Sidrolândia
Trabalhadores indígenas querem voltar ao trabalho para ter salário integral
Flávio Paes/Região News
24 de Janeiro de 2021 - 21:12
Por ampla maioria, os 357 trabalhadores indígenas da JBS, alguns afastados do serviço desde março por causa da pandemia, querem voltar a cumprir expediente. Reunidos em assembleia promovida pelo Sindicato, eles rejeitaram a proposta da empresa de adoção do chamado lay office, que suspenderia por três meses seus contratos de trabalho e neste período eles receberiam uma bolsa de qualificação profissional paga pelo Governo Federal, equivalente a 70% das suas remunerações, algo em torno de R$ 826,00, menos que um salário mínimo, R$ 1.100,00.
Os trabalhadores continuariam a receber cesta básica e ter o plano de saúde, mas os custos seriam descontados dos seus salários quando o contrato de trabalho fosse restabelecido. Em contrapartida teriam de fazer um curso de qualificação. Perderiam um trimestre de recolhimento do INSS, além de 1/3 avos das férias, 13º e não receberão a participação dos lucros em 2022, paga em abril, o que corresponde a um 14º salário.
A decisão dos trabalhadores será comunicada nesta segunda-feira à direção da empresa e ao Ministério Público do Trabalho, que é contra a volta ao trabalho dos indígenas que já estão sendo vacinados. É o caso de Francineilla da Silva, de 28 anos, funcionária da JBS há 10 anos. Ela mora com a mãe na Aldeia Nova Tereré e desde março está em casa, recebendo o valor integral do salário (R$ 1.180,00), 30% pago pela empresa e 70% bancado pelo governo federal, benefício encerrado em 31 de dezembro. Nos últimos dois meses enfrentou dificuldades porque a parcela da remuneração tem atrasado. Com os R$ 354,00 que recebeu da empresa teve de deixar a caçula, de 6 anos, residente no Assentamento Geraldo Garcia, para reduzir as despesas.
Na semana passada foi depositado na sua conta R$ 600,00. Ela teve mais sorte sua amiga Valéria, que há uma semana recebeu os benefícios de novembro e dezembro. Quem está ansioso pela volta ao trabalho é Agemilsom Marques, que ainda não recebeu a parcela de 70% do salário referente a janeiro. Ele paga aluguel, tem um filho especial com paralisia cerebral que precisa de acompanhamento médico mensal em Campo Grande. Recorre ao Sindicato para conseguir abastecer o carro e viajar até a Capital, em companhia da mulher para a consulta do filho.
Situação complicada é a enfrentada pelos 130 trabalhadores do grupo de risco para o novo coronavírus. Eles não têm a alternativa (já que por enquanto não serão vacinados). O Sindicato vai tentar convencer a empresa uma versão mitigada do lay office, em que não perderiam os direitos trabalhistas nos 90 dias de vigência da modalidade.