Política
Suplente que pode assumir vaga de Marisa causou prejuízos milionários em MS
Russo é dono do frigorífico Independência, que entrou em recuperação judicial em 2009, deixando uma enorme lista de credores às portas do Judiciário, até hoje.
Midiamax
25 de Abril de 2011 - 17:55
A suposta manobra do governador André Puccinelli (PMDB) para fazer a Assembleia Legislativa nomear a senadora Marisa Serrano, do PSDB, para o cargo de conselheira do TCE-MS, pode transformar o empresário Antonio Russo Netto no mais novo senador do MS no Congresso Nacional.
Russo é dono do frigorífico Independência, que entrou em recuperação judicial em 2009, deixando uma enorme lista de credores às portas do Judiciário, até hoje.
No meio político regional, se vê a nomeação de Marisa Serrano para o TCE como uma jogada do governador Puccinelli, para supostamente abrir caminhos nas próximas disputas eleitorais e ainda ensaiar uma aproximação com Dilma após as eleições, quando ele apoiou José Serra em MS.
Para isso, o governador estaria mexendo peças dentro do PSDB, partido que até o começo de abril falava em lançar candidato ao pleito de 2012, tendo a senadora como um dos nomes possíveis de entrar na disputa.
Além disso, comenta-se que o governador também almeja uma vaga na disputa pelo Senado em 2014, e Marisa Serrano não estararia no páreo, dividindo votos.
Empréstimos milionários
Na época da derrocada do Independência, pecuaristas, investidores e bancos levaram um choque com a notícia porque acreditavam que o caixa da empresa seria de R$ 700 milhões. Em novembro de 2008, o Independência recebera R$ 250 milhões do BNDES, através do BNDESPar, a empresa de participações do banco. Outros estabelecimentos bancários concederam financiamentos ao frigorífico de US$ 300 milhões - em maio de 2008 - e de US$ 110 milhões - em fevereiro de 2009.
Suplente diz que não participava da direção do frigorífico,
mas documentos oficiais revelam o contrário
Quando perguntado sobre a quebra do Independência, Antonio Russo Netto sempre alega distanciamento da direção da empresa. Ele joga o problema para cima dos próprios filhos, Miguel e Roberto, dizendo que os dois é que tomavam decisões no frigorífico como diretores principais.
Mas, informações legais põem em dúvida a afirmação de Russo Netto. Primeiro, na sua própria declaração de bens, como candidato a suplente de Marisa, em 2006, aparecem cotas do Independência no valor de R$ 47.9 milhões, em um patrimônio pessoal de R$ 52 milhões:
- "Declaração de bens do candidato a 1º Suplente Senador - MS Antonio Russo Netto"
- "1 - 5.5000.000 COTAS DE CAPITAL SOCIAL DA EMP. INDEPENDÊNCIA ALIMENTOS LTDA, CNPJ: 02862776/0001-46, SENDO 55.000 PERTENCENTES A ESPOSA NEUZA G. RUSSO, CPF: 160.846.788-07 (DECLARAÇÃO EM SEPARADO)EM 2 R$ 47.900.000.00".
Depois, no primeiro plano de recuperação judicial, havia uma cláusula estipulando que "após a aprovação do Plano Consolidado em AGC(Assembléia Geral dos Credores), deverão ser suspensas todas as ações de cobrança, monitórias, execuções judiciais ou qualquer outra medida judicial ajuizada contra o Independência, Nova Carne e/ou seus respectivos sócios, inclusive os Sócios Controladores e respectivos cônjuges, o Sr. Antonio Russo Netto e respectivo cônjuge'.
E há mais. Na lista de trabalhadores do frigorífico, com débitos a receber, o nome de Russo aparece ao lado de uma das maiores cifras indenizatórias, R$ 359.344,26. A lista foi publicada na terça-feira, 2 de Junho de 2009, no Diário da Justiça Eletrônico - Caderno Editais e Leilões São Paulo, Ano II - Edição 485, na página n° 266.
