Sidrolândia
Família contesta diagnóstico de que Covid-19 matou Valdinei aos 33 anos
Valdinei morreu após 21 dias de internação, primeiro no Hospital Universitário, depois (desde o 3) no Hospital da Unimed.
Flávio Paes/Região News
23 de Março de 2021 - 07:20
Com menos de 4% da população do município, o distrito de Quebra Coco contribuiu até agora com quase 9% das mortes causadas por Covid-19 em Sidrolândia, tomando como base os dados divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde, ontem segunda-feira (22).
O que chamou atenção para o 56º óbito, é a idade da vítima, Valdinei, que morreu aos 33 anos, um homem jovem para o perfil dos pacientes que tem sucumbido aos efeitos devastadores do novo coronavírus, a maioria acima dos 60 anos.
Valdinei morreu após 21 dias de internação, primeiro no Hospital Universitário, depois (desde o dia 3) no Hospital da Unimed. Ele foi se tratar na Capital, conforme informação da esposa, com o diagnóstico preliminar de apendicite. Os exames revelaram uma doença bem mais grave: câncer de garganta, que evoluiu rapidamente.
O ex-funcionário da JBS não resistiu. Morreu sábado e foi sepultado domingo, sem o protocolo de biossegurança aplicável ao sepultamento de quem morreu de Covid-19. O caixão não foi lacrado e houve um velório de duas horas com a participação de familiares e amigos que puderam se despedir dele.
Com base em nota técnica da Secretaria Estadual de Saúde, a Secretaria Municipal liberou os ritos funerários porque já haviam transcorrido os primeiros 20 dias do aparecimento dos sintomas da doença, quando não há mais o risco de transmissão do vírus.
Pelas redes sociais familiares e amigos reagiram indignados com a notícia (que teve como fonte o boletim da Secretaria Municipal de Saúde) de que o morador do Quebra Coco, de 33 anos, morrera de Covid-19, o 56º óbito registrado no município. Houveram até comentários de que a divulgação era parte de uma armação midiática para a Prefeitura receber recursos adicionais do Governo Federal.
A esposa de Valdinei garante que durante o período de internação não recebeu nenhuma informação dos médicos de ele ter sido contaminado, provavelmente no ambiente hospitalar. Por enquanto, ninguém da família foi testado, nem teve qualquer sintoma de Covid-19.
A letalidade da pandemia em Quebra Coco, desproporcional ao tamanho da população do distrito (estimada em 2 mil habitantes, nem toda residente no núcleo urbano, mas espalhada por chácaras e fazendas das redondezas), é atribuída pelas autoridades sanitárias as aglomerações dos finais de semana e feriados, quando muita gente (basicamente jovens) vai para a localidade dançar, beber e fazer manobras radicais nas ruas do distrito. O grande atrativo é que o posto da Polícia Militar está fechado há muito tempo e a corporação não tem efetivo suficiente na área urbana, a 35 km para fazer rondas por lá.
Os jovens, a maioria assintomáticos, acabam contaminando os pais e avós, que praticamente só ficam em casa. Um dos 5 moradores do Quebra Coco que até aqui morreu de Covid-19 foi o senhor Anacleto, de 82 anos, que faleceu no último dia 12 no Hospital Regional, para onde foi transferido 48 dias com o agravamento do seu estado. Tinha uma saúde frágil, era hipertenso.
Segundo informações apuradas pela reportagem, foi levado para o hospital em Sidrolândia porque aparentemente havia estourado a úlcera. Um dos seus netos, ao testar positivo no dia seguinte a morte do idoso, quando uma equipe da Saúde fez mutirão de testagem no distrito, foi aos prantos se culpando pela morte do avô.
Dona Fátima, 63 anos, que também entrou na estatística fúnebre da pandemia, se tratava de um câncer. Com problemas respiratórios, ela foi internada dia 28 de janeiro no Hospital Regional em Campo Grande e faleceu dia 10 de fevereiro.
Já o homem de 55 anos, outro morador do Quebra Coco, a entrar na estatística como 41º óbito por Covid-19 em Sidrolândia, morreu no último dia 6 no Hospital Regional, após quase um mês de internação. Era cadeirante e tinha cirrose.
Primeiro óbito
Dona Cícera Aparecida, 61 anos, moradora do Quebra Coco, oficialmente foi a primeira pessoa (a 26ª no Estado) a morrer de Covid-19 em Sidrolândia. Ela foi levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) com quadro respiratório agudo. Faleceu no mesmo dia (7 de junho do passado), após receber atendimento no Hospital Elmíria Silvério Barbosa para onde foi levada.
O diagnóstico de que contraiu o novo coronavírus saiu 4 dias depois, em 11 de junho. Fumante durante 40 anos, tinha pressão alta e a obesidade, como comorbidades. Dias antes da sua morte, dona Cícera foi três vezes ao posto de saúde do distrito com sintomas do que parecia uma gripe forte.
Não foi submetida ao teste do Covid-19, que na época eram escassos na rede pública. O teste rápido que fez no hospital, deu falso negativo. A confirmação do diagnóstico para Covid-19 só veio 4 dias depois de já ter falecido, com o resultado do teste do cotonete, em que se coleta amostra da mucosa do nariz.
Foi feito um feito um bloqueio epidemiológico, 40 pessoas orientadas a ficar em quarentena.
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