Política
STF decide nesta quarta se atos pró-maconha são legais
A PGR pede que o STF faça uma nova interpretação do artigo do Código Penal que permite decisões nesse sentido.
G1
15 de Junho de 2011 - 08:22
O Supremo Tribunal Federal (STF) deve decidir nesta quarta-feira (15) se a lei garante aos cidadãos o direito de realizar manifestações em favor da descriminalização do uso de drogas.
Os ministros vão julgar uma ação proposta pela Procuradoria-Geral da República (PGR) que pede a liberação de manifestações e eventos públicos, como as marchas que defendem a legalização do uso da maconha.
No pedido, que tramita no STF desde julho de 2009, a vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat, argumenta que os juízes usam o argumento equivocado de que as manifestações seriam apologia ao crime e estímulo ao uso de drogas.
A PGR pede que o STF faça uma nova interpretação do artigo do Código Penal que permite decisões nesse sentido. A intenção é garantir o direito constitucional de exercer a livre manifestação de pensamento, o que, segundo a procuradora-geral, é um pressuposto para o funcionamento da democracia.
Uma das entidades que entrou como parte no processo para defender a legalidade das manifestações, a Associação Brasileira de Estudos Sociais do Uso de Psicoativos (Abesup) pediu que na mesma ação o STF analise a liberação do cultivo doméstico da planta da maconha e seu uso para fins medicinais e religiosos.
Segundo o ministro aposentado do STF Carlos Velloso, esse pedido ultrapassa o papel da entidade e o assunto que é debatido no processo.
A finalidade da medida é simplesmente ser permitida a manifestação. Agora, entra a entidade e pede um plus. Penso que não deve ser admitido o pedido que vai alem do objeto da ação, da medida judicial em discussão, afirmou Velloso.
Apesar dos precedentes do STF em defesa da liberdade de expressão, o ministro Velloso afirma que, em alguns casos, interpretar a norma significa mudar o sentido da lei, o que é tarefa do Congresso.
O STF extrapolaria. Isso depende de lei, depende de manifestação do Congresso. Fazer valer princípios a torto e à direito seria adotar a escola do direito livre, que não passa do direito alternativo, o que bons juízes condenam, afirmou Velloso.
No mês de maio, a Justiça proibiu as marchas em pelo menos 9 capitais. No último dia 3 de junho, depois de vetada, a Marcha da Maconha do Distrito Federal acabou virando um protesto pela liberdade de expressão que atravessou a Esplanada dos Ministérios até a Praça dos Três Poderes, em frente ao STF.
Mesmo com a proibição da Justiça, os manifestantes expressaram sua opinião sobre o assunto com palavras de ordem, como: STF cadê a liberdade de expressão e tráfico não, legalização sim.
Para outro ministro aposentado do STF Sepúlveda Pertence, a Constituição Brasileira é clara ao defender o direito de que as pessoas se reúnam para discutir mudanças na legislação vigente, sem que sejam acusadas de apologia ao crime,
Ele comparou as manifestações com a atitude do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, que defende a descriminalização das drogas. Para Pertence, de forma individual ou em grupo, o direito à liberdade de manifestação deve ser preservado.
Outras pessoas falam disso [descriminalização da maconha], como o ex-presidente [Fernando Henrique Cardoso], porque estão exercendo essa liberdade particularmente. Individualmente ou em manifestação pacífica, a meu ver, pela Constituição é mesma coisa, afirmou Pertence.