Esporte
Santos de Neymar vence, iguala Tri do time de Pelé
13 de Maio de 2012 - 23:27
Quem hoje ouve dos pais e avós relatos sobre o Santos de Pelé terá a obrigação de, no futuro, contar aos filhos e netos histórias do Santos de Neymar. História que ganhou novo capítulo neste 13 de maio de 2012, quando o Santos de Neymar venceu por 4 a 2 o Guarani e conquistou o tricampeonato paulista consecutivo. Feito que ninguém havia sido capaz de alcançar desde o Santos de Pelé, em 1967, 68 e 69.
A equipe pisou o gramado do Morumbi já campeã. Só uma catastrófica derrota por três gols de diferença levaria a decisão para os pênaltis. As pouco mais de 53 mil pessoas na arquibancada já comemoravam. Faltou o churrasco para dar o tom de jogo festivo. Com o Peixe na contagem regressiva para o título e o Bugre descompromissado, a pelada se instaurou no Morumbi.
Início com um gol a cada quatro minutos: Alan Kardec, Fabinho, Neymar e Bruno Mendes. No primeiro quarto do jogo, o placar já mostrava 2 a 2. Outras tantas chances foram desperdiçadas. Espaço de sobra para dribles e arrancadas. Jogo único, motivado por circunstâncias raras. O Guarani na final sem nada a perder e o Santos numa espécie de "relaxamento" antes de decidir vaga na semi da Libertadores contra o Vélez (ARG), em desafio bem mais árduo.
No fim, cada um no seu lugar. O Santos, com o brilho dos craques, no alto do pódio, a taça de seu 20º estadual. E como cresce o acervo do Alvinegro Praiano... O Guarani, orgulhoso de não estar mais em destaque por atrasos de salário ou risco de perder seu estádio, e sim por uma campanha digna de aplausos. De ter sido o melhor entre os times comuns do estado. Esse Santos não é comum...
Camisa 11 que vale por 11 jogadores
O que responderia o técnico Vadão se lhe perguntassem: "O que você prefere? Enfrentar Neymar aceso e dez jogadores apagados, ou o contrário?". Em 45 minutos, o craque voltou a mostrar que pode resolver quase sozinho. Ou melhor, em um minuto...
Seus olhos enxergam mais do que os dos outros. E seus pés são capazes de obedecer o que os olhos vêem e o coração sente. Assim, ele deixou Elano na cara do gol. E Elano deixou Alan Kardec mais do que na cara, quase dentro do gol, para abrir o placar.
Neymar estava aceso. Fez o lateral Bruno Peres deslizar pelo gramado do Morumbi, deixou Kardec novamente em condição de marcar, puxou contra-ataques... E quando o Guarani já havia empatado, e Paulo César de Oliveira considerou intencional o toque de mão de Fábio Bahia na área, o atacante ignorou a catimba de Domingos e do goleiro Emerson para recolocar o Peixe em vantagem. Manteve a calma, beijou a bola e atendeu seu pedido: ser colocada no ângulo.
Seus companheiros já pareciam querer antecipar a festa. Rafael soltou bola fácil nos pés do esperto Fabinho, que marcou o primeiro. Elano perdeu a bola, Durval furou e Bruno Mendes empatou de novo. Vacilos fatais contra um Bugre que exalava respeito à sua história e sua torcida. De um time que poderia ter vencido no primeiro tempo. Bruno Mendes e Medina ficaram livres à frente de Rafael, mas o goleiro da Seleção Olímpica se redimiu do erro.
Muricy Ramalho inquieto. Ganso desaparecido. Torcida ainda certa do título, mas à espera da vitória com a qual está tão bem acostumada pela equipe. Assim terminou a etapa inicial.
Último ato
Segundo tempo com mais cara de final. Equipes desgastadas, precavidas e chances de gol raras. A cada minuto no relógio, o torcedor alargava o sorriso e ensaiava as dancinhas para acompanhar Neymar e companhia na celebração do título. E o Guarani, apesar das ordens de Vadão para avançar, substituia o ímpeto de tentar o milagre de três gols pelo orgulho de voltar a figurar numa final de Campeonato Paulista.
O ritmo de jogo era ditado pelos santistas e a ordem de Muricy Ramalho muito clara: manter a posse de bola, que até então ficara mais com o adversário. Parecia atormentar a cabeça dos bugrinos a impressão de que o último fio de esperança ficou nas chances perdidas dentro da grande área, no primeiro tempo.
Quem queria ver o duelo entre Neymar e Domingos foi atendido. E ambos foram fiéis ao que esperavam deles. Primeiro o zagueiro, malandro, deixou sua mão acertar o rosto do atacante. Depois deu o famoso chega pra lá na costela do rival. Por fim, não aliviou no embate corporal e deixou Neymar no chão.
É preciso fazer justiça a Domingos. Não foi maldoso, não foi desleal. Fez um belo campeonato. E é preciso fazer justiça a Neymar, que também respondeu da forma que melhor lhe cabe. Iniciando a jogada, posicionando-se na área enquanto Juan driblava e rolava para trás, recebendo e batendo com força, convicção e talento: o gol número 108 com a camisa do Santos. O vigésimo no Paulistão: artilheiro da competição. O 27º gol em 24 jogos em 2012. Alan Kardec, nos acréscimos, ainda pedalou antes de driblar Emerson, fazer o chamado "gol do título" e levar ao delírio a maior parte dos 53.749 pagantes no Morumbi.
Ao contrário da década de 1960, privilegiados são os futuros pais que terão fotos e vídeos mil para mostrar aos herdeiros uma equipe que faz história a cada semana. Que faz história ao respeitar ídolos como Léo, que entrou em campo só para ser homenageado. Que faz história ao manter no futebol brasileiro o gênio Neymar, a quem a Europa pensou que levaria quando bem entendesse. Que faz história ao tornar ainda maior um Muricy Ramalho que já era enorme com seu currículo repleto de conquistas.
"Campeão absoluto deste ano", diz o hino. Ano do centenário. "Tricampeão, tricampeão!!!" Grito que ecoa no estado de São Paulo depois de 43 anos. Um domingo histórico.