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Sidrolandia

Família cobra assistência contra droga

A mãe citada acima procurou a reportagem para relatar o drama enfrentado pela família

Dourados Agora

02 de Setembro de 2010 - 15:11

A cidade de Dourados não está preparada para acolher e oferecer o tratamento adequado a dependentes químicos. A constatação é de uma mãe, que preferiu não ter o nome divulgado, e que há três anos enfrenta uma verdadeira batalha para tentar livrar a filha de 17 anos das drogas.

A falta de estrutura local é uma constatação dos próprios organismos de assistência, como a Secretaria de Assistência Social e o Conselho Municipal Anti-Drogas. Hoje, o único tratamento é oferecido pelo Centro de Atendimento Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD), que também não suporta toda a demanda. O projeto para construção de um centro de orientação e aconselhamento e residência terapêutica já foi elaborado, mas depende de aprovação e recursos da Secretaria Nacional Anti-Drogas.

A mãe citada acima procurou a reportagem para relatar o drama enfrentado pela família. A mãe, que é professora, conta que a filha se envolveu com drogas e a família não sabe mais como agir. “Ela sai de casa e chega a passar até uma semana fora. Quando volta, está estressada, revoltada e muito nervosa. Não sabemos mais o que fazer”, diz ela.

A professora reclama que já recorreu a todos os organismos de segurança e assistência, como Guarda Municipal, Polícia Militar e Conselho Tutelar. Mas, segundo ela, a família nunca recebeu recomendação sobre o que fazer pela recuperação da adolescente. “Ninguém nunca me orientou sobre o que fazer. Até no neurologista já levei minha filha, estamos todos desesperados. Se não fizer nada, vejo que vou perder minha filha para o mundo”, diz ela. Segundo a professora, a família já recorreu à polícia diversas vezes, seja por fuga de casa ou violência provocada pela adolescente nas ruas. Ainda segundo a mãe, a filha não admite o uso de entorpecentes, apesar de todas as evidências, e não aceita qualquer tipo de tratamento.

TRATAMENTO

Procurada pela reportagem, a secretária municipal de Assistência Social, Itaciana Pires Santiago, disse que, em Dourados, não há clínicas para internação de pessoas do sexo feminino. Neste caso, segundo ela, a família deve recorrer ao Caps AD, que oferece orientação e atendimento de assistência social, psicologia e terapia ocupacional. Segundo ela, quando há aceitação de paciente, o trabalho pode ser feito em parceria com o Centro de Referência em Assistência Social (Cras), onde há oficinas e o projeto Família em Movimento, com atendimento psicossocial dos familiares. “Sabemos que existe um grande número de famílias nesta mesma situação. É uma situação assustadora e uma problemática que bate todos os dias à nossa porta”, diz ela.

A conselheira tutelar Maria de Fátima Medeiros disse ao O PROGRESSO que, nestes casos, o Conselho Tutelar faz o encaminhamento do menor ao Caps AD. Segundo ela, durante a triagem, os profissionais podem optar, ainda, por uma internação para desintoxicação no Hospital Universitário. “Mas para tudo isso é preciso que o adolescente aceite que tem o vício e o tratamento”, diz ela.

Segundo Maria de Fátima, nos casos em que não há aceitação por parte do usuário, o caso é encaminhado ao Ministério Público Estadual, que pode acionar a Justiça solicitando uma medida de proteção, como a internação em qualquer clínica do Estado. No entanto, ela mesma admitiu que a única clínica que recebe menores para internação é o Centro Recomeçando, em Campo Grande, que acolhe apenas pessoas do sexo masculino.

O problema enfrentado pelos familiares de usuários de drogas em Dourados foi comentado em recente entrevista pelo promotor Amílcar Araújo Carneiro Junior, que é presidente do Comad. Na ocasião, ele admitiu que a maior dificuldade está no encaminhamento destes menores, já que o Caps AD, único tratamento disponível no município, não tem capacidade de atender a toda a demanda. “A família fica impotente e sem orientação. Droga, hoje, é uma questão de saúde pública”, afirmou.