Recuperação judicial do Independência
pegou credores e investidores de surpresa
Para surpresa dos pecuaristas do MS que acreditaram no Independência, em fevereiro de 2009 o frigorífico anunciou a paralisação da unidade de Campo Grande, com 400 demissões e, na sequência, pararam os abatedouros de Nova Andradina e Anastácio. Segundo a Famasul, Federação de Agricultura e Pecuária do MS, na época a dívida com os 600 pecuaristas do estado era de R$ 50 milhões.
Em seguida, a matriz do Independência entrou com o pedido de recuperação judicial na comarca de Cajamar, interior de São Paulo, em 27 de março de 2009, véspera do carnaval. O pedido não foi aceito por falta de documentos.
Reportagem do jornal Estado de São Paulo noticiou que "a decisão de entrar em recuperação judicial foi tomada para a companhia se proteger dos credores não financeiros - os pecuaristas teriam menos paciência para renegociar as dívidas, segundo pessoas próximas ao frigorífico."
O caso se estendeu até que, em setembro de 2010, o Independência decidiu pela suspensão de todos os pagamentos aos pecuaristas e demais fornecedores por dois meses do Brasil inteiro e da unidade no Paraguai.
No dia 13 de outubro de 2010, o frigorífico informou ao mercado a suspensão das atividades produtivas devido à baixa utilização da capacidade instalada. Até ai, muitos trabalhadores já tinham perdido seu emprego no país. A dívida total era superior a R$ 3 bilhões, segundo informações do plano de recuperação judicial, em 2010.
Negociações e processos de credores ainda estão em curso
A dívida está em negociação até hoje. No último dia 3 de março, o Independência apresentou, mais uma vez, seu plano de recuperação judicial, aprovado pela Assembléia dos Credores. Para se ter uma idéia do curso das negociações, o termo se chama "Proposta de Modificação ao Plano Revisto". A proposta foi aprovada por 51,8% dos credores, depois de nove horas de discussão.
Pela proposta, um leilão judicial colocará à venda os ativos do frigorífico no país, avaliados em R$ 700 milhões. A unidade de Campo Grande, denominada fazenda Botas, área B, está orçada em R$ 44.699.314,00.
Outras unidades pelo país, mesmo em locais remotos, estão listadas, sempre com altos valores.
Família Russo sempre deu esperanças aos pecuaristas
Dias antes do pedido de recuperação judicial, contraditoriamente, a direção da empresa divulgara uma nota dizendo que o Independência se mantém fortemente compromissado em continuar suas atividades e manter suas relações comerciais com seus clientes e fornecedores, à medida em que procura adequar suas operações ao ambiente econômico atual.
Um ano antes da crise, em 2007, numa entrevista à revista Nelore, Antonio Russo Netto falava como presidente do grupo e mentor de suas estratégias, estimulando o pecuarista de MS a acreditar no mercado local:
- "Revista Nelore: Essa sinalização de abate pode resultar em investimentos de novas leiloeiras de gado de corte na capital? A dinâmica muda o comércio do gado em pé no estado? Podemos, por exemplo, deixar de exportar esse tipo de bovino para São Paulo?
Antônio Russo: Os custos irão fazer com que tudo seja canalizado para os frigoríficos daqui. Tudo indica que a comercialização será alterada, mas isso é mercado, é oferta e procura. São Paulo vai ter muita dificuldade, até porque suas indústrias estão sendo deslocadas para o norte e centro-oeste."
O texto aprovado estipula o prazo de 30 dias, contados a partir da data da homologação da modificação do plano, para a publicação de um edital do leilão dos ativos do frigorífico.
Segundo o pecuarista Léo Brito, da comissão de negociação da Famasul, que estava na reunião, parte das dívidas de até R$ 100 mil foi paga aos pecuaristas.
"Aqui no MS, o frigorífico devia R$ 42 milhões, faltam ainda cerca de R$ 17 milhões. Para a maior parte dos produtores, a expectativa era receber R$ 150 mil. Nós recebemos R$100, o que atingiu a totalidade de crédito de 75% dos produtores.Para alguns grandes produtores, com dívidas de até R$ 11 milhões, está difícil receber, mas a maioria absorveu o prejuízo. Só ficaram em situação difícil aqueles produtores que venderam a totalidade do gado que tinham", explicou.