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Policial

Polícia investiga ligação de atirador com extremistas

G1

11 de Abril de 2011 - 14:22

O “Fantástico” teve acesso a manuscritos encontrados na casa de Wellington Menezes de Oliveira, que matou 12 alunos na escola de Realengo, no Rio. Há um exercício de inglês, anotações soltas, e o principal deles: uma espécie de carta - aparentemente dirigida a uma mulher, escrita provavelmente antes da morte da mãe, há dois anos.

Há muitas referências religiosas e sinais de tendências suicidas: "Os prazeres e o reconhecimento deste mundo são coisas passageiras e o que importa é ser reconhecido por Deus, porque não será com as pessoas limitadas desse mundo que viverei eternamente e sim com Deus".

Nos últimos anos, Wellington parece se interessar também por outra religião: o islamismo. Uma das irmãs do atirador disse à polícia, em depoimento, que Wellington passou a frequentar uma mesquita no Centro do Rio. Na carta, ele relata um conflito: "Já errei com minha família, mas eu mudei com o alcorão e eles não confiam em mim".

Wellington faz referência ao que seria um grupo. E relata dividir o próprio tempo entre orações e reflexões sobre o terrorismo. "Estou fora do grupo, mas faço todos os dias a minha oração do meio-dia que é a do reconhecimento a Deus e as outras cinco que são da dedicação a Deus e umas quatro horas do dia passo lendo o alcorão. Não o livro, porque ficou com o grupo, mas partes que eu copiei para mim. E o resto do tempo eu fico meditando no lido e algumas vezes meditando no onze de setembro".

O sheik Jihad Hassan diz que Wellington não era muçulmano e afirma categoricamente: “A religião islâmica proíbe esses atos. Ela não dá amparo, não ensina, ela não dá esses ensinamentos, ela não acolhe esse tipo de pessoa, esse tipo de pensamentos, ela ensina o bem. Ensina a preservar a vida, e não a tirar a vida”, diz Hassan.

Documentos como os que o "Fantástico" apresentou levantam muitas perguntas, que precisam ser respondidas. Por exemplo: Wellington participou de algum grupo extremista, com ligações até no exterior, como diz nos papéis? Ou isso é apenas fruto de uma mente doentia?

Wellington também manifesta vontade em conhecer países de população islâmica: "...pretendo trabalhar pra sair desse estado ou talvez irei direto ao Egito". Além da carta, a polícia encontrou uma folha com anotações soltas, e uma referência à Malásia, um país de maioria islâmica, onde há alguns dos edifícios mais altos do mundo.

A fixação pelo terrorismo tinha sido percebida por pessoas que conviviam com Wellington, como o barbeiro que o atendia há sete anos. À polícia, ele disse que "no último ano Wellington passou a deixar a barba crescer, atingindo o comprimento até o peito". Quando brincou com Wellington, dizendo que cortaria a barba dele, o cliente o impediu , dizendo "vou ser expulso".

O barbeiro entendeu que Wellington se referia ao grupo de islamismo, pois ele dizia que o islã era a religião mais correta, e que estava estudando o alcorão. As reuniões, segundo o depoimento, aconteceriam na Barra da Tijuca ou no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro.

O responsável pelo inquérito não considera necessário abrir essa linha de investigação. "Tudo o afasta de grupos extremáticos. É sim um louco, que de forma covarde resolveu atingir a vida de crianças indefesas para depois se suicidar como ocorreu", diz o delegado Felipe Ettore.

Líderes espirituais e especialistas concordam que atos como o do assassino Wellington nada têm a ver com religião.