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Mato Grosso do Sul

Briga por rotas do tráfico fez violência aumentar na faixa de fronteira de MS

Nos quatro primeiros meses deste ano, foram registrados 87 assassinatos, ou seja, duas mortes ocorreram a cada três dias.

Correio do Estado

14 de Maio de 2022 - 10:13

Briga por rotas do tráfico fez violência aumentar na faixa de fronteira de MS
Delegado regional de Combate ao Crime Organizado da PF de MS, Fabrício de Azevedo Carvalho. Foto: Gerson Oliveira

A violência na faixa de fronteira entre Mato Grosso do Sul e Paraguai cresceu nos últimos anos e, segundo o delegado regional de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, Fabrício de Azevedo Carvalho, isso se deve à briga por territória das melhores rotas para o “ecoamento da produção” do tráfico de drogas.

Segundo dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), só nos primeiros quatro meses deste ano, já ocorreram 87 crimes de homicídio doloso na faixa de fronteira de Mato Grosso do Sul com Paraguai.

Isso quer dizer que a cada três dias duas pessoas foram mortas nos 12 municípios que fazem parte da linha de fronteira entre MS e Paraguai.

Já no ano passado, no mesmo período, o acumulado dos meses de janeiro, fevereiro, março e abril foram de 91 assassinatos. Os números são muito semelhantes e mostram uma estabilidade na criminalidade nesses últimos anos.

“Ali [na fronteira] são várias organizações lutando pelas rotas, domínio de território. Então, a forma que eles usam para chegar nisso é praticando esse tipo de crime, homicídio e [acontece de ferir inocentes], que chamamos de efeito colateral, que são pessoas inocentes que acabam sofrendo as consequências das ações desses criminosos”, explicou Carvalho.

Para cuidar da situação da fronteira em Mato Grosso do Sul, a PF do Estado criou unidade responsável para trabalhar só em facção criminosa.

“A Polícia Federal está atenta à atuação dessas organizações criminosas no Paraguai. Nós temos investigações relacionadas a atuações de organizações criminosas, e não estamos alheios à atuação delas no país vizinho”, completou o delegado.

Este ano, Coronel Sapucaia foi a cidade com o maior número de assassinatos na faixa de fronteira com o Paraguai, foram oito no primeiro quadrimestre, dois por mês para uma cidade com apenas 15.449 habitantes, segundo estimativa de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A segunda cidade mais perigosa no ano foi Ponta Porã, com seis homicídios dolosos nos quatro primeiros meses de 2022. O número, porém, é metade do acumulado do ano passado, no mesmo período, quando foram 13 ocorrências.

“Essas organizações se degladiam em busca de dominar território e conquistar as rotas do narcotráfico. Realmente, houve uma intensificação dos atos violentos na região de fronteira, mas diria que proporcionada por essa briga de territórios”, afirma Carvalho.

QUADRILHAS:

Como o Paraguai não produz cocaína, apenas maconha, essas facções criminosas que atuam na faixa de fronteira no tráfico de drogas costumam exportar o produto dos países produtores, como a Bolívia, a Colômbia e o Peru.

De lá, é trazida para o Brasil e distribuída entre as “praças” de venda. Outra parte, a maior segundo a polícia, é encaminhada para Europa, África e Ásia.

Por esse motivo, os traficantes tentam criar uma logística para que o produto chegue em seu destino sem passar por fiscalização.

Depois da morte de Jorge Rafaat, conhecido como o “Rei da fronteira”, em 2016, várias facções tentaram o domínio dessas rotas, por este motivo as brigas estão mais acirradas nos últimos anos.

Segundo o delegado da PF, essa é uma diferença que a região de fronteira de Mato Grosso do Sul tem com outras regiões ligadas ao tráfico de drogas.

No México ou na Colômbia, os chamados cartéis costumam ter domínio da região onde atuam, sendo menos frequente embate entre grupos rivais.

“Nos países que os cartéis dominam, eles já têm aquela região dominada, na fronteira eu acho que já é mais pulverizada. São vários grupos atuando, mas cada um com a sua logística, sua área de atuação”, explica o delegado regional de Combate ao Crime Organizado da PF de MS.

AUMENTO DE APREENSÕES:

Nos últimos anos, Mato Grosso do Sul teve um aumento no número de drogas apreendidas por todas as forças policiais. Em relação à Polícia Federal, por exemplo, o crescimento desde o ano em relação à cocaína representa praticamente o dobro do somatório do ano passado.

Enquanto em 2021, a corporação encontrou, de janeiro a abril, 1,46 toneladas de cocaína, este ano, em quatro meses, foram 3,86 toneladas do entorpecente.

Conforme o delegado, não há como cravar o motivo deste aumento, se está relacionado ao aumento de produção ou ao crescimento no consumo dos entorpecentes.

“É muito difícil cravar alguma coisa, seja porque aumentou a produção, seja porque aumentou a demanda. O que a gente pode cravar é que as polícias de um modo geral têm apreendido mais. Eu prefiro ver do ponto de vista do trabalho, do aperfeiçoamento do trabalho, da forma como essas apreensões vêm sendo feitas, da parceria entre agências, FAB [Força Aérea Brasileira], Exército, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar, DOF [Departamento de Operações de Fronteira], então esse intercâmbio de informação tem facilitado muito nosso trabalho”, declara Fabrício de Azevedo Carvalho.

SIGA O DINHEIRO:

Para tentar coibir a prática desses crimes, a Polícia Federal trabalha com inteligência para identificar os envolvidos com essas quadrilhas e descapitalizar os grupos.

Como apontado em matéria publicada na edição desta sexta-feira do Correio do Estado, nos últimos 16 meses, contando de janeiro de 2021 a abril de 2022, a corporação recuperou quase R$ 100 milhões de quadrilhas do narcotráfico.

Em todo o ano de 2021, foram apreendidos R$ 86.009.002,76, desse valor, só no primeiro quadrimestre, foram R$ 16.461.419,00. Já neste ano, nos quatro primeiros meses, o montante chegou a R$ 9.375.491,34. Ou seja, nestes 16 meses foram resgatados pela PF R$ 95.384.494,04.

Os valores foram retirados de contas de laranjas bloqueadas e de empresas de faxada criadas para lavar o dinheiro do tráfico, além disso, também são contabilizados imóveis e veículos ligados aos criminosos.

“As formas [de lavar o dinheiro] são as mais variadas, eles sempre tentam aperfeiçoar à medida que a polícia vai trabalhando, vai desenvolvendo o seu trabalho. Mas não existe crime perfeito, pode demorar um pouco mais, mas a gente acaba, de uma forma mais demorada, conseguindo chegar”, declarou o delegado.