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Sidrolandia

Vem ai o azeite do Brasil

Hotéis brasileiros devem ser os primeiros a receber o produto nacional ainda este ano

Revista Panorama Rural

10 de Maio de 2010 - 17:08

Um dos líderes na produção de alimentos no mundo, o Brasil ainda é 100% dependente da exportação de azeite para abastecer seu mercado interno. No entanto, os primeiros passos estão sendo dados para que dentro dos próximos anos o consumidor tenha disponível nas prateleiras dos supermercados o azeite extravirgem brasileiro, com qualidade semelhante aos bons produtos europeus.  

2010 está sendo considerado como o ano divisor de águas neste sentido no país. Em 12 de fevereiro, no município de Maria da Fé, MG, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) proporcionou a primeira extração de azeite em “escala comercial" no Brasil, disponibilizando a produtores de 26 municípios do Sul de Minas uma máquina, de origem italiana, com capacidade de processar 100 quilos de azeitonas/hora. As pesquisas da Epamig com a olivicultura já existem há três décadas e foram intensificadas nos últimos cinco anos. 

A região conta com 300 hectares/> em cultivo – terras de produtores - com plantas em diferentes idades. Nesta primeira safra deverá produzir perto de cinco toneladas de azeitona que devem render até mil litros de azeite extravirgem. O cálculo é do engenheiro agrônomo e pesquisador da Epamig, João Vieira Neto, que está otimista quanto à disponibilidade do produto para o consumidor brasileiro: “em um mínimo de dois anos este azeite poderá ser encontrado nas prateleiras”. Por enquanto, o resultado das extrações está ficando com os próprios produtores. 

Apesar do Brasil ainda não contar com uma produção em escala para qualquer previsão mais segura, este otimismo do pesquisador tem fundamento. Iniciativas concretas pelo país apontam para esta realidade. Em Minas Gerais/> a tecnologia oferecida pela Epamig vem fazendo com que a área plantada com oliveiras aumente cerca de 50% ao ano e, no ano passado, os produtores já se organizaram para a criação da Associação dos Olivicultores dos Contrafortes da Mantiqueira. 

Na Região Sul, a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) também já disponibiliza tecnologia aos produtores e há uma tendência em se criar um Programa Estadual de Olivicultura. No Rio Grande do Sul, a Associação Rio-Grandense de Olivicultores (Argos), criada em 2008 em Ijuí, RS, vai oferecer, ainda este ano, perto de mil litros de azeite nacional para hotéis brasileiros. Quer também ampliar sua ação até o Paraná, integrando produtores de três estados. 

Além disso, pelo menos dois eventos ainda neste semestre devem atrair interessados no assunto: a Jornada Internacional de Olivicultura, dias 10 e 11 de maio em Porto Alegre/>, RS; e o 1º Simpósio Mineiro de Olivicultura, de 04 a/> 07 de maio em Itajubá, MG. 

De acordo com João Vieira Neto, da Epamig, seriam necessários aproximadamente 65 mil hectares plantados com oliveiras para que o Brasil pudesse se tornar auto-suficiente em azeite. Pelos/> seus cálculos, o Brasil importou 45 mil toneladas do produto em 2009. No entanto, além de políticas de financiamento e assistência técnica, o produtor interessado terá de ter paciência. “São necessários seis anos para que a planta atinja o pico de produção, mas com aproximadamente três a quatro anos de vida já começa a oferecer azeitonas”, explica Neto. Por outro lado, a aposta no cultivo pode se revelar uma excelente poupança para a família. “Uma planta produz, no mínimo, durante 100 anos”, revela. 

Mas nem todo agricultor brasileiro poderá apostar na olivicultura. Seu cultivo exige regiões com inverno bem definido, solos profundos e drenados e área com bastante insolação para garantir o desenvolvimento vegetativo da planta. A Epamig já desenvolveu mais de uma dezena de cultivares adaptadas para a região do Sul de Minas e produz perto de 50 mil mudas/ano. Além disso, atende produtores interessados de outras regiões. “Recebemos aqui agricultores de outros estados e até de países vizinhos”, conta Neto. 

Para hotéis 

Alguns hotéis brasileiros serão os primeiros estabelecimentos comerciais a disponibilizar o azeite nacional para o consumidor brasileiro. Quase mil litros de extra virgem gaúcho serão destinados aos chefes de cozinha das principais redes hoteleiras do país. É o que fará ainda este ano o produtor Guajará de Jesus Oliveira, que até dezembro vai processar azeitonas de três mil pés de Oliveira de um total de 7.400 plantas que cultiva no Rio Grande do Sul desde 2002. 

Oliveira – ele garante que o sobrenome é apenas coincidência – preside a Associação Rio-Grandense de Olivicultores (Argos) que reúne 25 produtores, 38 mil plantas e 100 hectares/> cultivados. Até dezembro deste ano a meta da associação é ambiciosa. “Queremos atingir 400 hectares/> plantados”, revela. A Argos também está se expandindo para os outros estados da Região Sul. “Em Araucária, no Paraná, um associado está investindo no plantio de 12 mil pés”, conta. 

O presidente da associação compactua com a opinião de que nos próximos anos o brasileiro já vai começar a encontrar o azeite nacional nas prateleiras de supermercados: “meu cálculo é que em três anos isso começe a acontecer”. A Argos adquiriu uma máquina em Milão, na Itália, que tem capacidade para processar 80 quilos de azeitonas/hora (que rendem, em média, 16 litros/> de azeite). 

Santa Catarina

A Epagri, em Santa Catarina/>, também importou uma máquina processadora da Itália, mas de menor capacidade. Consegue extrair azeite de 10 quilos de azeitonas em 45 minutos. Pesquisadores garantem que é o suficiente, no momento, para confirmar a qualidade do produto desenvolvido atualmente em 12 unidades de pesquisa – 12 hectares/> plantados. “Não se tem mais dúvidas sobre cultivares adequada para a produção de azeite e conservas”, garante o engenheiro florestal da empresa, Dorli Mário da Croce. 

De acordo com o técnico da Epagri, as regiões catarinenses que apresentam as melhores condições de desenvolvimento das oliveiras são o meio oeste e o extremo oeste do Estado. Em outros pontos, a empresa investiu em unidades de pesquisa, mas os resultados não foram satisfatórios, sobretudo em função da incidência de geadas. 

Croce é mais conservador do que o presidente da Argos e também em relação ao pesquisador da Epamig, no que se refere à previsão do azeite brasileiro chegar ao consumidor: “calculo que isso acontecerá entre cinco e 10 anos”. Para o produtor que quer investir na olivicultura, o técnico da Epagri sugere: “primeiro deve buscar orientação técnica, em seguida promover a correção do solo, pois a cultura exige um PH quase neutro, e, em seguida, fazer a adaptação de variedades para a sua propriedade”.