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Sidrolandia

Um "Loco" que quer tirar o Brasil da Copa: saiba mais de Bielsa

Vários jogadores, como Valdívia e Contreras, haviam sido suspensos por conta de algazarras em hotel, com bebidas e mulheres, antes do jogo contra o Brasil

Terra

28 de Junho de 2010 - 10:42

Foi uma goleada brasileira que fez o Chile ir atrás de Marcelo Bielsa em 2007. O treinador argentino, longe dos holofotes desde que deixara a seleção de seu país em 2004, era a única esperança de reerguer os chilenos e reconstruir um ambiente destruído após uma goleada de 6 a 1, comandada por Robinho, na Copa América daquele ano.

Nelson Acosta, treinador da grande equipe de 1998, estava de saída. Vários jogadores, como Valdívia e Contreras, haviam sido suspensos por conta de algazarras em hotel, com bebidas e mulheres, antes do jogo contra o Brasil. Bielsa era o homem de pulso firme, dono de ideias ousadas e arrojado para apostar em jovens atletas. Exatamente o que o Chile precisava.

Três anos depois, nem mesmo jogadores talentosos como Vidal, Isla e Alexis Sánchez são capazes de brilhar mais que Marcelo Bielsa na seleção chilena, de volta a uma Copa depois de 12 anos. Mordido pela eliminação da argentina na primeira fase da Copa de 2002, El Loco, como é conhecido o excêntrico treinador, é a principal ameaça à continuidade do Brasil nestas oitavas de final da Copa.

O que Bielsa fez no Chile

Ideias arrojadas, futebol excessivamente ofensivo e por vezes quase suicida. Bielsa levou esses conceitos ao Chile, usando todos os bons valores que haviam sido medalha de bronze no Mundial Sub-20 de 2007. Aplicou seu sistema mais famoso: com três zagueiros, um volante e dois alas, três meias ofensivos e um centroavante.

Fechando tudo para a imprensa ao melhor estilo Dunga, Bielsa transformou a identidade da equipe. Valente, jamais aceitou oferecer ao adversário a condição de protagonista de um jogo. É sempre o Chile a equipe que ataca em velocidade e cria as chances na frente. Paga seus preços por isso, como mostra a goleada brasileira por 3 a 0 em setembro de 2008. Foram três gols do Brasil originários de contragolpes em Santiago.

No Chile, porém, seu talento é reconhecido. Eleito o estrangeiro mais influente do país em 2008, Bielsa levou a seleção a uma Copa do Mundo depois de 12 anos. Venceu a Argentina em Assunção, bateu o forte Paraguai fora de casa e peitou o Brasil em Salvador. Os jogadores chilenos ganharam prestígio e invadiram equipes fortes da Europa.

Na África do Sul, tudo se repetiu como fora anunciado. Equipe recolhida a uma pequena cidade, afastada de tudo. Com paz para trabalhar, Bielsa armou o time que retorna às oitavas de um Mundial com oito vitórias em 11 jogos neste ano. O único time a marcar um gol na defesa suíça, a mais impenetrável da história das Copas.

Nesta segunda-feira, não espere um Chile conservador diante do Brasil. Isso não faz parte das ideias de Bielsa.

Quem é ele

Marcelo Alberto Bielsa é, antes de tudo, um grande rosarino. Em 21 de julho de 1965, na terceira mais populosa cidade argentina, veio ao mundo alguém que traria novas ideias ao futebol. Nem tanto como zagueiro do Newell's Old Boys, clube da sua Rosário, mas sim fora de campo.

Meses depois de sua estreia como treinador profissional, em 1990, Bielsa honrou a confiança do Newell's Old Boys e foi campeão argentino. Tinha só 35 anos e dois anos depois, além de conquistar o título nacional mais uma vez, foi até a final da Taça Libertadores. Era o treinador da equipe vencida pelo São Paulo na decisão.

Depois de ser novamente campeão argentino com o Vélez Sarsfield, em 1997, foi eleito para recuperar a seleção de seu país, eliminada nas quartas de final da Copa 98. Chegou ao Mundial seguinte com 67,5% de aproveitamento. Dos 18 jogos das Eliminatórias, venceu 13 e empatou quatro. Era a sensação, mas não passou da primeira fase.

Frustrado e cheio de críticas, Bielsa seguiu no cargo. As porradas só aumentaram após a Copa América de 2004, perdida para o Brasil nos pênaltis. Mais uma vez, El Loco seguiu calado. Dias depois, seria medalha de ouro em Pequim. Agora sim, deixava o cargo. É o jeito Bielsa de ser.