estão com o otimismo nas alturas.

Correio do Estado

09 de Maio de 2023 - 14:31

Juros altos e queda na cotação do boi e da soja ameaçam jargão secular
Cotação da soja recuou mais de 30% de um ano para cá, o que trouxe incertezs ao setor imobiliário da área rural - Foto: divulgação

Quem compra terra não erra. O ditado popular é usado há séculos como uma espécie de verdade absoluta. Porém, com os juros nas alturas, queda no preço da soja, do milho e na arroba do boi, este antigo “dogma” está caindo por terra, pelo menos temporatiamente.

Valdemiro Cardoso, que há 25 anos atua como corretor de imóveis, diz que o jargão não morreu, mas deixa claro que “o viés é de baixa no preço das terras”. Prova disso, de acordo com ele, é que “os negócios estão todos parados”.

Se os altos juros persistirem por mais 60 dias, “as terras começam a baixar pra valer, porque tem gente que está segurado os negócios e vai precisar vender pelas cotações que estão os preços da soja e da arroba atualmente”, acredita Valdemiro, mais conhecido como Miro.

E, como os negócios de compra e venda de terras são todos feitos com base no valor da soja e da arroba do boi, que baixaram na casa de 30% e 20% em um ano, respectivamente, a tendência é de que os novos negócios sejam fechados pela cotações atuais destes produtos, prevê o corretor.

E este cenário de incertezas também travou os negócios de terras para o setor de celulose, que até meados do ano passado andavam a pleno vapor, por conta da instalação da fábrica de Ribas do Rio Pardo e da confirmação de uma indústria em Inocência.

“Desde o final do ano, estas empresas pararam de comprar terras, que ficaram muito caras. Agora, querem só arrendar. E arrendamento é um negócio um tanto arriscado, já que tem que ser fechado por 14 anos e tem muita gente com medo de que esse negócio da celulose não dure tanto tempo”, pondera Valdemiro.

SÓ ALEGRIA

Contudo, existe corretor que é bem mais otimista. Embora admita interferência momentânea do cenário atual nos negócios, para o corretor Sílvio Roberto Carrato Júnior, que também tem 25 anos de experiência, o ditado popular citado acima continua mais vivo do que nunca. “Agora é que eu tô fazendo negócios”, garante

Ele faz uma análise menos imediatista para o setor, embora torça para que o dólar recue, os juros caiam e os preços da soja e do milho reajam. Nos últimos anos, lembra, o preço das terras na região leste do estado quadruplicou por causa da chegada das indústrias de papel e celulose.

O hectare nesta região está na casa dos R$ 25 mil A R$ 35 mil. Isso, de acordo com Sílvio, evidencia que investimentos em terra têm retorno garantido. E, pelo fato de as florestas de eucalipto terem tomado o espaço da pecuária, a terra no Pantanal também quadruplicou nos últimos anos, já que os criadores agora estão partido naquela direção, explica.

Em municípios como Dourados, Maracaju e Itaporã, por exemplo, onde estão algumas das fazendas com as melhores terras do planeta, o hectare continua valendo entre R$ 170 e R$ 200 mil, que é o equivalente a mil sacas de soja por hectare da cotação atingido há pouco mais de um ano.

Hoje a soja está em cerca de R$ 120,00, mas o preço das terras continua naquele patamar de um ano atrás, garante o corretor. Isso porque, segundo ele, os contratos que foram fechados à época previam  um valor mínimo para o preço da soja. Se a cotação sobe, o vendedor sai ganhando. Mas, se recua, como foi o caso no último ano, ele garante um valor mínimo, definido no dia do fechamento do negócio.

Mas, apesar deste otimismo todo, ao ser perguntado sobre a quantidade de negócios que já fechou neste ano, Silvio afirmou que este é um tema sobre o qual prefere não falar.  Assim, indiretamente, admite que mercado da compra e venda de terras está, sim, um tanto travado e atribuiu a responsabilidade ao alto custo da produção de soja e milho, já que a cotação do dólar segue nas alturas.

PONDERAÇÃO

Um terceiro corretor consultado pelo Correio do Estado, Carlos Alberto Peratelli, que atua há 45 anos na área, fica na coluna do meio. Ele concorda que a “procura ficou menor, principalmente por causa dos altos juros”, mas ao mesmo tempo diz que "está tudo normal".

Ele enfatiza que “terra é um negócio seguro e que dificilmente alguém vai perder dinheiro”. De acordo com ele, a terra em Dourados e região continua valendo de R$ 170 mil a R$ 200 mil, apesar da queda no preço da soja.

As vendas, de acordo com ele, continuam acontecendo, embora já tenha percebido que tem gente deixando dinheiro no banco para aproveitar os altos juros, que chegam a superar 1% ao mês.

Os arrendamentos, porém, estes sim perderam força, admite. “Tem agricultor que arrendou terra nos dois últimos anos que agora está tentando passar as áreas adiante numa tentativa de não perder dinheiro, já que o custo da produção segue nas alturas e quem não tem muita experiêcia e estrutura para produzir, vai perder dinheiro”, explica.