Com 15% dos assentados, Sidrolândia fica só com 0,96% dos financiamentos do Pronaf

Levantamento divulgado nesta semana pela Famasul (Federação da Agricultura de Mato Grosso do Sul) mostra que ano passado 3.800 pequenos produtores sul-mato-grossenses contrataram R$ 217,8 milhões em financiamento do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). Houve incremento em relação a 2022, quando 3.200 assentados contrataram R$ 190, 2 milhões.

Embora estejam em Sidrolândia 15% dos assentados de Mato Grosso do Sul, dos 4.253 pequenos produtores, só 67 contrataram financiamento para investir na compra de implementos usados na produção, captando. R$ 2.100.213,75, o que corresponde a 0,96% do total contratados para investimento  nos 204 assentamentos existentes no Estado. O resultado foi pior que o de 2022, quando 72 produtores contrataram R$ 2.374.011,34. Mesmo depois da titulação de 1.316 lotes, não cresceu a captação de financiamentos.

A explicação para este resultado pífio tem várias nuances, revela Valdecir Souza, que se dedica à fruticultura no Assentamento Santa Terezinha. "Um dos fatores é que boa parte dos lotes estão arrendados para o plantio de soja e milho ou os próprios donos estão plantando. Dos 64 lotes, em apenas 5 não há lavoura de grãos. Um grande produtor já comprou sete e está disposto a pagar até R$ 1 milhão para quem tiver interesse em vender as parcelas de 25 hectares".

Valdecir diz que o pequeno produtor muitas vezes desiste de buscar financiamento porque o processo de contratação é lento, podendo demorar até 7 meses. Conheço assentados que fizeram todo a tramitação e na hora da liberação o banco alegou que tinha de esperar a disponibilidade de recursos para a agência de Sidrolândia”. Ele próprio passou por esta situação quando recorreu ao banco para compra de uma plantadeira e de um pulverizador. Comprou a plantadeira em São Paulo e adquiriu um equipamento de pulverização usado.

Valdecir passou por parte da infância acompanhando a família em acampamentos, segundo ele, a maioria dos filhos dos assentados foi para cidade estudar e não voltou para o campo. Ficaram os pais, hoje com mais de 60 anos, que se não fosse o arrendamento teriam apenas a aposentadoria de um salário mínimo como fonte de renda. Atualmente 45% dos assentados, 2.050 famílias têm renda de até três salários mínimos (R$ 4.236,00), estão no cadastro único, em 2021, era 1.650 nesta faixa de renda. Entre os inscritos Cadúnico, 597 (16%) recebe o bolsa família com benefício médio de R$ 667,16.

Júlio Cristaldo, que em maio de 2021 foi o primeiro assentado de Sidrolândia a receber o título de propriedade do então presidente Jair Bolsonaro, há 5 anos planta soja e milho no seu lote no Eldorado 2 e arrenda outras parcelas vizinhas que somam 50 hectares de lavoura. Cristaldo se associou a Cooperalfa que lhe fornece a semente e os insumos, pagando com produção. Cada assentado parceiro recebe 12 sacas por hectare, o que garantiu uma de R$ 10 mil, considerando uma lavoura de 7 hectares com a saca de soja cotada a R$ 120,00.