Esporte
Brocador no São Paulo: ignorado por quatro anos e sem jogos no currículo
Artilheiro do Brasil em 2013, Hernane sequer sentou no banco de reservas pelo Tricolor. Nesta quarta-feira, em Itu, pode se vingar agora pelo Fla
Globo Esporte
13 de Novembro de 2013 - 08:40
Hernane vive aos 27 anos uma temporada de sonhos. Decisivo na reação do Flamengo, o centroavante aparece como um dos goleadores em todos os torneios que disputou e ainda lidera a briga pelo posto de Artilheiro do Ano, com 33 marcados. Mas o sucesso obtido no Flamengo poderia ter acontecido no adversário desta quarta-feira, às 21h50m, em Itu. Antes de virar o Brocador no Rubro-Negro, o atacante passou quatro temporadas praticamente esquecido no São Paulo.
Hernane chegou ao Tricolor no fim de 2007 depois de se destacar jogando a Quarta Divisão do Campeonato Paulista pelo Atibaia. Com 21 anos e 13 gols marcados no torneio, o grandalhão chamou a atenção do clube do Morumbi como uma promessa para o futuro, mas esbarrou na falta de oportunidades e só conseguiu espaço quando foi embora.
Mesmo com a idade acima do permitido, o atacante passou um longo período treinando nos juniores. Como não poderia disputar torneios da base, ele integrava a equipe chamada pelos dirigentes de Super 20, um combinado de atletas com a idade estourada e que não seria aproveitado pelo técnico Muricy Ramalho.
O time disputava partidas amistosas e fazia excursões pelo exterior. Só quem brilhasse teria uma chance nos profissionais, casos de Hernanes, do Lazio, e Jean, do Fluminense. Os demais permaneciam jogando partidas não-oficiais até serem emprestados ou negociados.
Alguns jogadores demoram mais para estourar. É preciso ter paciência. Por isso, sou francamente a favor de um time B. Cabe ao clube ter visão de futuro para aproveitá-los"
Marco A. Cunha, ex-superintendente do São Paulo, sobre Hernane
Eu até operei um neuroma que ele tinha no pé. Não sei o que aconteceu. Alguns jogadores demoram mais para estourar. É preciso ter paciência. Por isso, sou francamente a favor de um time B. Cabe ao clube ter visão de futuro para aproveitá-los afirmou Marco Aurélio Cunha, ex-superintendente de futebol do São Paulo na ocasião.
O máximo que Hernane conseguiu foi ser relacionado para um jogo, no dia 21 de fevereiro de 2008. O sonho de estrear com a camisa tricolor, porém, não durou mais do que uma noite. Ele dormiu na concentração com o elenco, mas acabou cortado por Muricy momentos antes da partida. Horas depois, o São Paulo venceu o Paulista por 2 a 1, no Morumbi, pelo estadual.
A concorrência também era pesada. Muricy sempre deu preferência a jogadores com mais experiência, principalmente durante a fase em que o São Paulo não economizava para buscar o tricampeonato nacional. O técnico tinha como opções Borges, Aloísio, Dagoberto, Éder Luis e André Lima.
Sem espaço no grupo, Hernane acabou retornando às categorias de base e iniciou uma verdadeira peregrinação por clubes menores. Mesmo assim, seguia vinculado ao São Paulo e com a esperança de retornar para ter mais chances de atuar. Nada disso aconteceu.
Em 2008, defendeu o Rio Preto-SP. Um ano depois, o Toledo-PR e mais tarde o Paulista. Nem mesmo a saída de Muricy modificou o cenário. Ele também seguiu fora dos planos nas passagens de Ricardo Gomes, Paulo César Carpegiani e Adilson Batista, além de Sérgio Baresi e Milton Cruz.
O atacante deixou definitivamente o São Paulo em 2011 para atuar pelo Paraná na Série B do Campeonato Brasileiro. Em seguida, jogou pelo Mogi Mirim, onde fez 16 gols no Paulistão de 2012 e partiu para assinar com o Flamengo.
Curiosamente, o São Paulo passou toda a temporada 2013 com problemas para fixar um centroavante. Luis Fabiano não consegue repetir as exibições de outros anos e caiu em desgraça. Aloísio se firmou apenas nos últimos dois meses, mas está longe de ser um goleador. Eles fizeram 21 gols cada no ano. Número distante dos 33 de Hernane. O Brocador, antes ignorado, hoje faz falta ao Tricolor.