Sidrolandia
Estudo com crianças da 2ª Guerra sugere que distúrbios mentais são transmitidos a descendentes
Pesquisa publicada no "JAMA Psychiatry" mostra que filhos de pessoas que viveram eventos traumáticos também desenvolvem distúrbios mentais.
G1
29 de Novembro de 2017 - 14:19
Distúrbios mentais podem passar entre gerações, diz estudo publicado no 'JAMA Pshychiatry' nesta quarta-feira (29). Pais que desenvolveram doença mental ligada a traumas passaram a condição para os filhos, afirmam cientistas. Eles têm maior risco de desenvolver condições como transtorno bipolar e depressão, mesmo que não tenham histórico de trauma associado.
A pesquisa foi desenvolvida pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês) em parceria com a Universidade UPPsala (Suécia) e a Universidade de Helsinque (Finlândia).
A equipe demonstra que filhas de mães separadas de suas famílias durante a Segunda Guerra Mundial apresentavam risco elevado para transtorno mental, mesmo que não tivessem histórico de trauma similar.
Cientistas não sabem ainda o porquê disso ocorrer, mas têm algumas hipóteses. Eles desconfiam de alterações epigenéticas -- quando "o meio" em que o gene está inserido muda a maneira como ele se expressa.
Eles se baseiam em descoberta anterior que demonstrou que sobreviventes do Holocausto têm níveis mais altos de compostos ligados ao gene FKBP5, condição que altera a produção de cortisol, hormônio associado ao estresse. Ainda, eles não só possuíam o composto, como passaram-no para seus descendentes.
Também, segundo pesquisadores, a maneira com a qual mães lidavam com seus filhos durante a infância também pode ser considerada um preditor.
As marcas da guerra
De 1941 a 1945, cerca de 49 mil crianças na Finlândia foram retiradas de suas casas para serem protegidas de bombardeios. Muitas delas foram viver com familias adotivas na Suécia. Além da separação em si, elas tiveram que se adaptar à nova língua e à nova família. Depois, ao retornarem para a Finlândia, passaram por um novo processo de adaptação.
Em contrapartida, alguns pais optaram por reter alguns dos filhos nas residências -- o que possibilitou que o estudo com essas crianças tivesse um grupo-controle.
Assim, pesquisadores compararam irmãos que saíram com os que ficaram. Como eram membros da mesma família, eles conseguiram, assim, excluir fatores familiares que poderiam influenciar o resultado.
Em um primeiro momento, ao comparar os dois grupos (mais de 46 mil irmãos nascidos entre 1933 e 1944), cientistas demonstraram que crianças que deixaram suas casas tinham risco aumentado para transtornos psiquiátricos.
Depois, cientistas analisaram dados dos filhos dessas crianças (93 mil pessoas nascidas depois de 1950), dos quais 3 mil eram descendentes de pais evacuados durante a guerra e 90 mil filhos de pais que permaneceram na Finlândia.
Eles demonstraram que filhas de mãos de crianças que deixaram suas casas tinham maior risco de internação de distúrbios do humor, como depressão e transtorno bipolar. O risco aumentado chega a ser quatro vezes maior que filhos de crianças que não deixaram o país durante a guerra.
Além de mostrar a influência das experiências vividas pelos pais na saúde mental de seus descendentes, o estudo também alerta sobre políticas públicas que visem proteger crianças. Já que, ao separá-las de suas famílias durante a guerra, elas foram protegidas dos bombardeiros, mas apresentaram marcas que influenciaram seus descendentes.